Era um dia comum na taberna de Ambrose. Mercadores negociavam pérolas, tecidos, madeira e o que mais que tivessem em estoque; caçadores de baleias gritavam e riam; piratas jogavam Blackjack ou Pôquer; e Cecília tentava atender e entregar todos os pedidos, se acotovelando por entre os clientes, cadeiras, e os músicos que transitavam pelo lugar.
Até mais e adieu, queridas espanholas
Até mais e adieu, moças da Espanha
Recebemos ordens de velejar pra Inglaterra
E talvez não voltemos a vê-las nunca mais
Vamos brincar e berrar, como bons marinheiros
Brincar e berrar no salgado mar
Até nós chegarmos ao canal da Inglaterra
São mais trinta léguas
Mas havia uma mesa cujos habitantes estavam relativamente calmos. Embora não estivessem berrando ou agitados como seus companheiros de bar, seus olhos fitos em uma caneca amarronzada denunciavam uma impaciência descomunal. Enfim, a caneca desce à mesa. Seu dono emite um leve arroto.
"Ei, Roque, conta de novo daquela vez que cês prenderam o Chacal!", pediu um dos que rodeavam a mesa.
"Eu já ouvi essa.", reclamou outro. "Conta aquela do caranguejo gigante que quase destroçou teu barco!"
"É verdade que cês encontraram a tribo de guerreiras nas Américas?"
Roque começava a se enfadar, mas no fundo ele gostava. "Calma, calma.", ele tentava controlar a enxurrada de pedidos. "Se tiverem paciência eu conto todas essas e outras mais...", e ele pausou por alguns segundos. "...mas alguém podia me dar uma motivação pra continuar nessa mesa..."
"Trote, é tua vez de pagar.", disse um dos piratas grandalhões da mesa.
"Mas eu paguei a última vez, Touro.", respondeu um pirata baixinho e magrelo. Touro responde fechando seu punho, e Trote retruca colocando uma moeda na bandeja de Cecília, que prontamente serve a Roque uma cesta cheia de batatas cortadas e assadas com queijo e ervas. O cheiro invade as proximidades da mesa, assim como os causos com que Roque entretinha os colegas da taverna.
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