Abri meus olhos, aos poucos, incomodada com a claridade que vinha pela minha janela. Tudo indicava que aquela seria uma manhã como qualquer outra, tirando o fato de minha cabeça estar muito dolorida parecia até que tinha levado uma forte pancada.
Virei para o lado na cama pensando em ficar nela por mais alguns minutinhos, mas infelizmente meus planos não deram muito certos já que meu celular começou a tocar sem parar. De inicio pensei que fosse meu despertador, mas só então percebi que tinha alguém me ligando. E para a minha sorte era o meu ex-namorado que vive vindo atrás de mim. Não é que eu não goste dele, mas simplesmente não o vejo como algo a mais que um amigo, além de alguns outros probleminhas que tivemos.
Enfiei meu rosto debaixo das cobertas enquanto esticava minha mão a procura do telefone celular que deveria estar perdido no criado mudo ao lado da cama. Demorei um pouco para encontrar o aparelho e por sorte assim que o peguei em mãos ele parou de tocar, o trouxe para debaixo da coberta o ligando para verifica as horas, mas não tive tempo de conferir já que ele voltou a tocar. Bufei irritada resolvendo atender aquela ligação, que pelo visto não me deixaria em paz.
―Alô? ―Minha voz estava entregando que tinha acabado de acordar.
―Você está viva! ―Ele nem mesmo tentou disfarçar a alegria, o que eu achava um pouco fofo. ―Estou tentando falar com você desde ontem, mas nunca me atende.
―Desde ontem? Mas ontem você veio aqui em casa... ―Se não me falha a memoria Sakamoto e a irmã dele vieram me visitar e passaram a tarde toda aqui comendo dos famosos biscoitos de açúcar do meu pai.
―Elae, nós fomos te visitar antes de ontem, você está sem dar sinal de vida a um dia inteiro.
Naquele momento fiquei paralisada, não pelo fato de eu ter aparentemente ficado um dia sem falar com o Sakamoto, mas sim porque minha memoria estava confusa. Aos poucos ia me lembrando do sonho que tive essa noite onde duas criaturas estranham atacavam meus pais, mas... Aquilo me parecia tão real para ser um simples sonho. Fiquei perdida em meus pensamentos até que o grito de meu amigo me trouxe de volta.
―Elae!! Está me ouvindo? Aconteceu alguma coisa com você? Estou indo na sua casa agora mesmo. ―Ele nem me deu tempo de responder desligando o telefone, e o conhecendo da forma que conheço já deve estar na metade do caminho.
Estava me sentindo um pouco atordoada muitas coisas se passavam em minha mente que ficava impossível raciocinar direito. A melhor ideia no momento seria me sentar na cama e talvez tomar um pouco de água, virei para o lado me deparando com uma garrafa vazia, que sorte teria que ir até a cozinha. Ao me levantar verifiquei o horário no celular me assustando ao ver que já era hora do almoço, por sorte minha mãe já estaria finalizando a comida.
Quando fui levantar da cama senti uma tontura que fez tudo rodar e quase cai no chão, consegui evitar uma queda me apoiando no colchão. Fechei os olhos e contei até dez, dei o primeiro passo ainda de olhos fechados com medo de abrir eles e sentir a tontura novamente. Minha fama era de ser um pouco atrapalhada, então para evitar algum acidente resolvi abrir os olhos, o resultado com eles fechados seriam piores. Esperei parada, mas não tive nenhuma nova tontura então segui para fora do quarto.
A casa estava estranhamente silenciosa, e quando digo estranha é porque se fosse como qualquer outro dia meus pais estariam conversando e rindo alto, pelo horário o rádio estaria ligado e eles provavelmente não me deixariam dormir até tão tarde assim. "Talvez eles estejam dormindo também?" pensei enquanto seguia com cuidado até o quarto deles, a porta estava aberta então pude ver a decoração simples que eles gostavam; as paredes eram em um bege bem claro, o chão era de madeira, tinha um armário branco, dois criados mudos um para cada da mesma cor do armário, uma cortina azul clara e a cama de madeira também na cor branca, ela estava desarrumada e minha mãe nunca deixava a cama daquele jeito. Por algum motivo ao olhar para o quarto deles me lembrei do sonho estranho que tive na última noite.
"Por favor, Elae, aquilo foi apenas um sonho." fiquei repetindo essa frase algumas vezes em minha mente, mas o silencio na casa me assustava, meu coração começou a ficar acelerado, minha visão ficou turva, eu iria desmaiar.
Estiquei minha mão direita para que pudesse me apoiar na parede, tomando um pouco de ar antes de continuar andando. Não iria resolver nada se eu ficasse parada pensando no pior.
Com cuidado para não cair, desci as escadas que levavam a nossa sala que assim como o resto da casa era bem simples. Nela tinha um sofá pequeno e marrom, com duas almofadas amarelas em cima – minha mãe as adorava – um tapete bege em frente ao sofá, uma pequena estante onde tinha uma foto nossa de quando eu estava no fundamental e um vasinho de cerâmica branco vazio e claro uma televisão pendurada na parede, tínhamos trocado ela recentemente.
Fiquei cerca de dois minutos parada olhando para a foto, nela meus pais sorriam animados. A foto foi tirada depois de uma competição de natação onde fiquei em quarto lugar, eu estava brava por não ter ficado entre os três primeiros, mas eles estavam felizes apenas por eu ter conseguido finalizar a prova. Aquela foto me dava uma sensação de tranquilidade, parecia acalmar o meu coração preocupado.
Estava perdida em meus pensamentos quando um aroma me despertou, era um cheiro de bacon frito, que era o meu favorito. E esse cheiro me fez sorrir igual uma criança feliz, isso significava que estava tudo bem e eu não precisava me importar. Provavelmente meu pai saiu cedo para algum trabalho, e minha mãe acabou dormindo até mais tarde, e por isso não teve tempo de arrumar a cama ainda.
Com um largo sorriso no rosto caminhei quase saltitando para a cozinha, mas é como dizem "nem tudo é o que parece ser". Congelei na porta, toda minha alegria tinha ido embora e agora eu estava assustada e preocupada, um homem talvez da mesma idade que eu estava parado em frente ao fogão, era ele quem fritava alguns bacons. De inicio eu pensei ser algum primo meu, mas o reconheceria se fosse, ou talvez Sakamoto tivesse chegado, mas não fazia tanto tempo desde a sua ligação e este homem era mais alto do que ele.
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