―Oi! Quem é você?
―Ahn, eu me chamo Elae... ―Karen sorriu para mim.
―E o que você faz aqui? Quero dizer, você é totalmente humana. ―Sua voz tinha um tom de deboche e isso me irritava. Formei uma expressão séria em meu rosto.
―Ian disse que não sou humana, por isso viemos para cá.
―Hm, ele pode ter se enganado. Sabe mesmo sendo o braço direito do Imperador ele pode errar. ―Karen olhou para cima e jogou a cabeça para o lado ficando com ela deitada na mesa. ―Seria ótimo isso, esse garoto nunca falhou em suas missões, queria ver o belo rostinho dele em desespero.
Neste momento o olhar de Karen se tornou vazio, sem brilho algum, e sua voz estava mais fria. Até mesmo aqueles ali dentro a olharam preocupados. O rapaz de antes com a pele meio esverdeada criou coragem e mesmo com a voz tremula resolveu dizer algo.
―K-Karen, você vai assustar a garota...
―Ah ―Ela levantou o rosto e sorriu, me encarando. ―Me desculpe, eu não tenho nada contra o garotão só não suporto a ideia de ele ser o braço direito, todo perfeitinho, do Imperador.
Essa garota era estranha, apesar de ter uma carinha infantil ela parecia ser perversa, que só se importa com o próprio bem. Acho que ela se aproveita da aparência infantil para conseguir o que quer, ao menos se fosse eu, com toda certeza, iria fazer isso.
O silencio tomou conta do lugar e estava já ficando um clima desconfortável, a garota virou a cabeça para o outro lado e pude sentir suas pernas balançando no ar, já que não alcançavam o chão.
Queria que Ian retornasse logo, ele me prometeu dar respostas. Mas pelo o que notei ele iria se ocupar bastante com essa história de encantamento e proteção. Enquanto me lembrava da conversa de antes acabei rindo ao perceber que Ian se apresentou como um líder, eu jamais iria imaginar que ele tinha um cargo tão alto, ele me parecia tão simples.
Meu olhar estava vagando pela sala, até que avistei um grande mapa preso na parede próximo aos armários. Nele tinha mais daqueles rabiscos, por ver tanto deles pelos locais imaginei que aquilo fosse a escrita deles. Queria saber de que lugar era aquele mapa, como ele estava longe do lugar que eu estava não conseguia enxergar muito bem, e por estar próximo dos armários o pessoal que restou estava todo reunido ali perto, então desisti. Olhei para o lado e a pequena Karen me observava com um grande sorriso nos lábios.
―Você parece ser do tipo curiosa, Elae.
―Não diria isso... Só quero respostas. ―Murmurei.
―Respostas sobre o que? ―Ela agora apoiava o rosto em sua mão.
―Muitas coisas... Como por exemplo, no mundo humano. ―Antes de continuar esperei que ela demonstrasse interesse e só assim continuei. ―Enquanto fugíamos para o portal não me lembro de ter encontrado ninguém, nem mesmo um animal rondando pelas ruas.
―Ian disse que era especializado em encantamentos, certo? ―Eu assenti. ―Pois então ele deve ter usado algum para proteção, ou fez os humanos adormecerem ou, se ele for tão forte quanto dizem, levou vocês para a dimensão inversa, acho que você vai precisar perguntar diretamente para ele.
Formei um grande bico nos lábios e cruzei os braços, aquilo era tudo o que eu não queria ouvir no momento. Ian estava me devendo algumas respostas e eu as queria o quanto antes.
―E o que seria essa dimensão inversa? ―Mesmo que tivesse de esperar pelo Ian, Karen poderia me adiantar alguma coisa.
―Hm... Não sei muito bem, mas dizem que em todos os mundos existem várias dimensões sendo elas a dimensão real, a dimensão inversa, a dimensão dos sonhos, a dimensão do dom e a dimensão do medo. ―Ela contou em seus dedos para verificar que tinha dito todas e então voltou a me olhar. ―A dimensão real é esta na qual estamos e vivemos, a dos sonhos é onde abriga, como diz o nome, os sonhos das pessoas, mas apenas sonhos neutros e bons. A dimensão do medo abriga tudo de ruim que você puder imaginar, os famosos “monstros” que vivem debaixo das camas das crianças vivem lá também. A dimensão do dom é um local que abrida toda a energia que utilizamos, se você for capaz de ir nessa dimensão então você consegue absorver mais energia.
“Mas dizem que se a pessoa não for forte o corpo não aguenta tanta energia. E por ultimo tempos a dimensão inversa, ela é idêntica a nossa e é a mais fácil de acessar, dentro dela existem dois níveis, o mais usado é para a camuflagem, ao entrar no nível um as pessoas não te enxergam e nem conseguem sentir seu dom, mas você consegue ver as pessoas e todo o resto da dimensão real, e até mesmo estragos feitos lá atingem aqui. Porém o nível dois é mais difícil e precisa de muita habilidade para ir, nesse nível as pessoas não conseguem te sentir também, mas vocês também não conseguem atingir essa dimensão, mesmo se destruírem uma casa lá, por aqui vai tudo ficar normal.”
―Isso é bem complicado de se entender. Mas parece que o Ian nos levou para o nível dois da dimensão inversa?
―Não sei dizer, Elae, esse papo das dimensões são apenas lendas, já que até hoje não conheci ninguém que conseguisse fazer isso. ― “Não é só porque você não conhece que não exista!” pensei, e então sorri.
―Lendas são baseadas em fatos reais. ― Karen olhou em meus olhos, como se tentasse ler minha mente e então sorriu.
―Me desculpe, eu não entendo nada de encantamentos e nem como eles funcionam.
―Tudo bem, é melhor eu confirmar tudo com o Ian―Sorri para ela e joguei minha cabeça para trás.
Talvez eu tivesse uma impressão errada dessa garotinha, ela não parecia ser alguém tão ruim assim, claro que ainda acho que ela é do tipo que se aproveita dos outros, mas no fundo pode ter um bom coração.
Existiam muitas coisas que eu queria saber, mas entendi que não poderia contar com a ajuda da Karen, até porque acabei de conhecê-la e não tenho total confiança nela.
Meus pensamentos foram interrompidos quando a porta voltou a se abrir, ali entrou duas pessoas sendo elas o senhor barbudo de antes e o Ian, que não vestia mais sua blusa. Quando o vi levantei da cadeira de imediato, estava surpresa com ele e assim comecei a analisa-lo detalhadamente. Ele parecia estar mais forte que antes, não só pelos braços que não estavam mais finos agora eles pareciam com mais músculos – mesmo que não fizesse tanta diferença de antes – eu podia sentir algo diferente nele, uma aura diferente. Enquanto eu o analisava meus olhos seguiram até seu rosto e foi onde fiquei extremamente surpresa, suas orelhas tinham crescido, elas estavam pontudas e mais finas, como se fosse a orelha de alguma criatura fantasiosa de livros. E mesmo os ferimentos em seus braços tinham desaparecido, não completamente ainda era possível ver algumas manchas, mas aquilo me deixou mais aliviada.
―Ian...? ―Disse com a voz baixa.
―O próprio. ―Ele notou o meu choque, e riu. Mais uma surpresa para mim.
―O que é... Isso? ―Enquanto dizia levei minhas mãos até as orelhas dele, mesmo que eu tenha ficado na ponta dos pés para isso, e as apertei levemente, talvez fossem falsas e ele só quisesse me enganar.
―Hm? Você consegue enxergar? ―Seu olhar era de espanto, e ele logo segurou minhas mãos e as afastou de suas orelhas.
―É meio impossível de não enxergar.
―Entendo... Isso é uma boa prova de que você não é mesmo uma humana. ― Seu rosto se aproximou do meu, ele parecia me analisar meticulosamente. Sua aproximação repentina me pegou de surpresa, queria poder me afastar o quanto antes.
―C-como? Você já não tinha certeza?
―Hm... Quem sabe? ―Ian riu mais uma vez e então afastou o rosto, sua mão pousou em minha cabeça onde ele bagunçou meus cabelos. ― Eu preciso sair agora, Elae, mas quando voltar eu irei responder suas perguntas e contar tudo o que quiser saber, mas por enquanto tenha um pouco mais de paciência.
―Acho que não tenho escolhas. ―Cruzei os braços e suspirei. Sem desviar meu olhar de seu rosto.
―Boa garota. Karen, você poderia leva-la até o laboratório? Já expliquei a situação...
―Sim, senhor. ―Karen revirou os olhos e se levantou da cadeira enquanto me olhava indicando que eu deveria segui-la até o grande salão.
Resolvi não protestar e segui a menina para fora da sala, virando minha cabeça uma vez e olhando para Ian que estava de costas para mim. Ele estava tão diferente, literalmente falando, e mesmo seus olhos pareciam diferentes, a cor cinza parecia bem mais clara, era quase de um branco. Ele provavelmente notou que era observado e olhou para trás exibindo seu sorriso, seus finos lábios se alargaram e exibiram seus dentes brancos, era a primeira vez que via aquele sorriso nele. Confesso que não esperava por isso, e claro que me surpreendeu. Sem saber como reagir virei o rosto para frente e continuei meu caminho.
Para não tentar pensar naquele sorriso de Ian comecei a observar as pessoas a minha volta, já que elas também me observavam e pela primeira vez pude notar outras pessoas com orelhas pontudas, algumas eram mais redondinhas já outras eram iguais ao do Ian, enquanto outras eram enormes, além de ter alguns sem orelhas. Até mesmo podia ter jurado ver duas crianças correndo com orelhas de cachorro e como se não fosse ficar mais estranho um homem pálido passou por mim e ele não tinha nariz! Por um segundo pensei que ele fosse algum vilão fugitivo, não sei por que pensei nisso. Eram poucos aqueles normais sem nada de diferente no rosto ou corpo, poucos mesmo.
O problema é que quando tentava olhar para essas pessoas novamente não conseguia enxergar mais aquelas diferenças e isso era um tanto quanto esquisito.
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