Quando acordei, o cheiro de whisky ao meu lado era forte. Rafael, um cara que eu jurava que ia vomitar as próprias tripas durante a madrugada tinha suas mãos em minha cintura. O corpo dele estava colado no meu, uma de suas pernas por cima das minhas, eu podia sentir o hálito quente dele em minha nuca e não sabia se isso era algo bom ou ruim.
Eu o queria longe, aquele cara era problemático de mais para mim, mesmo que eu estivesse atraído por sua aparência (tanto que havia um pequeno problema em minhas calças). Mas ao mesmo tempo o queria perto, ele parecia ser aquele príncipe encantado dos livros infantis, realmente boyfriend material.
Viro para encarar o homem me abraçando e começo a empurra-lo, fazendo-o acordar. "Pervertido, quem te autorizou a dormir de conchinha?" Pergunto em tom acusatório e logo ele solta, como se com medo de que eu o agredisse.
Levanto e desço as escadas do loft, dirigindo-me para o banheiro. Ao entrar, tranco a porta atrás de mim, suspirando pesadamente e me despindo. Entro no chuveiro, ligando a água fria e, para meu desespero, aquilo não surte efeito algum na ereção, xingo baixo e levo a mão direita até meu membro para tentar aliviar a pressão. Quando saio do banho vejo Rafael sentado em meu sofá, esperando.
"Está tudo bem?" Ele pergunta parecendo tenso. "Noite passada nós...?"
"Não." Falo frustrado, que tipo de pessoa ele achava que eu era? "Você ficou agarrado em mim a noite inteira, pelo menos enquanto não estava agarrado no vaso vomitando. Eu teria te dado banho, mas depois da terceira vez que vomitou você dormiu feito pedra e eu não tenho tanta força assim." Eu ri e resolvi provocar pra quebrar a tensão do clima. "Não se deve agarrar estranhos na madrugada, pervertido."
"Também não se deve levar estranhos para casa, mas cá estou eu." Tive de rir mais diante da refuta dele, realmente, eu era um tonto, mas ele era mais ainda.
Não me arrependia nem um pouco de tê-lo levado até ali, mas era a primeira vez em muitos anos que acordava com alguém ao meu lado. Relaxei um pouco minha expressão e dirigi-me à cozinha para começar a preparar o café da manhã. Ignorando os olhares fixos de Rafael, arrumei a mesa de forma simples, em seguida ligando a cafeteira.
"Pode tomar um banho depois de comer se preferir, mas saiba que está fedendo a bebida." Comentei enquanto passava dois expressos.
"Desculpe, deve ser desagradável." O rosto vermelho de vergonha que ele sustentava agora fazia com que eu considerasse perdoar o incidente de noite passada.
"Coma algo, tome um banho e relaxe, Rafael." Entreguei uma caneca para ele. "Vai ajudar com a ressaca, e não se preocupe, não estou querendo te expulsar." Digo simplesmente, escorando meu quadril na bancada com uma caneca de café em mãos.
"Desculpe te agarrar daquela forma, eu fui um completo estúpido e o fato de ter bebido além do meu limite não é desculpa." Ele baixou o olhar, parecendo concentrado nos amassados de suas roupas. "Seria melhor eu ir embora."
"Olha, estou acostumado com caras tentando me agarrar, só não achei que você fosse fazer esse tipo de coisa." Comecei a beber meu café tranquilamente. "Imaginava que você fosse mais certinho." Eu disse em um tom de provocação, torturá-lo um pouco seria minha revanche.
"Realmente sinto muito, geralmente meu bom senso fala mais alto do que o álcool." O fato dele estar olhando em meus olhos ao dizer aquilo, fez com que eu pudesse sentir a sinceridade em suas palavras, realmente, aquele cara ia acabar me deixando completamente maluco. "Ofender ou magoar você eram minhas últimas intensões, Jade."
"Ah, nisso eu acredito." Eu ri. "Suas intensões eram um pouco mais maliciosas do que meus sentimentos, você me queria na cama."
Ele poderia ser confundido com um tomate nesse ponto da conversa, cada uma de minhas palavras parecia fazer o rosto dele adquirir um tom mais escuro de vermelho. "Eu... não posso negar isso." Ele fala, vencido, balançando a cabeça de um lado para o outro como se não pudesse acreditar em si mesmo.
"Uhum... Agora que tal curarmos sua futura ressaca e colocarmos um pouco de comida no seu estômago e no meu?" Termino meu café e deixo a xicara sobre a pia, pensando em algo para comer. "Que tal tapioca?"
"Gostaria de te compensar pelo desastre da noite passada."
Ergui uma sobrancelha. "Como assim 'compensar'? Não é como se estivéssemos num encontro formal noite passada."
"Um jantar, minha casa, você está fazendo o café da manhã nada mais justo que eu faça um jantar pra você." Ele deu um leve sorriso. "Meu irmão vai estar lá e comprei um ótimo vinho alguns dias atrás."
"Jantar?" Olhei Rafael nos olhos. "E eu deveria aceitar? Quem me garante que não está mentindo?" Eu não estava realmente desconfiado, só queria testá-lo e também provocá-lo mais um pouco.
"Vai ter de confiar em mim." Ele sorriu abertamente e eu senti uma extrema vontade de beijar aqueles lábios.
"Certo, mas vai ser um almoço, não um jantar."
"Você que manda." Ele diz, erguendo as mãos em rendição.
"Deixei uma toalha pra você no banheiro, tome um banho enquanto eu cozinho." Ele levanta de imediato e deixa a xícara na pia, seguindo para o banheiro como se estivesse somente esperando que eu o pedisse para ir.
Liguei o rádio em um volume um pouco alto assim que ouvi a porta do banheiro fechar e comecei a preparar o café. Rafael demorou no banho o tempo de duas músicas no banho e só percebi que ele estava me observando quando girei para colocar o prato dele sobre a mesa. Ele estava só de toalha com o cabelo pra trás e os braços cruzados com o sorriso mais cara de pau que eu já havia visto. Xinguei mentalmente a barriga definida dele e os bíceps flexionando levemente, era tortura.
"Eu não queria atrapalhar, mas será que pode me emprestar roupas?"
"Minhas calças vão ficar pequenas em você, mas não me importo em emprestar." Consegui dizer com alguns segundos de delay.
Subimos para o loft e eu comecei a procurar algo que servisse nele sem muitos problemas. Rafael devia ser cerca de dez centímetros mais alto e provavelmente tinha mais massa muscular do que eu.
"O que você faz da vida, Rafa?" Perguntei enquanto pegava uma cueca, uma calça de moletom (pois seria a única das minha que fecharia nele e não ficaria curta de mais) e uma regata.
"Sou advogado." Ele sorri ao pegar as roupas e eu prontamente me viro em direção as escadas para descer.
Esquento as tapiocas no micro-ondas e espero que ele desça também para poder começar a comer. O café da manhã acabou por ser bastante tranquilo, fazendo com que eu ansiasse por nosso almoço no dia seguinte assim que o vi sumir de meu campo de vista.
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