"Não sabemos sequer o que é o tudo, então, como podemos ter noção do que é o nada..."
???
Antes do tudo havia o nada, e antes do nada haviam os monstros; Uri, um desses monstros, cansou-se da balbúrdia e da azucrinação ao seu redor, então cobriu os demais monstros com o tapete cósmico, assim ficando sozinho, no vasto e profundo escuro, onde nada mais havia além dele. Com o tempo Uri se sentiu sozinho, até que abriu o seu corpo em busca de libertação. Uri morreu, seus órgãos explodiram e formaram aglomerados de matéria luminescente, fontes de calor no frio do abismo primordial.
Um destes astros, por sua vez, adquiriu consciência e poder.
- Quem sou Eu? Onde estou? O que é este lugar? - Ele pensa em seu âmago.
No entanto, opta por ignorar o existencialismo e admirar o seu arredor. Deu a si a missão de continuar com o progresso do que existia ao seu redor, reger a ordem daquele lugar que chamara de Universo, e então deu a si um nome: Deus.
O tempo passou e Deus se sentiu sozinho, então deu vida à sete anjos, os quais chamou de Arcanjos. Cada um portava a capacidade exímia de um dos fundamentos do cosmos no qual habitavam. Aórus era o primeiro deles, governando o período em que as coisas ocorriam; por sua vez vinha Assírius, regendo do micro ao macro todo o físico de seu arredor; em seguida Pampola, guiando a essência que os diferenciava dos astros inanimados; então Átheos, controlando a consciência e os pensamentos; logo após veio Hesterteo, que viria a se tornar um só com cada uma das linhas do vasto tecido; e por último deles Phobos, com habilidades estranhas de produzir e controlar os materiais encontrados em planetas.
Os sete serviram ao seu Pai e o auxiliaram na expansão do Universo, até que um dia resolveram se emancipar, para partirem rumo a reger seus próprios universos. Ao saírem, Deus havia criado um anjo que seria a mais exímia manifestação da luz, ele seria então seu serviçal e companheiro agora que seus filhos mais velhos haviam partido.
Um bom tempo se passou, os Arcanjos haviam formado um plano de dar ao Pai um presente para representar sua gratidão à liberdade e à vida.
- Vamos dar ao pai parte de nossa essência! Assim provaremos nossa devoção, respeito e agradecimento, além de deixar com ele sempre uma parte nossa!
Fundaram então os seus respectivos poderes em duas pérolas cada, as quais uma iria ficar em posse deles, enquanto a outra seria fundida em uma única jóia absoluta, a pérola "Azafrague".
A pérola então foi entregue ao serviçal, visando uma entrega que proporcionaria surpresa ao Pai. No entanto, os Arcanjos não sabiam que o anjo de luz havia se corrompido e sido banido dos céus, toda a maestria do Universo havia sido entregue em mãos larápias. Lúcifer rogou na pérola uma maldição: "fugirá de todo aquele ser que for proclamado imortal, dará salvação àqueles que a encontrem". Desde então, a jóia muda de local aleatória e constantemente por toda a extensão da malha estrelada.
Dizem que aqueles que encontram Azafrague têm direito a um desejo, será isso verdade? Com certeza isso explicaria a origem dos variados artefatos mágicos que conhecemos hoje em dia. [...]"
[Ramon]: Adira! Ei, Adira! - Chama. - Francamente, por que tem que ser tão diferente de todo mundo e ler com estes fones enfiados nos ouvidos... - Murmura.
A jovem garota de cabelo chanel preto e repicado, com olhos grandes e pele parda vê algo passando no céu pela janela ao lado de sua mesa — uma estrela cadente, talvez —, levanta-se para ver e acaba derrubando o celular. Quando vai pegá-lo do chão, ela se vira e acaba vendo Ramon gesticulando de forma inquieta.
[Adira]: Oi Ramon. Precisa de algo?
[Ramón]: Sim! - responde irritado - Já são nove e vinte da noite! Você nunca sabe a hora de ir embora, céus... Iremos fechar daqui a pouco.
[Adira]: Nove e vinte da noite? Ainda é cedo.
[Ramón]: Ora, só se for na sua casa, porque aqui fechamos antes das dez, eu quero ir logo pra casa.
[Adira]: Bom, pelo menos não me cutucou enquanto eu lia, hehe.
[Ramón]: Por que você não aluga os livros? Pode ler onde quiser se alugar.
[Adira]: Ora, a padaria é logo aqui do lado. Gosto de comer os pães de lá, e já que é longe de casa, aproveito pra ler aqui.
[Ramón]: Se é longe deveria ir embora mais cedo. E se algo lhe acontecer? A rua está um breu por essas horas.
Adira então sai da biblioteca. Enquanto Ramón tranca as portas, Adira desce as escadas e vê por detrás uma mulher esbelta, com longos cabelos soltos, pretos, lisos e uma roupa escura que cobria todo o corpo, certamente era Mei. Então Adira a chama.
[Adira]: Ei, Mei! - Grita.
[Mei]: Oh, Adira. Tudo bem? - Fala num tom sereno como sempre.
[Adira]: Sim, sim, tudo bem. E contigo?
[Mei]: Vim comprar alguns doces e salgados pro fim de semana. Tava planejando ir no cinema, talvez.
[Adira]: Ohh, cinema? - Exclama. - Vai ver qual filme?
[Mei]: Aquele sobre as reencarnações de um cachorro. Quer ir comigo?
[Adira]: Filme sobre cachorro, é?... Filme de cachorro é sempre triste, agradeço mas vou passar essa.
[Mei]: Ok. Vai pra escola amanhã?
[Adira]: Vou... - diz cabisbaixa.
[Mei]: O Ueno disse que vai levar torta salgada amanhã. Até gosto de torta, mas prende tanto nos dentes...
[Adira]: Uuui, adoro torta! De qualquer tipo. Esse negócio de grudar nos dentes faz parte.
[Mei]: Bom, eu vou pegar o ônibus aqui. Você vai a pé pra casa, certo?
[Adira]: É, eu moro lá no lado oposto.
[Mei]: Ok, ok. Até amanhã então, Adira - Mei sobe no bonde elétrico e as portas se fecham. Adira segue andando até sua casa.
~21h57
Adira chega em casa e vai direto pro quarto, mas ouve sua mãe gritando do primeiro andar: "Vai tomar banho, Adira!" Então desvia seu caminho até o banheiro. Banho tomado e toma seu rumo à cama novamente. Senta-se e começa a ler um capítulo de mangá que havia saído três dias antes. Com seus fones no ouvido, Adira sente um estrondo, então tira os fones, não ouve nada e ignora. Continua lendo por mais algumas horas, até que vai dormir às 23h41.
No dia seguinte.
(06h15) Adira acorda, bebe achocolatado e o seu sono já se foi; cinco minutos depois ela está se vestindo; depois de mais três minutos está arrumando seu cabelo; três minutos depois está arrumando sua mochila, enfim dois minutos depois está saindo de casa às 06h28. No meio do caminho, às 06h38, Adira avista fumaça em um terreno baldio, então se aproxima para ver o que é. O chão está praticamente líquido, a temperatura está quente e o ar está espesso. No fundo do terreno ela encontra uma estrela (como a de Davi), tinha uma aparência negra e reluzente como pedras de obsidiana polida. Quando vai pegar a estrela, queima suas mãos, então a congela em um cubo e a coloca dentro de sua mochila. Se passaram mais cinco minutos, então ela se apressa no caminho para a escola, chegando às 06h54. Adira senta-se em seu lugar, ao lado de Mei, esperando a aula começar.
[Mei]: Bom dia.
[Adira]: Bo- inspira. - BOM DIA! - Diz ofegante.
[Mei]: Credo, o que houve? Veio tirar o pai da forca?
[Adira]: Ah é que eu achei uma coisa estranha no caminho pra cá, então gastei um pouco de tempo pra ver o que era. Acabei tendo que vir um pouco mais rápido por conta disso.
[Mei]: Ok então...
~07h00
O sinal soa estridentemente.
[Magalhães]: Bom dia turma...
[Anya]: Dia maravilhoso, professor...
[Magalhães]: Vejo que acordou de bom humor hoje (ou com um senso afiado de ironia)... Enfim, na aula passada estudamos o teorema de Tales, então hoje vamos estudar sobre o perímetro. Bom, a relação do perímetro pode ser representada pela sentença P = 4l. Dizemos que P é função de l, pois p & l são duas variáveis que se relacionam e [...]
De repente sente-se um tremor por toda escola, extremamente forte, a ponto de fazer com que todos fossem tirados do chão por uma fração de segundo. Todos se perguntam o que havia acontecido, já que não há terremotos naquela região. Adira então abre a bolsa e vê que, além do gelo ter derretido e molhado toda a sua mochila, a estrela que havia encontrado estava tremendo incessantemente, então ela vai com sua mochila até o banheiro.
No banheiro, uma fumaça espessa e vermelha como sangue começa a vazar pelas pontas da estrela, impregnando toda a cabine e o teto do banheiro como um todo. A fumaça começa a se reunir produzindo sons engraçados, até que se forma em uma pessoa extremamente alta. Ele usava roupas totalmente pretas que cobriam seu corpo por completo (um sobretudo que seguia até os tornozelos, calças de moletom, luvas e botas), no entanto, havia algo estranho... Seu "rosto" era uma máscara que pairava sobre o corpo - sem pescoço -, tinha sobrancelhas grossas, olhos grandes e pretos, uma boca enorme e cabelos de fogo. Parecia ter saído de um desenho animado.
[Nedz]: Salve. - diz num tom calmo e com olhar inexpressivo.
[Adira]: S-salve?... - responde confusa.
[Nedz]: De tantos lugares, por que no banheiro feminino? Deus... qual seu nome?
[Adira]: Completo?
[Nedz]: Puta que pariu, vey...
[Adira]: Completo é Adira Layla Sanchez.
[Nedz]: Muito prazer, Adira, o meu nome é Nedz. Tipo, é Ned com um "dss" no final.
[Adira]: Cara, você parece muito interessante, mesmo... mas realmente preciso que você me espere terminar a aula, tenho que estudar.
[Nedz]: Que horas são agora e que horas acaba?
[Adira]: Agora são 07h11, eu saio da escola às 12h35.
[Nedz]: Vai realmente me fazer esperar cinco horas?
[Adira]: É, infelizmente. Não posso perder aulas.
Adira volta para a sala.
[Mei]: O que raios aconteceu? - cochicha.
[Adira]: Cara, é muito estranho, te explico depois.
(Nedz): Será que ela vai demorar? - se pergunta sentado no gramado olhando para o céu.
~12h35
O sinal soa estridentemente
[Mei]: Vai almoçar?
[Adira]: Não, eh... Não, não vou. Já comi um pouco da torta que o Ueno trouxe. E também preciso fazer algo.
[Mei]: Ah... Ok.
Adira então corre procurando por um lugar vazio, até que encontra uma parte isolada do parque da cidade.
[Adira]: Pode aparecer agora! - diz baixinho perto da estrela. Adira sente alguém cutucando seu ombro e olha para trás.
[Nedz]: E aí.
[Adira]: Ué... - faz uma cara de confusa - Mas não tem que sair aquela fumaça pra você se materializar ou algo do tipo?...
[Nedz]: Sei lá, eu vim andando atrás de você o caminho todo.
[Adira]: Eu não te vi em momento algum, e eu tava olhando ao redor o tempo todo.
[Nedz]: KA KA - ri -, quem disse que eu andei pelo chão?
[Adira]: Você é muito esquisito...
[Nedz]: Obrigado!
[Adira]: Olha, eu vou chamar a minha amiga aqui pra saber o que fazer... A escola é a cinco minutos daqui, então ela deve estar acabando de almoçar quando eu chegar.
[Nedz]: ...
Adira chega na escola.
[Adira]: Ei, Mei!
[Mei]: Hum?
[Adira]: Lembra que eu te disse que aconteceu algo muito estranho?
[Mei]: Ahaaam.
[Adira]: Eu tenho que te mostrar esse algo estranho. Vem comigo, é ali na praça.
[Mei]: Tá bom.
Chegando na praça...
[Adira]: Olha, é nessa parte mais privada, aqui.
[Nedz]: E aí. - Acena.
Mei olha estranho para Nedz por algum tempo, com um olhar confuso e completamente estática.
[Adira]: He he... Mei, esse é o Nedz. Aconteceu o seguinte: no caminho pra escola, de manhã, eu vi que no terreno baldio perto da minha casa tinha fumaça, aí eu fiz o que qualquer pessoa faria, eu fui ver o que tava ac-
[Mei]: Cara, qualquer um passaria reto, Adira.
[Adira]: Bom, é como dizem, eu não sou todo mundo. Mas voltando... Eu achei a fonte da fumaça, e era essa estrelinha aqui, ó-
[Mei]: Sinto que o Ueno deveria participar desse debate.
[Adira]: Ah, é que ele já deve ter ido pra casa, e ele mora longe daqui...
[Nedz]: Como é esse tal de Ueno?
[Adira]: Ah, ele é moreno, tem uma personalidade enérgica e tá sempre usando uns tênis com solas de metal.
[Nedz]: Ok. - Nedz estala os dedos e Ueno aparece segurando sacolas de compras. - É esse aqui, né? Bate com a descrição, pelo menos...
[Adira]: MAS QUE PORRA TU FEZ CARA?
[Nedz]: A gente não queria ele aqui? Posso mandar de volta.
[Ueno]: Hã? Como eu vim parar aqui? Podia jurar que estava no caminho pra casa.
[Nedz]: Segundo as duas, aqui é "o parque a cinco minutos da escola".
[Ueno]: Ufa, achei que tinha ido pra um 'isekai', que susto.
[Mei]: O que é 'Isekai'?
[Ueno]: Mas quem é você? Tu é todo estranho, parece um personagem de fantasia. Além de ser bem alto...
[Adira]: O nome dele é Nedz, hoje de manhã eu en-
[Nedz]: PODE DEIXAR QUE EU SEI ME APRESENTAR?! - Grita. - Obrigado... Bom, eu me chamo Nedz.
[Ueno]: Caraca, que fiasco. Prazer te conhecer, meu nome é Ueno. Vou largar as sacolas aqui no chão, parece que o papo vai render.
[Adira]: Ok então... Bom, no caminho pra escola eu vi fumaça saindo de um terreno baldio, então fiz o que qualquer um faria, e eu fui ver o que-
[Mei e Ueno]: Qualquer um passaria reto.
[Adira]: Mas que porra mano, deixa eu terminar de falar. Retomando: eu estava indo pra escola e vi fumaça, então fui checar o que era. Chegando lá, eu achei ESSA ESTRELA BEM AQUI - inspira forte -. Daí ela tava muito quente, então coloquei ela num cubo de gelo. Só que o que acontece é que, pouco depois de chegar na escola, teve um tremor pelo prédio inteiro e eu fui checar minha bolsa e... - inspira forte - o gelo estava COMPLETAMENTE DERRETIDO. Então eu corri pro banheiro com a minha mochila, e quando eu peguei a estrela pra ver, começou a sair uma fumaça vermelha das pontas dela, e a fumaça se transformou no Nedz.
[Nedz]: Concordo com tudo o que ela disse.
[Ueno]: Compreendo, compreendo. Então você achou uma criatura mágica?
[Nedz]: Tá me chamando de "criatura"? - pergunta fazendo cara de tacho.
[Ueno]: Sei lá, você não me parece ninguém perigoso, parece até uma pessoa, como eu, a Adira e a Mei... Mas tenho um pressentimento.
[Nedz]: Qual?
[Ueno]: De que você não vai ser controlado pela Adira, de forma alguma.
[Nedz]: Nisso você tem razão! - Diz apontando para Ueno com um sorriso largo - Na verdade, este Artefato cumpre todo o seu papel por si só. Eu sou apenas um "guardião" dele, se preferirem chamar assim. Eu vou ensinar ao portador tudo sobre os poderes dele. - Termina a frase sorridente, porém altera para uma aura mais séria - No entanto, tem duas coisas que preciso saber, Adira. Primeiramente, preciso que dê um nome ao Artefato.
[Adira]: Qualquer nome? - Indaga.
[Nedz]: Qual achar melhor. - Responde sério.
[Adira]: Valdisney.
[Nedz]: Caralho mano, leva a sério a parada.
[Adira]: Ok, ok - respira fundo -. Adalberto.
[Nedz]: Adira... - Diz estressado.
(Continua...)
Comments (0)
See all