Um som cortante passava pelo ar pouco antes de uma flecha atingir um alvo preso a uma árvore fazendo a mesma cravar fundo nele.
— Essa foi boa, mas podia melhorar
Dizia um garoto ruivo vestido com roupas simples de camponês, uma calça marrom presa a um cinto esfarrapado e usando camisas brancas com uma larga abertura em formato de “V” no pescoço.
Ao lado do rapaz estava uma garota segurando um arco, a menina possuia olhos castanhos que reluziam de leve com a luz do dia e cabelos negros pressos por um lenço vermelho que ficava na parte superior de sua cabeça formando assim um rabo de cavalo longo.
Ela abaixou o arco com um suspiro a fazendo curvar um pouco seu corpo e amolecer os braços.
— Sério, como você consegue acertar todas elas? de 10 eu acertei 3 e duas ainda pegaram na lateral.
O garoto soltou uma risada aguda, colocou a mão direita sobre o ombro da garota e esboçando um grande sorriso enquanto ela erguia o rosto para olhá-lo
— Tá tudo bem, você melhorou bastante, mes passado você mal acertou uma flecha na árvore
A garota sorria e erguia seu corpo ficando ereta novamente e pegando uma flecha da aljava que estava em suas costas, colocando a mesma sobre o suporte do arco e então iniciava o tensiona-lo até sua palma ficar próxima ao rosto e então disparou novamente ao soltar a corda
A flecha voou pelo ar desviando para a esquerda atingindo um arbusto logo ao lado do alvo
— Ah! O que eu to fazendo de errado?!
Reclamava a garota fazendo uma expressão de raiva e frustração e então o garoto dava um leve tapa nas costas dela a fazendo arrepiar e com isso ele tomou o arco da mão da garota e uma de suas flechas
— Você não pode apenas soltar a corda quando for disparar, se não ela vai tremer e a chance de errar o disparo aumenta
Ele tencionava o arco da mesma forma que a garota havia feito porém ao invés de soltar a corda para disparar ele movia o cotovelo do braço que segurava o arco para trás fazendo seus dedos deslizarem pela corda e a flecha ser disparada precisamente no centro do alvo
— Viu? Não é tão difícil quanto parece
O rapaz falava com ânimo e um sorriso aberto no rosto pouco antes de se virar para a garota que estava com os braços abaixados segurando uma das flechas com a mão direita e então estendia a mão livre para o garoto.
— Tá bom, deixa eu tentar de novo
O rapaz entregava o arco, a garota o pegava e se posicionava com o arco para atirar, porém antes de realizar o disparo o garoto se movia para suas costas colocando a mão entre as escápulas da garota a fazendo gelar e arrepiar por completo soltando a flecha aleatoriamente
— O- O que foi?
A garota se afastava com o rosto vermelho segurando o arco contra os peitos e o garoto caia na gargalhada, mas antes de poder dizer qualquer coisa ambos ouviam uma voz feminina ao longe
— Secilia! onde você está?! Seu pai está te esperando!
A garota soltava o arco ao ouvir a voz de sua mãe vindo da estrada onde duas pequenas casas se encontravam. Secilia olhava para o rapaz com uma expressão preocupada, o rapaz indicava para ela seguir pela floresta, a garota começava a correr por dentro da mesma em direção a parte de trás das casas tentando passar despercebida pela mulher.
Enquanto corria o rapaz suspirou agarrando o arco e a aljava que a garota deixou cair e saiu da floresta acenando para a mãe da garota
— Ola, Senhora Laffrey! Procurando a Secilia?
A mulher olhava para o homem segurando um arco e andou calmamente em sua direção
— Sim, por acaso ela não estava com você novamente, estava?
A pergunta da mulher se seguia de um olhar rigido e inquisitor sobre o jovem, ela possuia longos cabelos negros que caiam sobre o ombro e usava um vestido azul sem muitos detalhes, porem nitidamente algo não convencional para aldeões.
— Não senhora, mas eu vi ela andando até as macieiras
O garoto apontava para as árvores atrás da casa onde se encontrava um aglomerado de macieiras, uma das rendas da cidade junto das uvas e a vinícola que plantavam.
— Aquela garota… eu já avisei para ela que não deveria vir aqui!
A garota saia de dentro da área das macieiras passando perto de outros dois aldeões que estavam colhendo maçãs com uma tonalidade incomum, sendo roxas na parte de cima e se tornando azul ao longo do resto da maçã, a garota pegava uma delas fazendo um sinal de silêncio para ambos que sorriam como se a garota fizesse isso constantemente, ela seguia por detrás das casas com a maçã e sorriu acenando.
— Estou aqui Mãe!
A garota gritava saindo do vão entre as casas segurando a maçã dando uma mordida na mesma e acenando para a mulher com a mão livre, sua mãe por vez cruzava os braços ao ver a Secilia sair com a barra inferior do vestido branco sujo de terra
— Veio pegar maçãs de novo?! Já falamos sobre isso, deixe isso para as empregadas, você tem outras obrigações e quanto a você senhor Clark, espero que a caça esteja rendendo bastante e que não esteja errando muitas flechas.
A mulher começava a reclamar com a garota enquanto se aproximava e então soltava um suspiro colocando a mão em frente ao rosto e olhando para o rapaz com uma expressão ameaçadora mas inquisitiva. Clark por sua vez percebia a ausência das flechas que usavam para treinar e que não estava com nenhuma caça.
— Eles estão mais difíceis de caçar, sabe… acho que estão ficando mais espertos.
A mulher bufava se virando e seguindo andando, Secilia sorria para ele acenando com a palma atrás de suas costas enquanto seguia com sua mãe
—
A garota abaixou a cabeça deixando a maça baixa ao lado de seu corpo e respondia de forma quase inaudível
— Como se ele se importasse…
— O que foi?
— Nada mãe, vamos?
A senhorita Laffrey suspirava por um instante e olhava para sua filha e abriu um leve sorriso no rosto
— O que acha de comprar algumas roupas para o festival? Seu pai está um pouco ocupado com a vinícola, então ele pode esperar um pouco.
Secilia erguia o rosto com um sorriso alegre para sua mãe, erguendo a maçã até o peito e colocando ambas as mãos em volta da mesma enquanto andava ao seu lado em direção ao centro da cidade.
Clark ficava para trás observando Secilia ir embora, por um instante ele soltava um suspiro enquanto o senhor que estava colhendo maçãs junto de sua esposa
— É melhor não pensar nisso rapaz, você sabe bem o que espera por ela.
— Mas ela não…
Ele se virava seguindo em direção ao local onde praticavam com uma expressão séria e fechada enquanto o senhor o observava e suspirava antes de voltar à sua esposa.
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