―Ian, certo? ―Ele concordou. Juntei minhas mãos e as apertei nervosa. ― Você esta dizendo que... Tudo o que aconteceu, dois dias atrás, foi real? Aquelas duas criaturas estranhas realmente atacaram minha família?
―Pelo visto você se lembra de tudo o que aconteceu e pelo o que pude presenciar, antes de você desmaiar, conseguia ver a verdadeira forma deles, não é? ―Estava tentando raciocinar tudo o que ele dizia, não eram palavras difíceis, mas eram coisas complicadas de se entender e por ser assim apenas concordei com a cabeça. ―Como você já deve imaginar eles não eram humanos.
―Como? Para mim o que eu vi foi alguma ilusão devido ao medo que estava sentindo no momento. ―Este homem dizia coisas absurdas demais, nem mesmo eu poderia acreditar.
―Ilusão? Eu entendo que eles queria te proteger durante estes anos todos, mas eles tinham a obrigação de te contar a verdade! No caso de algo acontecer, como aconteceu, o que você faria se estivesse sozinha?
Ele levou as duas mãos até os cabelos e os bagunçou, mais do que já estavam, bufando logo em seguida, virou seu corpo de lado e pegou um pedaço de bacon para comer.
―Ce-certo, vamos supor que o que tenha me dito é mesmo verdade e se eles não eram humanos, o que eles eram? E o que fizeram com os meus pais? ―Puxei o prato de bacon para minha frente para que pudesse comê-los, mesmo que a conversa estivesse tirando meu apetite aos poucos, era bacon ali e eu amava bacon. Ian respirou fundo e virou a cabeça para me olhar.
―Eles são criaturas que não deveriam existir nem neste e nem no nosso mundo. ― O que ele quis dizer com "nosso"? ―Foram criados através de irregularidades, atos proibidos pelos Lordes... E seus pais, você ao menos sabe que não é ligada a eles pelo sangue, correto? ―Apenas assenti com a cabeça, tenho consciência disso desde meus 11 anos. ―Bem, eles eram os guardiões dos dois mundos, mas perderam boa parte do poder com os anos e com o nascimento de uma filha.
―Eu realmente não estou entendo nada, tem como me explicar melhor esse lance de guardiões, poderes, lordes e sei lá mais o que? ―Se fosse para descrever como estava me sentindo naquele momento era: satisfeita com o bacon, Ian cozinha bem e confusa com tudo aquilo, além de que ele parecia saber bastante sobre meus pais.
O rapaz moreno coçou a nuca e pela expressão dele julguei que estava tentando pensar por onde começar a me contar as coisas. Aproveitei aquele momento para me levantar da cadeira e tomar alguma coisa, abri a geladeira logo ao lado da mesa. Naquele momento me toquei que normalmente a nossa mesa fica mais próxima da porta, a cozinha não é tão grande, mas as coisas estavam muito próximas uma da outra. Olhei em volta, para o conjunto de armários brancos, seguindo para o fogão e para a pia, tudo reunido na esquerda enquanto a direita deveria ficar a mesa, mas em vez disto estava um espaço livre. Lembrei-me que naquele espaço foi onde meus pais foram atacados e isso me fez estremecer, acabei desistindo da ideia de tomar alguma coisa e fechei a geladeira. Ian voltou a se sentar corretamente na cadeira e começou a falar, me trazendo de volta a realidade.
―Elae, eu sei que tudo o que vou te contar vai te surpreender um pouco ―Ou muito, pensei. ― Primeiro de tudo, talvez você não seja uma humana. ―Arqueei minhas sobrancelhas, seguindo em passos lentos de volta a cadeira que estava sentada. Preferi deixa-lo falar antes de interferir. ― Posso dizer isso já que você conseguiu ver a forma real daquelas criaturas proibidas. Segundo, os guardiões que cuidavam de você protegiam os portais que ligam este ao outro mundo, e quando me refiro a "outro mundo" não quero dizer o dos mortos, mas sim onde vivo. Eu não sei bem como poderia chamar ele já que lá o chamamos apenas de "Terra" ou "Planeta", assim como os humanos, mas por enquanto você pode chamar de Sacra.
"Em Sacra também existem humanos, lá eles falam o que vocês chamam aqui de Latim, mas não todos, a maioria usa a linguagem padrão de nosso mundo na qual aprendemos com vocês da Terra. Os humanos são diferentes de vocês daqui, eles são guerreiros poderosos e dependendo da sorte e da escolha podem ser mais ainda. Além dos humanos tem outras raças como as Sereias e os Elfos. Agora vem a parte difícil de te explicar.".
―Difícil por quê? Até hoje vivi pensando que sereias e criaturas magicas fossem apenas contos infantis, agora você vem e diz que na verdade tudo é real. ―Ele cruzou os braços e jogou o corpo para trás.
―Tivemos uma guerra, e ela mudou tudo. ―Este cara apenas ignorou o que eu disse e deu continuidade a sua história. ― Antes vivamos em reinos, cada raça dividida de forma pacifica. Bem, claro que às vezes uma ou outra se desentendia e queriam batalhar, mas nunca chegou a esse ponto, tudo se resolvia com as reuniões dos Reis, apesar dos pequenos conflitos vivíamos em paz... Até que ele apareceu e jogou nosso mundo no caos, quase metade de Sacra foi tomada pela destruição.
―O que aconteceu? ―Os olhos de Ian ficaram sombrios, senti um calafrio em minha espinha parecia até mais difícil para respirar por conta da tensão que surgiu no ar.
O silencio tomou conta do ambiente, eu não tive coragem de dizer mais nada preferia esperar ele. Antes Ian parecia apenas um garoto comum, mas agora com toda aquela situação podia sentir uma imensa raiva vinda dele. Seus finos e longos dedos apertaram-se em seu braço com tanta força que se fosse em mim, com toda certeza que já estaria chorando de dor.
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