— Inacreditável — Erin suspirou, andando de um lado a outro no corredor próximo de sua sala de aula na universidade. O azar a perseguia em momentos cruciais ou era ela quem se esbarrava nele sem perceber?
Havia passado os últimos quatro anos estudando que nem louca, renunciando a todo tipo de diversão para concluir sua primeira graduação, não apenas por ser bolsista; mas para ter notas impecáveis em seu currículo estudantil. Havia se desdobrado para planejar um projeto perfeito para o trabalho de conclusão do curso de Publicidade e Propaganda, e agora seu currículo escolar e último seminário estava comprometido pela ausência de James Young, o responsável por uma parte crucial da apresentação de seu grupo.
Tudo estava perfeitamente planejado e ensaiado, até a mensagem de James chegar a pouco, avisando que ele não chegaria a tempo. Agora, seu grupo precisava desesperadamente de uma solução para o desastre que estava prestes a cair sobre eles. Seu desespero cresceu ainda mais após ler a mensagem desaforada que chegou em seguida, dizendo que ela era excelente em memorizar textos, quando só conseguia memorizar textos após dias de repetição. Mas justo naquele projeto, só havia escrito e memorizado a sua parte.
Um erro fatal… e percebeu tarde demais. Quem imaginaria que ele não apareceria na apresentação do trabalho mais importante da graduação de ambos?
— Ele acha que consigo memorizar textos em minutos? — resmungou. — Não é possível que justo em meu último trabalho vou me ferrar!
Erin apertou os punhos contra as têmporas e desviou as vistas da parede a tempo de ver Woong e Iúna caminhando na direção dela. Pela fisionomia sem esperanças, não traziam uma boa notícia.
— O que eles disseram? — questionou, já temendo a resposta.
— Que não podem mudar o cronograma, nem atrasar. Não seria justo com os outros grupos, pois eles tiveram o comprometimento de chegar aqui antes do horário — Woong enfatizou as últimas palavras imitando o tom dos professores.
— Caramba. Exatamente o que eu temia. — Erin suspirou, pressionando a mão direita contra o rosto. James… Ugh.
Woong apoiou as mãos nos ombros dela e os apertou de leve, numa tentativa falha de acalmá-la.
— O que faremos? — Iúna perguntou, os olhos da cor de chocolate estreitando-se ligeiramente enquanto mordia as unhas. — Não estou preparada para começar a apresentação. Se eu tivesse me preparado, não me importaria em assumir a parte do Jamie, mas odeio ler na frente das pessoas e passar a impressão de que não sei do que estou falando…
Embora Iúna fosse excelente falando em público, com seu timbre de voz claro e amável, não era justo obrigá-la a abrir a apresentação. Por isso, Erin forçou um sorriso para tranquilizá-la.
— Não vou te pedir para fazer isso, Iún. — Conferiu a hora mais uma vez. Faltavam cinco minutos para a apresentação deles. Caramba!
Com os dentes prendendo o lábio inferior, Erin virou a cabeça, tentando encontrar uma solução.
E então o viu.
Parado próximo a um pilar que dividia o andar, ele conversava com uma veterana ruiva e exalava aquela confiança irritante. As semelhanças físicas com James eram óbvias: cabelo escuro, encaracolado e rebelde, o dele caía abaixo da nuca. Jake, no entanto, ao contrário do irmão gêmeo, tinha um visual descontraído, usava brincos nas orelhas, tinha um piercing na sobrancelha, e enquanto Erin o observava, jogou as ondas escuras para trás com as mãos, num movimento que sua cabeça seguiu. As pálpebras alongadas fechando com a risada forçada.
Erin engoliu em seco, o coração batendo ligeiramente mais rápido. O comportamento dele era muito diferente da época em que estavam no fundamental e no ensino médio, antes de brigarem e passarem de amigos a estranhos. Mas algo permanecia o mesmo e era inegável: ele continuava sendo atraente aos olhos dela. Na verdade, se ela fosse honesta, admitiria que Jake Young havia se tornado muitíssimo mais bonito. Até demais, para o gosto dela.
A garota ruiva puxou o colarinho da camisa dele, aproximando o rosto dos dois, mas ele virou o rosto dando um passo para trás. E seus olhos escuros, igual à noite sem lua, encontraram os de Erin o observando fixamente.
Ela piscou, o rosto corando, mas reuniu todo o desespero dentro de si e se aproximou dele com passos decididos. Estava procurando uma solução quando o viu. Não podia ser coincidência. Ele era o único que poderia salvá-la daquela situação fatídica. Afinal, era irmão gêmeo de James. E, por sorte, estudava em um departamento diferente. Os professores do departamento de Comunicação Social não o conheciam e se perguntassem algo sobre seu estilo meio roqueiro, bem, poderiam pensar no que dizer se ou quando acontecesse…
Além disso, Erin tinha certeza de que ele não se importaria de parecer despreparado por precisar ler o slide da apresentação.
— Jake. — Parou na frente dele sem desgrudar de seu olhar, que a seguiu durante todo o percurso. — Preciso de um favor.
Jake a observou de cima a baixo e depois olhou para algum ponto atrás dela. Ele se inclinou para perto de Erin, os brincos em suas orelhas balançaram quando fez isso, e os botões da camisa de linho escura — abertos até o meio do peito — revelaram mais um pouco de pele com seu movimento.
Erin engoliu em seco e desviou os olhos para as botas pesadas que ele calçava.
Jake Young não só havia se tornado muitíssimo mais bonito e atraente como seu corpo também havia se tornado muito mais atlético.
— Não faço favores. — sussurrou no ouvido dela, fazendo-a se encolher um pouco. A umidade de sua voz enviou um arrepio que se alastrou pelo âmago dela.
Ugh.
— Então, Jake… — a ruiva empurrou Erin para o lado e segurou o rosto dele. — Me leve com você a essa viagem. — Ela mordeu o lábio inferior, o dedo passeando pela pele exposta na camisa dele.
— Eu já disse. Já tenho alguém pra levar. — Jake afastou as mãos da moça com um gesto educado.
— Melhor companhia que eu, ela não deve ser! — A moça insistiu.
Erin soltou um longo e audível suspiro, verificando o celular. Quatro minutos.
— Ah, ela é ótima e muito ciumenta também. Por isso, você deveria procurar outra companhia. — Jake abriu um sorriso apologético para a moça e virou o corpo na direção de Erin, que continuava parada feito estátua perto deles.
Ele sorriu para ela de maneira suspeita e passou o braço ao redor dos ombros dela, puxando-a para perto de si. O cheiro de baunilha na pele de Jake mergulhou em seu nariz, que estava sendo pressionado no peito dele. Ela o encarou boquiaberta e tentou abrir os braços para se soltar. Porém, seus esforços foram inúteis. Ele a manteve no lugar.
— E agora que ela tá aqui, preciso explicar essa situação chata pra ela. Foi mal. — Com uma piscadela para a ruiva, Jake guiou Erin pelo corredor até o outro lado do andar, onde entrou na saída de incêndio, fechou a porta e parou, observando-a com os braços e pernas cruzados, a lombar apoiada no pilar da escada que ligava o andar em que estavam ao andar de cima e ao de baixo.
Era difícil interpretar o olhar no rosto dele. A luz de emergência piscava, formando sombras em suas feições. Indiferença? Curiosidade? Diversão? O que já era complicado de decifrar se tornou ainda mais crítico com as sombras que o cobriam.
— Imagino que seu favor tenha a ver com Jamie não ter chegado ainda. — Jake observou, enquanto mexia no piercing em sua sobrancelha esquerda.
— É. — Erin concordou. Não havia por que mentir. Os dois moravam na mesma casa, era óbvio que ele sabia que o irmão não estava presente e o porquê. — Você sabia que nossa apresentação final é hoje, né?
— Se não soubesse, a roupa combinando entre você e seus amigos seria uma grande pista — retrucou com um meio-sorriso dançando nos lábios ao apontar com o queixo para a camiseta preta que ela vestia com o nome da agência do grupo dela.
— Então por que não acordou o Jamie antes de vir? — Ela ignorou o tom debochado e colocou as mãos na cintura. — Você podia ter acordado ele!
Jake a olhou de cima a baixo com a sobrancelha esquerda arqueada.
— Não sou babá do Jamie. E ele não dormiu em casa.
Caramba! Isso explicava por que James recusou todas as chamadas de vídeo que ela fez e disse que não podia atender porque supostamente havia acabado de sair do “banho”.
— Se era isso que queria dizer, vou nessa, tenho mais o que fazer. — Jake se desencostou do corrimão e girou o piercing na sobrancelha esquerda.
— Espere! — Erin segurou o braço de Jake. — Não foi por isso que te chamei.
Jake olhou para a mão no braço dele e depois para a hora no relógio de pulso no braço livre. O cabelo ondulado enrolou no lóbulo da orelha e lhe tocou o ombro quando inclinou a cabeça de lado. O perfume almiscarado e agradável de Jake se misturava com o ar ao seu redor. Erin prendeu a respiração quando ele a encarou arqueando uma sobrancelha.
As palavras cambalearam para fora da boca dela:
— James disse que não vai chegar a tempo da nossa apresentação e os professores não aceitaram nenhuma das nossas sugestões, se não apresentarmos o trabalho agora não teremos outra chance. Você pode se apresentar no lugar dele? Por favor? — Erin apertou os lábios, salientando os olhos e as sobrancelhas enquanto piscava devagar. Sua melhor cara de pena, modéstia à parte. Isso sempre funcionava com o Dante, seu irmão mais velho, e com os membros de seu grupo… Mas aparentemente não com o Jake.
Ele uniu os braços novamente, um sorriso divertido arqueando as laterais da boca.
— Por que eu apresentaria um trabalho que não é meu?
— Para salvar a nota do seu irmão? — Ela abriu um largo sorriso. — Você não pode quebrar essa para nós?
— E o que eu ganho com isso?
O sorriso dela murchou e seus ombros caíram.
— A gratidão eterna do meu grupo? Seu irmão também faz parte dele, sabe.
— James é grande o suficiente pra lidar com as consequências das escolhas dele.
Erin respirou fundo, tentando coletar a paciência no ar. Jake não era obrigado a ajudá-la, claro. Mas não podia abrir uma exceção, pelo amor e amizade que ela se lembrava existir entre ele e o irmão gêmeo?
— Mas… — ele prosseguiu, enfiando as mãos no bolso da calça denim enquanto falava: — Posso te ajudar se fizer algo por mim em troca.
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