O campo de batalha. O único lugar no mundo onde o assassinato é uma virtude.
Ondas de soldados se chocando como relâmpagos em uma tempestade. Atacando, defendendo. Uma dança violenta onde as antigas canções de glória e lealdade são esquecidas, dando lugar a gemidos dolorosos e gritos de angústia vindos de corações jovens prestes a serem silenciados.
Rostos contorcidos congelados em uma última súplica. Cadáveres cobrindo o chão, inimigos e aliados, agora unidos neste carpete pútrido como iguais perante os necrófagos.
Um soldado se arrasta para longe do confronto. Seis pernas magras tremem em espasmos desesperados, os músculos contraídos fracos demais para suportar seu próprio peso. Ele abre a boca, tenta chamar por ajuda, mas o único som que consegue produzir é um chiado vacilante.
Não há muito que um cupim possa fazer quando seu pequeno corpo macio fica preso entre as poderosas mandíbulas de uma formiga. Seu abdômen está cortado ao meio, arrastando-se atrás dele como um pedaço inútil de carne, ainda pulsando contra a terra em uma tentativa instintiva, mas fútil, de manter-se vivo.
A poucos passos do moribundo, o inimigo a dar o golpe fatal também sofre. Feromônios emitem sinais de socorro, a formiga chama por suas irmãs, estalando as mandíbulas em cliques frenéticos, mas ninguém se atreve a resgatá-la. Pernas e antenas imobilizadas, coladas por uma substância tão viscosa quanto a seiva que escorre das árvores. Seu corpo um mero obstáculo no caminho do exército.
Guerras coloniais como essa podem se estender por horas ou até mesmo dias. Centenas de soldados prontos para matar e morrer em nome de suas rainhas. Comandados não por capitães e generais, mas por sinais químicos complexos que transformam indivíduos em um único superorganismo. Mentes e corpos em perfeita sincronia.
Ao amanhecer, os sobreviventes se dispersam. Companheiros caídos são deixados para trás sem relutância. Alguns ainda vivos, mas feridos demais para servir à colônia.
Bestas envoltas em penas e escamas se aproximam com olhares curiosos e bocas famintas. Suas línguas longas e finas varrem o chão, lavando o campo de batalha de seus pecados. Quaisquer traços de uma guerra brutal são completamente erradicados e quem saiu vitorioso no final pouco lhes importa. Formiga ou cupim, ambos têm o mesmo gosto quando engolidos inteiros.
Tão repentinamente quanto surgiram, as bestas vão embora. Os despojos da guerra não são suficientes para satisfazer sua fome. Elas farejam em busca de mais, mas seus narizes só conseguem captar partículas finas de poeira que irritam e machucam. O ar está cada vez mais quente e seco, e não há nuvens no horizonte.
Com vocalizações curtas, elas se reúnem e correm para além do que antes era seu território. Mesmo que o caminho seja perigoso e o futuro incerto, ainda é melhor tentar a sorte em fronteiras desconhecidas do que lutar por migalhas em uma terra morta.
Um dia, elas também perecerão. Serão apagadas e esquecidas para dar lugar a novas criaturas. A vida continuará a repetir seu ciclo enquanto ainda existir nesta terra.
Mas o ar está cada vez mais quente e seco, e não há nuvens no horizonte…

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