Bom, pelo menos acho que é assim que se começa um diário então, mesmo ele não sendo tão querido assim.
Na verdade eu queria ter ganhado um violão. Mas tudo bem, meu pai talvez tenha achado que um diário seria mais bonitinho e adequado para uma garota entrando na adolescência.
Não sei de onde ele tirou essa ideia, talvez daqueles filmes idiotas que ele fica assistindo de madrugada depois que a mãe vai dormir. Se bem que as moças que aparecem naqueles filmes não têm cara de que escrevem diário.
Na sinceridade, no caso delas acho que seria uma coisa mais para: “querido livro contábil, hoje o movimento foi intenso, é por isso estou sentada dentro dessa bacia com água quente”.
Bom, vamos lá então... Querido Diário, hoje ganhei você de presente do papai. Embora eu preferisse mil vezes um violão, conforme já te notifiquei anteriormente, e apesar de eu achar esse negócio de diário uma puta babaquice de garotinha de convento, coisa que jamais pretendo ser – aliás, justamente por isso que te aceitei e fiz cara de “adorei, papai”. Do jeito que a coisa anda, se eu respondesse o que me veio à cabeça eu estaria agora limpando chaminés com a Mary Poppins, vestida de aveia Quaker.
Por onde eu começo?..Hoje de manhã abri os olhos mas não quis me levantar, fiquei deitada e vi que horas eram. É um bom começo. Não muito original, mas é um ótimo começo, na verdade. Deu até vontade de ouvir Legião.
Tá.. Espero que sejamos amigos inseparáveis, e caminhemos de mãos dadas e sorrisos largos pelos campos floridos desta vida cor de rosa.
Hm... Menos.
Espero que sejamos grandes amigos confidentes, viu? Quero contar para você tudo o que vi e vivi, e tudo o que aconteceu comiigoooo. Quero poder abrir meu coração para ti quando as lágrimas correrem pela minha face e ter seu ombro de papel para chorar, mesmo que borre tudo o que te disse.
Quero te contar das minhas amigas, das minhas alegrias também. Contar nossas aventuras vespertinas com caneta Bic azul, e aventuras noturnas com Bic vermelha; revelar a você segredos que eu nunca pens...
Opa! Peraí.
Caraca, então este é o planinho sórdido de vocês? Eu, inocente, conto aqui tudo o que acontece comigo e, nas mortas horas do meio da tarde, meu pai estará sentado bem aqui na minha cama, lendo tudo com um vidro de Lexotan na mão.
Puta merda, e eu me achando uma adolescente super esperta que não precisa de um maldito diário, quando na verdade estava pagando de inocente, caindo como uma patinha.
Querido diário, vá para o inferno.
Judas!
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