Querido e fofo diário.
Posso te contar um segredo? Bom, acho que sim... uma vez que você foi feito pra isso, né? Que aliás, adorei te ganhar. Nossa, adorei muito. Então, o segredo é: eu AMO meu pai... Nossa! Ele é super legal, super bacana...quero ser que nem ele quando eu crescer.. mas sem o bigode, claro.
Ele faz tudo por mim, e sei que ele só quer meu bem, então vou ser sempre obediente e super, hiper comportada na balad.. quer dizer, na noite.
Aliás, falando nisso, ontem eu e a Marcinha fomos numa festa super lou.. quer dizer, eu... sonhei isso. Eu SONHEI que fui numa festa super maluca com gente esquisita com minha amiga Márcia. Nossa, foi um sonho tão... ahn... imoral e degradante que acordei com vontade de ajoelhar e rezar.
Mas então, eu adoro meu pai. De paixão.
...
Bom, à partir daqui imagino que meu pai já ficou aliviado com os relatos imaculados da sua filhinha santinha, e também com preguiça de ler tudo, então posso escrever de verdade.
Puta festa ontem, meu. Não vejo a hora de ir pra faculdade e encarar festas assim toda semana. Agora entendo por que chamam faculdade de nível superior. O negócio é pro.
A Marcinha passou em casa às 9 e fomos pra Stop fazer um aquecimento. Só umas cervejinhas, dar uma panorâmica na galera e sentir a vibe da noite. De cara tinha duas viaturas paradas na frente do bar e umas minas xingando umas às outras, e depois todas em coro xingando os guardas - a vibe tava boa, a noite prometia.
Até que apareceu um cara entregando um panfleto de uma tal de Festa da Charula que ia rolar na vila universitária. O cara tava todo amarrotado, uma camisa xadrez igual ao pano de chão da minha mãe e um cheiro de perfume de sândalo misturado com fumaça.
Aceitei e perguntei o que era uma Charula. Ele me disse que na festa me mostrava.
Então tá. Eu e a Marcinha pedimos mais umas três saideiras e saímos em busca do conhecimento.
Chegando lá fui procurar o cara. Só que tinha um monte igualzinho a ele pela festa. Achei que tinha bebido demais na saideira e tava vendo tudo dobrado mas não, o povo não tinha muita criatividade pra se vestir mesmo. Eram grunges. Então fomos ver o que tinha pra beber. De repente a Marcinha começou a conversar com um negão rastafári lá, o papo foi ficando forte... tentei até me entrosar, mas eles colaram a boca um no outro de tal forma que não escapava conversa nenhuma. Acabei sobrando.
Foi quando aquele cara do pano de chão chegou em mim e me perguntou se eu ainda queria saber o que era uma Charula. Bom, vim até aqui pra isso, bebê. Foi exatamente o que respondi.
Ele me levou para um quarto, perguntou se eu curtia roquenroll, eu disse que sim ( The Clash, please.. pensei, mas ele botou um tal de Nirvana... um cara gritando, lá), botou o disco pra rodar e me mandou fechar os olhos. Fechei.
Aí ele me falou: Confia em mim. Vou botar o negócio na sua boca, e você chupa.
Rá! Como dizia o Mussum, “é fríis”. Nem fudendo, jacaré – eu pensei. Mas ao contrário do que imaginei, ele botou um rolinho de papel, com o cheiro do perfume que ele tava usando, na minha boca. Chupei. Chupei e chapei.
Primeiro quase morri de tossir. Mas quando parei, deu um... tóin óin óin dentro da minha cabeça e eu parecia uma bexiga... Comecei a rir. O cara olhou pra mim e começou a rir pra caramba também, e disse que eu tinha um cabelo engraçado.
Engraçado o teu cu, respondi. Aí rimos pra caramba e me veio na cabeça a imagem de um fiofó; e, realmente, se pensarmos bem, é um troço engraçado mesmo aquele asterisco no meio dos dois parênteses gigantes da nossa bunda. Ficamos rindo que nem bobos, e aquele Mané gritando na vitrola...
Não sei bem que hora já estávamos nos beijando. O beijo mais melado e ao mesmo tempo seco que já beijei.. Ficamos horas... dias nos beijando. O disco parecia que nunca acabava.. já fazia horas que tava tocando, e ainda tava na mesma faixa, uma coisa muito doida.
Aí ele apagou a luz, trocou de disco, e botou um bom e velho Otis Redding. Acendeu uma vela (uma vela mesmo, de cera, desta vez), me deu um gole daquilo que ele tava bebendo com sua mão, olhou nos meus olhos com a cara mais linda à meia luz do mundo e disse:
E aí, curtiu a Charula?
Acabou. Comecei a rir de quase mijar as calças de tanto rir e não consegui parar mais. O cara bodou, ficou com uma cara de pastel perguntando “qui qui foi?” “qui qui foi?”.. e quanto mais ele perguntava, mais eu ria, mais ele bodava, e ainda mais eu ria.
Acabou a noite assim. Que eu lembre, pelo menos. Ele me olhando com uma cara de menino de 4 anos que acabou de furar a bola, e eu, apaixonada.
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