Vou narrar oque aconteceu nuns poucos minutos em uma fria nave de aço, que para a moça já fora de certo modo aconchegante, agora trazia apenas ódio e rancor, sabe-se Deus de onde, pois quem os sentia, havia os criado de sua própria cabeça.
Neste momento, acompanhamos uma garota a correr, uma garota que não acredita no futuro, que pensa ser a salvadora. Mas não a salvadora dos homens. Ela agora tão distante de seus amigos quanto de sua terra natal, lugar onde sem querer pode ter pensado que as pessoas valiam a pena, que ela valia.
Ela estava atualmente fugindo de quem mais amava, fugindo da morte, mas não porque desejava viver, e sim por ser a maldita vilã, uma vilã que corria para cumprir seu cruel objetivo, cruel para todos, principalmente para si mesma.
Os tiros a perseguiam, assoviando uma canção de ninar, tentando colocá-la para dormir, mas ela os ignorava, não poderia desistir, assim como lhe ensinaram. Mas se uma bala lhe atingisse o crânio, acabando com sua dolorosa missão, não teria desistido, teria tentado até o fim certo? Certo.
Infelizmente, nada lhe tirou a vida antes que chegasse até a porta, trancasse-a e liberasse o gás tóxico sob quem amava.
Está feito, falta pouco para a vilã alcançar seu objetivo. Ela viu tudo à sua volta girar, caiu de joelhos no piso metálico e lágrimas espessas rolaram de seus olhos, a menina não entendia, deveria estar feliz.
Já não via nem ouvia nada, sua mente se dividia pela culpa de matar seus amigos e a euforia de ter deixado a parente falecida orgulhosa.
Até que sentiu um toque reconfortante no ombro, e saindo do transe percebeu que não apertara o botão para matar seu seguidor, um traidor que se aproveitando de sua situação, havia liberto suas vítimas. Agora ajoelhada a sua frente estava a pessoa de quem tentara tirar a vida diversas vezes sem sucesso, talvez por que no fundo não desejava matá-la. Tal humano irritante lhe implorava que desistisse, que a seguisse e voltasse a lutar ao seu lado.
As pernas da garota formigavam, sua cabeça latejava, estava cansada de tentar, exausta de errar. Ela estendeu seus braços trêmulos e abraçou a pessoa na sua frente, que começara a chorar e agradecer, a vilã também estava agradecida.
Mas não havia esquecido que nunca desistiria. Puxou a brilhante e fina adaga da manga da jaqueta, e usou seus últimos momentos de consciência para apunhalar seu alvo pelas costas, durante um verdadeiro, porém doloroso abraço.
Ela por fim apertou o botão, que mataria o traidor que havia libertado seu amado humano, e agora se encontrava longe dali, mas não adiantaria de nada.
A vilã soltou uma triste gargalhada, novamente seus olhos se encheram de lágrimas. Enfim, desmaiou, esperava que nunca mais acordasse, assim não se daria o trabalho de tentar se perdoar, ou guardar a culpa pelo resto da vida. Em seu subconsciente, rezava desesperadamente para que sua alma imperdoável fosse trocada com a brilhante, genial, justa que ela acabara de apagar. Assim, talvez a alma bondosa encontrasse seu final feliz, e a vilã teria o fim que vira em tantos filmes infantis.
- A não ser que a garota do freezer tivesse piedade.
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