Porra, eu to cansado. Cansado dessa merda toda. De acordar no mesmo lugar e fazer as mesmas coisas todos os dias. De sempre ouvir a mesma baboseira que ta tudo bem, tudo bem você ter uma vida mediocre, Tudo bem ninguem te querer por perto, tudo bem ter essa vida de merda, agora me da a porra do biscoito pra me alimentar. E eles estão lá ainda. Lambendo o rabo dessa corja que só sabe cagar na cabeça dele, e repetir as mesmas frases.
Eu tô cansado, tô cansado dessa merda. Quero ter a mesma vida deles, quero cagar em cima da cabeça desse monte de idiota que acha que a vida vai melhorar, só ficar repetindo a mesmas frases. Sim eu quero isso. quero essa vida também, e daí? não é esse o objetivo? Me fazer sentir um bosta e incapaz, ao mesmo passo que me faz desejar ser uma “pessoa melhor”, pois é isso que eu quero.
Já andei por todas as ruas que essa cidade miserável pode ter, até mesmo onde nem sequer tinha rua. Dormir em lugares nojentos e fedidos. Já fui confundido com morador de rua. Já dormi em pousada, e sim já tive a poha de uma casa.
Com tudo que se tem direito. uma mulher rabuda, que fazia tudo pra mim. calma aí, eu a amava, ah como amava. Ela era bem mais que só um par de pernas. Mas toda vez que a via caminhar na minha frente, ah, sim, sim! tinha tudo o que precisava. Seu nome? vai a porra, to muito chapado pra lembrar.
Mas eu lembro de algumas coisas sim. Das quais não me orgulho. Foi minha culpa mesmo, eu sei. Só de lembrar daquele rosto chorando, rosto que eu enchia de beijos,declarava poemas e músicas para ela em minha juventude, dormia comigo quase todas as noite. Os motivos das lágrimas ? sim, sim. Tem dúvidas? obvio que era eu porra.
Caralho, por onde começar. Bebidas, jogos, cigarro, vícios não é mesmo. Não dizem que é normal? fala sério cara, você tá me tirando!
O que é a porra de um homem sem um vicio. Onde vivemos, como vivemos. Precisamos, só um louco pra sobreviver a essa merda toda sem se quer beber uma biritinha, tá ligado? não? ah, então vai a merda.
Carmen me enxotou de casa, foi o dia mais doloroso da minha vida. Nem todos os litrões e drogas existentes faziam aquela dor no peito passar. Estavam me matando eu sei, talvez esteja, talvez… talvez seja o melhor. Ah cara, acho que ela estava grávida.
Na mesma noite, estava frio. gritamos uns com o outro, nossa como sou burro. Sai só com uma garrafa na mão, acredita? Pois é, mas não é por isso que sou burro. Sou burro por deixa-la sair da minha vida. Por dar dois fuck chutes na porta e tirá-la da minha vida, por não cuidar dela, como ela cuidou de mim. Burro por fazer isso com todos. Mas principalmente com Carmen.
Não devia ter deixado, mas o que mesmo ela estava falando? como iria saber, tava chapado demais para ouvir. Assim eu vivo agora, chapado demais para ouvir o que dizem, chapado demais para ouvir os xingamentos. Chapado demais pra perceber que a porra do cachorro mijou de novo na minha calça. Chapado demais pra ver mais uma briga de casal. Quem é aquele cara puxando aquela criança? não sei, não parece ser alguém que ela conheça, mas sei lá tô chapado demais pra tirar satisfação.
Carmen teria vergonha de mim agora. A última vez que me viu, meus cabelos e barba estavam enormes. Acho que envelheci, na rua não tem calendário sabe, não sei a quanto tempo to aqui. E afinal de contas por que isso seria importante. Iria chegar na porta da minha ex-esposa e dizer: “iai, minha nega, chamou a galera pra festa ? que tal a gente se curtir um pouco antes do jogo do mengão, em?”, afinal de contas talvez ela nem esteja mais lá
E agora também, não é como se eu pudesse simplesmente voltar. Você viu aquela placa? porra onde que eu to? O que está acontecendo? aquela erva só podia ta estragada. eu já comi hoje? Quando foi a última vez que tomei banho? Merda tô sóbrio demais. Que frio, quem são essas pessoas ? que sentimento é esse? e se eu voltar correndo e pedir desculpas, não to conseguindo respirar. Droga o que tá acontecendo? já tem gente se aproximando, tenho que ir.
Não consigo correr muito. Opa, acho que vi um buteco, vou passar lá. “hey?! passa uma birita ai? - como assim não? qualé cara, pendura aí que depois te pago!” geralmente eu apanho, ou as pessoas simplesmente me ignoram até eu mesmo cansar de esperar. dessa vez tinha algo de diferente. “ quê, que é em! nunca viu um viajante (sim é assim que gosto de me chamar)? vai encarar? Vem pra cima otário não tenho medo não”, acho que to ficando tonto, o que essas pessoas tão fazendo? Porque estão me encarando, preferiria estar apanhando até a morte agora.
Por que isso tá acontecendo comigo? Cadê aqueles coachs nessas horas? seja sua melhor versão? só isso que tem a me dizer? A melhor versão é o teu rabo. Não sei por que não to conseguindo me mexer, mas pelo menos algumas pessoas já foram embora. Droga ninguém trouxe uma birita. to sentido um quentinho na minha perna. A seu cachorro filho da puta!
Cara to na merda, na merda literalmente. Talvez passe um caminhão desgovernado por aqui, sabe. Vai que a minha má sorte serve pra algo. Tá ficando escuro. odeio as noites nas ruas. odeio está na rua. Então vamos lá né, um viajante não tem como viajar largado no chão. Vou ter que ser um viajante arrastado mesmo.
To vendo daqui uns pedaços de madeira, acho que consigo chegar até lá. É deve servir. quem diria, abandonado por Carmen, sabe-se lá deus onde estou. Agora com esses pedaços de madeira podre, fazendo de muleta, com as pernas mijadas por cachorros, e sem movimento algum, e o pior de tudo: Sóbrio.
A quanto tempo não me sinto assim? não consigo viver assim. To cansado de estar assim, tô cansado dessa merda. Cara eu não quero tá sóbrio, não pra sentir essa dor, talvez eu volte, e se ela não me aceitar? mas afinal onde eu tô? só faltava essa, sóbrio e perdido. Preciso beber, pelo visto comer algo também, nesse lixo será que não tem nada? já to na merda mesmo. Ah, cara, o que eu to fazendo da minha vida? foda-se, não lembro qual foi a ultima vez que comi mesmo. Foda-se essa vida de viajante, fodace tudo, fodace a carme, foda-se eu também, mediocre de merda.
Que se foda, é isso! não resta nada, não me resta nada. Dói, dói se sentir cansado, dói estar sóbrio, doi esses pedaços de madeira debaixo do braço, dói esses hematomas espalhados pelo meu corpo, dói estar com fome. Mas principalmente dói estar sozinho.
Sim, queria a vida daqueles caras, também queria descer um cacete, em todos que estavam me olhando com cara de pena. Mas não consigo. Não consigo sair daqui, não consigo me levantar, não consigo achar a casa de Carmen de volta. não consigo me desculpar, não por tudo que fiz, não por tudo que sou. Não consigo mudar.
Talvez esse seja meu destino. Me arrastar, me arrastar e corroer tudo que sou e já fui. Me remoer, por tudo que não consegui ser.
Um curta coletânea de mini contos que já escrevi e que não queria apenas excluir ou esquecer, são ruins obviamente pois sou uma "escritora" medíocre >:
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