―E não existe nenhuma forma de tentar localiza-la? Ela pode até mesmo correr perigo...
―Não é tão simples, Elae. Não somos experts na magia, existem muitas coisas que não sabemos e as coisas que conhecemos são delicadas e nesse caso, precisa de toda informação possível, qualquer erro já anula o poder.
―Isso é complexo demais! Não precisamos fazer isso tudo! ―Bufei. Aquele lugar me deixava confusa, e com tanta informação nova eu me esquecia das mais simples.
―Como não? ―Karen bagunçou os próprios cabelos e jogou o corpo para trás, caindo sentada. ―Vocês duas estão complicando as coisas.
―Desculpe-me... Mine estava passando uns dias na casa de uma amiga, na pressa que eu estava quando vim para cá não me lembrei de falar com ela.
―Então ela está no mundo humano... Podemos pedir para algum esquadrão ir busca-la.
―Mas ela pode estranhar tudo... ―Protestei a ideia. Ela podia não conhecer nada de Sacra e diferente de mim, Mine era mais cabeça dura.
―Quando decidirem o que vão fazer me avise. ―Karen cruzou os braços e fechou os olhos, ficando imóvel.
―Certo, Elae, irei passar estas informações para o nosso líder, mas no momento ele está fora. Enquanto isso vou analisar a reação que você teve com o remédio. ―Hein respirou fundo, e olhou para Karen e eu. ―Agora vou fazer meu relatório, vocês duas vão dar uma volta por ai, ou não sei, só me deixem sozinha...
Karen ia dizer algo, mas a aura de Hein tinha mudado completamente como se dissesse “Não ousem me atormentar ou vou enfiar vocês dentro do tanque de água” e pela reação da menina preferi manter a distancia mais segura possível, fora daquela sala.
Acelerei o passo para me afastar dali o mais rápido possível, não queria correr o risco de virar cobaia ou qualquer outra coisa. A pequena Karen seguia meus passos até que voltamos ao grande salão na entrada, ela olhou em volta e suspirou. Novamente as pessoas dali me olharam de forma estranha, como se eu fosse uma intrusa e tecnicamente, eu era. Sentia-me desconfortável com todos aqueles olhares e se possível queria sair dali o quanto antes. Eu já estava prestes a correr dali, para qualquer direção, quando o rapaz de antes veio sorrindo em minha direção e acenando.
―Você é a Elae, não é? ―Apenas assenti. ―Eu estava com o Ian agora pouco, ele me pediu para ficar com você enquanto ele está fora.
―Se não me engano, você é o Hendri, certo? ―Não era um nome fácil de esquecer. Ele apenas sorriu. ―Onde Ian está? Queria falar com ele...
―Ah, se você me falasse isso uns dez minutos atrás daria tempo, mas agora ele já saiu com o esquadrão para usarem o encantamento na floresta. ―Hendri olhou em volta e respirou fundo. ―Me acompanha, aqui não é um bom lugar.
Ele tinha notado os olhares estranhos direcionados a mim, e agradeci mentalmente por ele me levar para outro lugar. Segui os passos do garoto que subiu a escada indo para o segundo andar, dali passamos por várias portas, e mesmo ali em cima as pessoas do salão continuavam a me olhar. Foi só então que notei que a Karen não estava mais conosco, não consegui ver onde ela tinha ido, mas provável que tenha saído no momento que Hendri chegou, deve ter achado um alivio não precisar ficar de babá. Antes de o caminho chegar ao fim; onde tinha outro corredor, Hendri abriu a penúltima porta e entrou. Agora eu tinha total certeza que aquelas pessoas adoravam construções com várias salas pequenas e vários corredores.
Ali dentro era uma sala com cinco compridos bancos de madeira, me parecia ser um vestiário. O garoto seguiu até outra porta no fundo da sala e a abriu olhando dentro dela e voltando a fechar.
―Pode se sentar, aqui é um vestiário improvisado que a patrulha usa. Como eles já saíram creio que não voltem mais hoje. ―Ele sorriu de forma larga e se sentou, indicando que eu fizesse o mesmo.
Segui para o outro banco e me sentei de frente para ele, olhando em volta como se tivesse algo escondido por ali. Naquele momento pude observar melhor o rosto do menino, os cabelos dele eram de uma cor de mel e seus olhos eram em um verde jade.
―Não se preocupe, Elae. Por ser um vestiário não tem nenhuma forma de nos bisbilhotarem, além de ser o vestiário masculino... ―Me levantei rapidamente era a primeira vez na minha vida que eu entrava em um vestiário masculino, estava curiosa e ao mesmo tempo receosa. ―Se quiser podemos ir para o vestiário feminino também, os dois estão assim.
―Ah não... Aqui está muito bom. ―Suspirei e voltei a me sentar. Hendri sorriu mais uma vez, diferente de antes, sem mostrar seus dentes brancos.
―Bem, você tem algumas perguntas para fazer posso dizer pelo seu olhar curioso. Já informo que não sei muita coisa.
―Acho que sou bem obvia... Hendri, primeiro de tudo o que está acontecendo? Ian me contou sobre essas “raças”, mas ainda não entendo e por que ele precisou sair pra fazer um encantamento? E quem o Ian é?
―Ian não gosta de falar sobre ele mesmo, até eu que o conheço desde a infância não sei nada sobre antes dele aparecer. ―Arqueei uma sobrancelha, Hendri balançou a cabeça em forma negativa e cruzou os braços. ―Não sou eu quem vai te contar quem é o Ian, isso ele mesmo deve fazer é a obrigação dele por ter lhe trazido para cá. Agora, sobre o que está acontecendo... O que você sabe sobre a guerra sombria?
―Praticamente nada.
―Ele deveria estar com pressa, uma coisa que posso te garantir sobre o Ian é que ele fala muito! ―O menino riu baixo e fixou os olhos em mim. ―Elae, muitos anos atrás o primeiro rei previu que algo terrível iria acontecer, mas ele não podia fazer nada na época. Ao menos é o que dizem nas escolas.
Como uma boa ouvinte me mantive em silencio, me atentando em cada palavra deita pelo rapaz.
―Pensamos que tudo estava indo bem, mesmo depois de muitos conflitos entre as raças e clãs, mas fomos traídos. Alguém de confiança do reino realizava experimentos, unificando o DNA e o dom de várias espécies em crianças recém-nascidas, nos chamamos essas criaturas de “proibidos” surgiram de uma forma horrível. Mas eu realmente não tenho muito conhecimento no assunto, talvez seja melhor o Ian te contar depois.
―E-eu conheci dois desses... Mas, é errado ter mistura entre as raças?
―Ah não, eu mesmo sou filho de um homem lobo e uma fada. ―Se antes eu já achava toda essa história confusa, agora estava pior. Creio que meu olhar entregou as perguntas que eu tinha em mente. ―Podemos deixar esse detalhe de lado, o que importa é que não tem proibição nenhuma, muitos de Sacra são misturas de espécies. Hoje em dia está difícil achar alguém de raça pura, até porque as grandes maiorias se isolam em suas casas e vilas. E quanto aos proibidos eles foram criados de forma ilegal, quebrando várias regras e tabus, cho que em um único deles devem conter, no mínimo, cinco DNAs diferente.
―E como que eles conseguiram esses DNAs?
―Não temos certeza. ―Hendri suspirou e olhou para o chão. ―Alguns anos atrás vários bebês desapareceram e nunca foram encontrados novamente, ao menos não vivos. Acreditamos que talvez eles tenham sido usados nesses experimentos, mas como eu disse, não sabemos...
Pude notar o clima ficar mais tenso, aquele parecia ser um assunto bem mais delicado do que pensei. Hendri juntou as mãos e apertou os dedos uns contra os outros, pude notar o quanto ele tinha um ódio mortal por aquele assunto.
Ele percebeu que eu estava o analisando e então suspirou, aliviando a expressão assustadora que formava em seu rosto. Durante todo esse tempo permaneci sentada naquele banco o observando cuidadosamente, não queria correr o risco de irrita-lo ou magoa-lo com qualquer coisa que eu dissesse.
―Elae, você deve estar com fome. ―Hendri levantou o rosto e sorriu daquela forma exagerada que ele sempre fazia, toda a tensão desapareceu em um instante. ― Vou responder suas outras perguntas e então vamos comer, ok?
Preferi não falar nada, apenas assenti e permaneci em silencio. Pude notar que ele queria mudar o foco daquela conversa, nem que fosse um pouco, talvez ele tivesse tido alguma experiência bem ruim, quer dizer, estão vivenciando uma guerra claro que coisas ruins aconteceram, mas sinto que com ele foi mais complicado.
―Certo... Você me perguntou sobre as raças, mas não sei bem o que posso te contar...
―Pode começar me dizendo as raças existentes? ―Ele fez uma careta e então formou um bico engraçado.
―Sério? Mas são tantas! Eu posso dizer as mais comuns de se encontrar. ―Ele me olhou, provavelmente esperando alguma resposta e, eu, sem saber o que dizer apenas concordei com a cabeça. ―Legal! Então, como eu disse, existem muitas misturas, mas ainda vai esbarrar em alguns “sangues puros”, mas cuidado eles são orgulhosos e arrogantes e podem se sentir superiores a você.
“O Ian, por exemplo, é um sangue puro, mas ele não é esnobe igual aos outros. E ainda sobre nosso amigo, ele é um dos poucos Elfos existentes, na última guerra sombria quase todos foram eliminados, os poucos que restaram vivem perto do Império para se protegerem.”
―Ahn, Hendri... No mundo humano existem várias lendas de criaturas místicas e tudo mais, essas lendas foram retiradas daqui?
―Não faço a menor ideia! Não sei nada do seu mundo... Meu pai me contou, quando eu era criança, que alguns humanos vinham aqui e voltavam ao mundo deles escrevendo várias histórias, mas eu nunca dei tanta importância para essas coisas.
Meu cérebro estava fazendo hora extra para aquela grande quantidade de informação, sentia que a qualquer momento eu iria pifar, só esperava que isso não acontecesse de verdade.
―Mas bem, voltando, além dos Elfos, existem as ninfas, só que elas são mais difíceis de achar, elas vivem escondidas. As fadas que vivem em vários lugares, elas não se dão muito bem com as ninfas, briga antiga. Ah sim, não é tão comum de se achar, mas as sereias e tritões também vivem conosco. ―Para minha lista de coisas raras encontradas em Sacra: Fada, Ok. Elfo, Ok. Sereia, Ok. Hendri fechou os olhos como se estivesse buscando na mente mais informações. ―Ah é! Nós temos os humanos aqui também. São um dos mais fortes, em questão de força bruta e mesmo que eles tenham algum dom, não são os melhores na magia.
“Além destes, você vai encontrar muitos anões, antigamente eles viviam em guerras com os humanos na disputa de melhores guerreiros, até que desistiram e se focaram em suas especialidades, que eu pessoalmente considero as melhores entre todas.”
―Mesmo? E qual a especialidade deles? ―Eu podia parecer um pouco curiosa, mas todo esse novo conhecimento me fascinava, era realmente muitas informações, mas eu adorava descobrir coisas novas.
―As mulheres são as melhores ferreiras de toda Sacra, e os homens produzem as melhores pedras possíveis. Não sei se já te disseram sobre isso, mas para alguns encantamentos são necessários itens especiais e na grande maioria utilizam cristais, já que são os melhores para se concentrar energia.
Creio que Hendri notou meus olhos que brilhavam com cada nova informação, um pequeno sorriso animado surgiu nos lábios do rapaz que logo ajeitou os cabelos bagunçados, deixando eles mais ajeitadinhos, mas não muita coisa, ainda estava bastante arrepiado e para os lados.
―Você disse que era um homem lobo?
―Sim, mas eu não posso me transformar só meu pai que consegue. ―Hendri olhava para frente, como se estivesse imaginando o pai em sua melhor forma, e um sorriso sincero e inocente surgiu em seus lábios.
―Você gosta do seu pai, não é? ―Disse de forma calma, sendo contagiada por ele. Hendri assentiu.
―Meu pai foi enganado por seu companheiro de patrulha, e foi capturado... Mas nós éramos muito próximos, só de me lembrar dele me sinto bem, como se ele nunca tivesse partido.
―Sinto muito pela sua perda...
―Ah não! Não se preocupe, estou bem. ―Sua sinceridade era notável em sua expressão, eu apenas sorri um pouco sem graça para ele.
―Bem, acho que já aprendi bastante, podemos ir comer?
Meu estomago me ajudou no momento certo, entregando o quão faminta eu estava. Hendri gargalhou e balançou a cabeça de forma positiva, se levantando logo em seguida, e eu o imitei. Nós nos aproximamos novamente da porta, quando ia abri-la o garoto me olho e mordeu o lábio, voltando para trás e indo para o armário mais próximo.
Ele murmurou alguma coisa que não pude entender e então abriu a porta, pelo local que eu estava não conseguia ver o que tinha dentro do armário. Depois de revirar tudo o que tinha ali dentro ele pegou um pequeno pano rosa e fechou a porta, vindo agora em minha direção. Sem nem mesmo me informar ele colocou aquele pano em minha cabeça.
―O que você está fazendo?
―Tentando te camuflar, se você usar esse pano para esconder as orelhas eles não vão saber que não é uma de nós.
―Mas segundo os testes eu aparentemente sou uma de vocês...
―Sério? Quer dizer, me refiro a sua aparência. Os humanos aqui são guerreiros musculosos, mesmo as mulheres... Além de que... ―Antes de dizer algo mais alguma coisa ele retirou sua farda e colocou nos meus ombros, ficando apenas com uma regata branca. ―Você emite pouca energia, e minha jaqueta foi feita para esconder o meu dom, ou seja, se você usar vão pensar que é muito poderosa e que precisa manter todo seu poder em segredo.
―E porque você precisaria escondê-lo?
―Hm, posso não parecer, mas sou da elite e por isso sou poderoso, mas ninguém sabe o quanto. ―Ele deu de ombros. ― Nós escondemos nossa verdadeira força para que possamos surpreender nosso inimigo, mas não se preocupe, sei fazer isso mesmo sem minha roupa “especial”.
Hendri piscou e então abriu a porta e pegou em minha mão para que me guiasse para fora do vestiário, seguimos em silencio para o andar de baixo novamente, no grande salão, dali fomos para um corredor que até então tinha passado despercebido pelo meu olhar, ele ficava perto da sala que entrei antes e encontrei a Karen. Este “perto” era mais ou menos uns seis passos da porta, do lado esquerdo.
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