Com certeza aquilo era um sonho.

Assim, uma certeza absoluta, total e completa.

Primeiro, a cama em que eu estava era confortável demais, nunca em toda a minha vida eu me deitei em um colchão tão perfeito e macio.

E eu não estou falando apenas da densidade do colchão, o tecido com o qual ele era feito também era maravilhoso. A única coisa que vinha à minha mente para descrever aquilo era... Bem... Nuvens. Pois é... eu sei, eu sei. Como alguém pode saber qual a textura de uma nuvem? Não se pode tocar uma nuvem. Blá, blá, blá.... Mas o que eu podia fazer se era a única conexão que meu cérebro era capaz de fazer?

Ok, segundo... preparadas?

Um homem loiro com lindos olhos azuis (que parecia o resultado perfeito de uma combinação genética entre o Capitão América e o Star Lord) estava deitado nessa mesmíssima cama comigo.

Usando apenas uma CUECA BOXER devo acrescentar em letras garrafais. (Faço isso u-ni-ca-men-te com a intenção de demonstrar o impacto visual desse detalhe na composição geral da cena meninas, claro...) Toda aquela linda pele levemente bronzeada, o corpo musculoso e bem definido, o rosto quadrado, o cabelo despenteado e um lábio inferior cheio e rosado... bem ali, à meros centímetros de mim.

Como se essa visão sozinha já não fosse o suficiente para balançar qualquer garota, seu longo e musculoso braço estava apoiado sobre a lateral do meu corpo, sua mão acariciando levemente todo o comprimento das minhas costas. Indo e voltando em um movimento quase hipnótico... Era como se uma corrente elétrica estivesse me trespassando. Em três letras: UAU!

Seu olhar permanecia preso ao meu com tamanha intensidade e ao mesmo tempo aparentando tanta familiaridade e calma que era difícil até respirar.

Ele sorriu e meu Deus! Como alguém podia ser tão bonito?! Instantaneamente senti algo derreter em meu peito, uma incrível onda de paz e relaxamento preguiçosamente tomando conta de mim. Meus olhos piscaram devagar... tão devagar...

Isso era o que qualquer um, ok... qualquer mulher, chamaria de pedaço de céu.

Olha só, talvez agora o colchão de nuvens faça mais sentido, humm?!

Ele se levantou da cama tão rápido que me desconcertou, virando o corpo em um movimento ágil e fluido. Eu teria tentado de alguma forma impedir que ele se afastasse de mim, não fosse pelo estado de completo estupor em que eu parecia estar presa. Pois é, aparentemente meu cérebro derretia na presença de caras insanamente quentes e eu virava um vegetal incapaz de me mover... Vamos lá, podem rir.

E finalmente, terceiro.

Logo depois de se levantar e enviar um lindo sorriso na minha direção, meus olhos simplesmente o acompanharam enquanto caminhava até onde eu imaginava que fosse o banheiro do lugar. Era como se eu não tivesse mais vontade própria. Em algum lugar remoto da minha mente eu podia ouvir minha dignidade gritando comigo "qual é garota?! Recomponha-se pelo amor de Deus!" Mas aparentemente eu era um caso perdido.

"Sinto muito Sra. Dignidade, juro que tento outra vez mais tarde."

Quando o perdi de vista e alguns instantes depois escutei o chuveiro sendo ligado, com a porta do banheiro ainda aberta, foi por muito pouco que não perdi totalmente a razão. Se isso era obviamente um sonho... o que aconteceria se eu o seguisse? Se eu me levantasse e simplesmente fosse até lá?

Muitas imagens passaram pela minha mente e eu podia sentir minhas bochechas corando.

Ainda assim não me movi um centímetro.

E eu gostaria muito que minha dignidade pudesse ter algo a ver com isso, mas novamente... oh não.

Hã-hã. Não a "senhora caso perdido" aqui.

Algo parecia completamente desencaixado de tudo ao meu redor e sugou a minha atenção. E eu preciso frisar que, na atual situação e com o leque de possibilidades disponíveis, só algo realmente muito estranho e totalmente desencaixado para manter minha atenção naquele momento.

Havia um grande espelho ocupando a parede do outro lado do quarto, posicionado quase em frente à cama.

O espelho em si não era tão chamativo assim... Era grande e bonito, sim, com uma linda moldura de madeira envelhecida, mas nada fora do normal. Já o que estava sendo refletido nele, ah! Esse sim era o ponto!

Eu podia me ver, deitada na cama, sem sequer um lençol cobrindo o meu corpo.... E, acreditem em mim meninas, em qualquer outra situação eu teria ficado chocada com a visão de toda a minha pele exposta daquela forma... Mas de jeito nenhum esse era o ponto agora!

Agora isso era apenas um detalhe....

Um detalhe bem pequeno, pequenininho, porque bom...

Era o meu reflexo no espelho, mas olhando de volta para mim havia um tigre enorme.

Não, eu não estava olhando uma janela que dava exatamente para a jaula de um tigre.

E não, aquilo não era um truque, uma miragem ou qualquer coisa do tipo...

Eu era o tigre!

Tive certeza absoluta disso porque quando eu olhei para minhas mãos e para o meu corpo o que eu vi foram as patas e o corpo imenso de um tigre.

Coberto com uma berrante pele listrada de tigre.

E quando eu gritei...

Bom, o som foi o que eu acho que seria o rugido de um tigre se ele estivesse pensando: “P.Q.P!”

Então eu acordei.

Viu?! Eu disse que era um sonho desde o início.

Uma cama de nuvens com um cara tão lindo que me fazia esquecer de respirar, deitado comigo e olhando no fundo dos meus olhos, como se conhecesse minha alma?!

Eu já estava meio que esperando por isso....

Tenho que admitir, no entanto, que meu inconsciente conseguiu me surpreender com este grand finale, um tigre?!

Uma salva de palmas para ele minha gente.

E o prêmio?

Acordar com um pulo que quase me derrubou do banco do ônibus em que estive viajando à noite toda.