Em meio as montanhas havia uma grande fazenda localizada próximo a um pequeno vilarejo que ficava muito distante de qualquer cidade. O dono dessa fazenda se chamava Dominick Lionel e ele sempre estava fora, vivia na cidade e raramente visitava sua própria fazenda.
Até que em um dia frio e escuro pelas nuvens que anunciavam o início do inverno, tão rápido quanto o vento uma notícia chegou ao pequeno vilarejo, Dominick estava retornando a sua fazenda sozinho a cavalo, isso soa estranho para os moradores já que ele sempre voltava com uma pequena caravana ou em uma carruagem, mas o'que mais os deixou perplexos foi o'que ela estava trazendo em seus braços, enrolado em um simples enxoval branco, Dominick estava trazendo consigo um bebê? Todos estavam curiosos sobre o porquê de ele retornar sozinho e ainda consigo trazer um bebê, "seria a filha dele?" "Ele era casado?" "Onde está a esposa dele?". O vilarejo virou um verdadeiro burburinho sobre o motivo por trás da sua volta e do pequeno bebê que ele vinha trazendo.
Mas enquanto todos estavam criando teorias e conspirações, Dominick acabava de contornar o vilarejo e chegar em sua fazenda que ficava um pouco mais afastada. Ao passar pelas porteiras da fazenda ele é avistado do imenso e antigo casarão por Ayla a governanta que se surpreende ao vê-lo chegando, desacreditada logo desce para recebê-lo.
Ele para cavalo perto da entrada do casarão, desce e dá as rédeas para um de seus criados o levar para o estábulo.
-Bem vindo, o senhor já retornou? Achei que iria vir no final do…
Ao perceber o bebê em seu colo, Ayla fica confusa.
-Senhor, de quem seria?...
Dominick parece um pouco abalado e cansado. Mas responde como se não fosse nada importante
-Minha filha, vamos entrar, vai começar a chover.
Dominick entra antes que Ayla pergunte mais alguma coisa, ela tranca a porta e o segue, passando pelo salão de estar e indo direto para a imensa escada de madeira na lateral, ele sobe com passos pesados e arrastados, ele segue por um corredor escuro que leva até seu quarto no segundo andar. Ayla o segue de perto carregando a pouca bagagem que ele havia trazido. Ele coloca a bebê com cuidado sobre a cama e pede para Ayla fechar a porta.
-Ayla, você de longe é a pessoa em quem mais confio. Quero que você me ajude a cuidar dela.
Dominick olha para a bebê com semblante de preocupação. Ayla raramente o viu assim, e antes que percebesse ele a olha de volta a fazendo vacilar por um momento.
-Ah, Sim senhor!
Dominick pede para que Ayla se aproxime para ver a bebê e logo em seguida ele tira o pequeno gorrinho revelando as orelhas do bebê. E ela se surpreende com as orelhas pontudas e os grandes olhos verdes e pupilas minúsculas da pequena bebê, ela dá um passo pra traz e cobre a boca com as mãos em choque. Dominick olha para Ayla com seriedade.
-Ela é amaldiçoada, por isso não posso cuidar dela na cidade. Eles iriam tirar de mim, vou cuidar e escondê-la por aqui. Conto com você para me ajudar a criá-la e a escondê-la, Ayla.
Mesmo em choque por ser a primeira vez que ela vê um Amaldiçoado, ela sente o olhar de Dominick sobre ela, ele não era apenas o seu patrão, eles cresceram juntos naquela fazenda, seu laço com ele ia além de qualquer vínculo empregatício. Depois de um breve momento ela concorda com a cabeça mas não deixa de sentir medo pois várias histórias de terror sobre “amaldiçoados e possuídos pelo demônio” que ela sempre ouvia na infância voltam em sua mente. Então após refletir por alguns instantes, compartilhar com Dominick seus receios.
-Senhor… mas como vamos escondê-la dos outros empregados?
-Vamos manter poucos empregados na casa e concentrá-los no campo, vamos demitir os que cometeram deslizes e vamos deixar na casa somente os indispensáveis. Você escolherá a dedo. E em nenhuma hipótese deixará que as orelhas dela sejam vistas por ninguém, por isso deixe-a de gorro até que seus cabelos cresçam e cubram suas orelhas.
Ayla, não se surpreende por Dominick já ter um plano em mente.
-Certo, entendi.
Ela aceita as ordens de Dominick e apesar de estar cheia de dúvidas, ela guarda pra si mesma pois raramente ela via Dominick tão sério e abatido. Ela se aproxima um pouco receosa, mas logo toma a bebê no colo e a olha nos olhos, tão inocentes quanto de qualquer outra bebê. "afinal que culpa teria esse bebê para ser amaldiçoado por alguém?" Ela pensa consigo mesma, ao mesmo tempo que tenta aceitar que é apenas um bebê e que não tem culpa de nada.
-Cuide dela, eu vou tomar um banho.
Dominick já abrirá a porta quando Ayla lembra e pergunta.
-Ah, Senhor… Qual o nome dela?
-Nome?...
Ele pára e começa a pensar consigo mesmo. Ele suspira enquanto coça a cabeça.
-Eu.. Ainda não escolhi um nome pra ela, depois eu vou pensar nisso.
Ayla se surpreende com o descaso de Dominick e sem perceber faz uma cara de desaprovação. A chuva começa a ficar mais forte acompanhada de raios e trovões, um raio cai próximo dali fazendo um grande estrondo, a bebê se assusta e começa a chorar, e Ayla tenta acalmá-la.
-Calma, calma. Tá com fome? Vou fazer algo pra você, hmm… você bebe leite… não é? Não se preocupa seu pai irresponsável já volta… Como ele não teve nem a decência de te dar um nome?
Ayla não percebeu mas Dominick ainda estava parado do lado de fora da porta as escutando, refletindo sobre como acabou nessa situação. Enquanto isso, Ayla a nina em seus braços sorrindo para acalmá-la, e observa ao longe o temporal.
-Amanhã será um dia cheio…
Dominick por um instante tem em seu semblante arrependimento, mas logo continua seu caminho para o banho, afinal ele vinha viajando a dias.
Depois de muita organização, logo todos já estavam prontos para dormir. Ayla tinha preparado um berço antigo no quarto de Dominick a seu próprio pedido, ele estava sentado na sua cama escorado no berço olhando sua filha dormir. Ayla estava de saída com uma das velas na mão para iluminar seu caminho no escuro casarão.
-Já vou me retirar, senhor. Se precisar de algo me chame.
-Sim, certo…
-Boa noite, senhor.
Antes que possa sair ela é interrompida.
-Helena.
-Perdão?
-O nome dela será Helena.
Ayla sorri enquanto o observa pelas costas
-Helena é um lindo nome, senhor.
-... Obrigado.
Ayla fecha a porta com delicadeza para não fazer barulho. No quarto de Dominick sobre o criado mudo apenas uma vela ilumina o cômodo. O quarto estava calmo e escuro, somente o som da chuva preenchia aquele silêncio. Dominick observava sua filha dormir em completa paz e relembra das noites em claro na estrada tentando fazê-la parar de chorar.
-Você é uma menina sortuda, né? Você pode dormir tranquila, está sob um teto agora.
Aquela noite, apesar de barulhenta pelos frequentes trovões, foi a mais tranquila que Dominick e a bebê Helena tiveram na última semana, ambos dormiram sem interrupções a noite toda. Essa foi a primeira noite de Helena na sua nova casa.
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