Era uma manhã triste e fria. Pequenas gotas de um leve sereno deslizavam pelo céu cinzento, enquanto o dia, envolto em melancolia, parecia suspenso no tempo. Não se ouvia o canto dos pássaros, tampouco o som agitado da cidade. Apenas o vento sussurrava sua infelicidade, como se carregasse o peso daquela dor.
Um grupo de pessoas se reunia em silêncio, buscando consolo mútuo. Entre os rostos abatidos, um chamava mais atenção: o de um jovem rapaz moreno, de cabelos cacheados. Seus olhos, fixos no túmulo à sua frente, transbordavam um vazio que palavras não poderiam preencher. As lágrimas, presas como um nó em sua garganta, refletiam a incredulidade que o consumia.
— Ravi! — chamou alguém, a voz cortando o silêncio.
Mas ele não respondeu. Ainda perdido em seus pensamentos de dor, seus olhos permaneciam presos à lápide. Ele não podia — ou não queria — aceitar aquela realidade.
— Ravi! — insistiu a voz, agora mais próxima.
— Precisamos ir.
Sem uma palavra, Ravi deixou-se conduzir, seus passos pesados como a atmosfera ao redor. Entrou no carro que o levaria para longe daquele lugar sombrio, mas a dor permaneceu, como uma sombra que ele não podia escapar.
Ao chegar em casa, a porta rangeu baixinho, como se também compartilhasse da dor de Ravi, simpatizando com sua alma abatida. Ele caminhava pelos cômodos como um espírito errante, arrastando os pés. Cada som que ecoava nas paredes parecia mais aterrorizante do que qualquer outra coisa no mundo, pois não eram apenas sons — eram ecos do passado.
Na cozinha, ele ouviu, clara como o dia, a voz gentil e carinhosa que tanto amava:
— Ravi, meu amor, pode me ajudar com esse bolo?
Ele parou, congelado no lugar, e murmurou roucamente, como se tentasse reviver aquele instante:
— Eu ajudo sim...
Mas, como fumaça ao vento, a lembrança se desfez. Ravi sacudiu a cabeça e seguiu em direção ao quarto, tentando escapar do peso sufocante de sua própria mente.
Quando abriu a porta, encontrou o espaço limpo, mas completamente desorganizado. Era como se o quarto fosse um reflexo exato de sua mente: confusa, caótica, e cheia de fragmentos que ele não sabia como juntar. Sem nem mesmo tirar as roupas amarrotadas e sujas pelo dia, ele deixou o corpo cair sobre a cama.
Com os olhos fixos no teto, enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno isqueiro de metal. O objeto, desgastado pelo tempo, tinha uma gravura feita à mão: “Com amor, mamãe.”
Ravi segurou o isqueiro com força, sentindo a textura das letras sob os dedos. Ele sabia, em seu íntimo, que jamais conseguiria usá-lo novamente sem ser engolido pelas lembranças. Então, finalmente, aquela lágrima que ele segurara por tanto tempo escapou. Uma lágrima que trouxe consigo uma enxurrada, um rio de dor e tristeza acumulada.
Ele chorou. Chorou pela perda, pela saudade, pela impotência e pelo vazio que agora ocupava o lugar da pessoa que ele mais amava. Suas lágrimas turvaram sua visão, até que os olhos cansados se fecharam, e, rendido ao peso do dia, Ravi finalmente sucumbiu ao cansaço.
— Ravi! — uma voz o chamou, suave, mas carregada de urgência.
— Meu precioso menino, levante-se!
Ele abriu os olhos lentamente e a viu. Sua mãe estava ali, tão linda e deslumbrante quanto ele se lembrava. Sua pele dourada reluzia como o sol, e seus cachos, macios e fluidos, pareciam as ondas do mar. Ela estava como sempre fora: forte, graciosa e cheia de vida.
— Ravi, você precisa ir — disse ela novamente, com uma preocupação evidente nos olhos.
Ele permaneceu em silêncio, lutando contra o significado das palavras.
— Levante-se e vá! — ela insistiu, sua voz mais firme.
Ravi balançou a cabeça, recusando-se a ceder.
— Eu não vou a lugar algum sem você, mãe! — respondeu, sua voz embargada pela emoção. — Me desculpe, mas dessa vez eu não vou te obedecer.
Ela o encarou por um instante, e então, com um carinho característico, o abraçou apertado. Deslizou os dedos suavemente pela testa de Ravi, afastando seus cabelos até tocar o topo de seu nariz — um gesto que ele conhecia tão bem.
— Meu caminho já chegou ao fim, meu menino — disse ela, sua voz cheia de ternura. — Mas o seu ainda não. Você precisa seguir em frente.
O abraço apertado deles foi interrompido quando ela olhou ao longe. Seus olhos se encheram de preocupação, e a urgência em sua voz retornou.
— Ravi, você precisa ir!
— Já disse, não vou! — ele insistiu.
— VOCÊ PRECISA IR! — ela gritou, um desespero que cortava o ar como uma lâmina.
Ravi balançou a cabeça, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— EU NÃO VOU! — berrou, sua voz reverberando como a de uma criança perdida.
Mas, de repente, o vazio. Sua mãe não estava mais ali. Ela parecia gritar ao longe algo, mas nenhum som saía de seus lábios. Ao seu redor, uma cortina de fumaça começou a se formar, densa e sufocante. Ela ganhou força, obscurecendo tudo até que Ravi, tossindo e lutando por ar, abriu os olhos.
O cheiro de fumaça invadiu seus pulmões. As chamas já consumiam seu quarto, vermelhas e vorazes, transformando tudo ao redor em cinzas. Ele pulou da cama em um salto, agarrando a primeira coisa que viu: sua mochila, chamuscada nas bordas.
Quando correu em direção à porta, percebeu algo no chão. O isqueiro. Ele não podia deixá-lo para trás. Ravi voltou para pegá-lo, mas as chamas se intensificaram, lambendo as paredes e se aproximando com uma ferocidade incontrolável. Não havia mais tempo.
Com o isqueiro apertado na mão, ele correu e saltou pela porta, atravessando o caos em um último impulso. Atrás dele, as chamas engoliram o que restava de sua casa, deixando apenas cinzas e fumaça.
Quando se levantou, ofegante, percebeu que não estava mais onde esperava. À sua frente, uma estrada de terra se estendia, ladeada por plantas exóticas e flores vibrantes. O ar tinha um cheiro cítrico e suave, tão distante do cenário caótico de poucos segundos atrás.
Confuso, chocado e exausto, Ravi caiu de joelhos no chão poeirento. Sua mente estava à beira do colapso. Ele finalmente se deixou tombar, deitando-se na poeira, enquanto o peso do momento o puxava para o silêncio.
Após a perda devastadora de sua mãe, Ravi é transportado para um mundo enigmático, repleto de paisagens extraordinárias e criaturas desconhecidas. Nesse novo universo, onde as leis da realidade são diferentes, Ravi descobre um caminho para superar sua dor ao aprender a seguir seu próprio fluxo. uma misteriosa força que conecta o equilíbrio interno com o ambiente ao redor. Enquanto explora esse mundo fascinante.
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