Me sinto sozinho, como se estivesse flutuando pelo ar, é como se a escuridão estivesse me puxando, me levando, estou afundando.
Não consigo reagir, meu corpo não me obedece, apenas um ruído no fundo da garganta consigo soltar, isso faz meus pulmões queimarem, nem consigo respirar agora, todas as minhas forças estão sendo sugadas do meu corpo, estou ficando cada vez mais vazio.
Ele está tomando conta de mim.
Abro meus olhos, estou num quarto escuro, a luz do luar atravessa os
buracos no teto e aos poucos meus olhos vão se acostumando, com a pouca luz.
Depois de alguns minutos todo o local está iluminado, percebo que é apenas uma
sala vazia e que não há portas nem janelas, nas paredes há apenas mofo
encontra-te com a tinta amarelada e buracos no teto.
Um raio de luz atravessa um buraco de uns 2 metros, vou andando mesmo sobre os
escombros não há como fugir daquele lugar, continuo até ficar no centro, o céu
está limpo e a lua cheia reina sem qualquer restrição.
A luz prateada vai ficando cada vez mais intensa conforme a lua vai subindo no céu.
- Está perto da meia noite, logo a lua estará no pináculo.
O ar está frio, formando uma nuvem de vapor enquanto as palavras saem da minha boca.
Fito a lua reinando solitária no céu negro sem estrelas, fico ali parado hipnotizado, inerte em devaneios.
Num mal súbito sinto um arrepio que faz meu corpo tencionar e um suor frio escorrer, sou invadido por um desespero, um estado de alerta que vai tomando conta, quando consigo soltar o ar que estar preso em meus pulmões, o meu coração batia com força e respiração fica ofegante.
- Tem algo à espreita tem algo me observando, mas não a nada a minha volta, eu estive todo tempo na única entrada - Gritei em meus pensamentos.
Mas aquela horrível presença, aquela sensação de que estou sendo observado só ficava mais intensa.
Repentinamente sinto que tem alguma coisa muito grande, apavorante estava atrás de mim. - Tenho certeza - Gritei novamente em meus pensamentos.
Meu coração batia tão rápido e com tanta força que o som da pulsação da minha respiração atrapalha meus pensamentos, minha garganta estava seca e só me fazia ficar ainda mais em alerta.
Tento me acalmar e controlar minha respiração. E decido virar e encarar o demônio que for.
Firmo o pé e num giro rápido, levantando minha guarda mesmo sentindo que antes de finalizar o movimento eu estaria morto.
Mas não há nada lá,
procuro na sala não a nada, estava vazio apenas as paredes mofadas, ninguém
além de mim.
Mas percebo que alguma coisa se moveu, vultos, sombras nas paredes, não no chão
é muito rápido não consigo acompanhar, meu coração volta a pulsar rápido e
minha respiração fica ofegante outra vez.
Olho para o chão uma sombra, não a minha sombra, está na minha sombra, e ela está se expandindo rapidamente e tomando a forma, e a forma de um lobo.
- Não, não um lobo, mas, não, não pode ser, não pode ser real, um, um lobisomem!!! - Exclamei, enquanto tento saltar para trás jogando todo meu corpo.
- Rápido demais. - Pensei, e foi tudo o que eu pude fazer.
Em um movimento repentino o braço dele se levantou do chão e as garras atravessaram meu peito direito, do diafragma até a escápula.
Sinto elas rasgando minha pele, esmagando meus ossos, dilacerando cada músculo, começo a golfar sangue, minha consciência vacila.
- Está queimando, merda como dói, merda, merda, respirar queima, meu corpo não reage. merda como dói - Gritei em meus pensamentos. Lutando para não perder a consciência.
Tento gritar mais tudo que sai da minha garganta é um ruído abafado.
Tento lutar, mas meu corpo não responde, não reage, eu estava paralisado pelo
pânico e pela dor.
Um focinho longo, dentes enormes e olhos vermelhos sangue, brilhando intensamente sobre o luar emergem da sombra em minha direção.
Novamente meu corpo entrou em estado de alerta, num último ato desesperado, seguro no braço que me traspassaram e luto pra me desempalar, mas é tarde demais, as presas já estavam envolta do meu rosto, assim que ela abriu a boca o mundo desapareceu para mim no fundo daquela garganta escura, um vazio sem fim.
Eu acordo encharcado pelo suor, meu coração está pulsando forte e rápido, a respiração ofegante, passo as mãos desesperadamente pela minha cabeça e no peito aonde deveria ter o ferimento, minha garganta coça é pigarreio o gosto metálico de sangue inunda minha boca, tusso é um pouco de sangue espirra nas cobertas, mordi a língua outra vez.
Estou intacto em alívio volto aos poucos respirar calmamente meus batimentos também se estabilizam.
Me acalmo e verifico o quarto e estou sozinho.
Já faz parte da minha rotina ter pesadelos, mas a cada dia eles ficam mais intensos, mais vividos como se fossem lembranças ruins, demônios do meu passado, embora meu passado ainda seja um mistério para mim.
Me levanto, lavo o rosto, bebo um pouco de água, a luz do luar ilumina o quarto as cortinas balançando ao toque da brisa aos poucos o cheiro do limoeiro e das flores de lavanda do jardim enchem o ar, me deito novamente o ar está frio é agradável, inerte na cama escuto as folhas caindo, os cães correm no quintal seus corações e respirações aceleradas, uma coruja os observa em silêncio, as garras dela raspa a madeira quando ela se move se preparando para capturar o roedor que se assustou com a brincadeira dos cães e agora foge em desespero...
Vou ficando mais imerso nos sons da noite e aos poucos eu volto a dormir.
No dia seguinte após um longo banho, vesti uma camisa verde musgo, calça jeans preta e um all star todo preto, relógio... quando terminei de me preparar, ao chegar na cozinha para o café e sou lembrado, do porque era melhor ter ficado na cama, escondido dela.
Como de costume ela me encarava dês do momento entrei em seu raio de visão, e me acompanhou enquanto eu pegava suco e bolo na geladeira e eu sentia as lâminas dos pensamentos dela me atravessando, ela me destruía com os olhos.
- Minha vida corre perigo – Pensei enquanto me sentava.
- Ontem você fez bastante barulho enquanto dormia, mais pesadelos? Você tem tomado os remédios? – Ela falava enquanto tomava chá.
- Não gosto dos remédios, eles atrapalham meus sentidos, me deixam vulnerável. – Retruquei enquanto comia o bolo.
- E eu gosto de dormir, aprecio muito, mas sabe é difícil quando você fica gemendo e se debatendo no quarto do lado. – Ela falou já ficando visivelmente agitada.
- Troca de quarto, tem mais 6 quartos livres na casa. – Falei enquanto terminava o suco e me preparava para saborear o chiffon recheado kiwi e creme.
- Jamais!!! – Ela exclamou.
- Ele tem a maior banheira, e é o único que posso pegar maçãs e peras diretamente nos galhos e o cheiro da lavanda quando acordo, é maravilhoso, ficar deitada na cama ou na banheira com aquele perfume suave de lavando e limão e ainda mais maravilhoso, você é um ogro por me fazer tal proposta. – Ela murmurava com indignação.
- Você deveria troc... – Ela puxou meu prato enquanto eu falava, me interrompendo e me obrigando a dar-lhe toda atenção.
- Decker, querido Decker, compreenda que eu gosto de humanos do mesmo jeito que gosto do meu chá.
Num saco embaixo da água é simples assim. – ela respondeu desviando o olhar para a caneca em sua mão, formando um leve sorriso no canto direito da boca.
- Compreendo, depois dessa pausa dramática, tenho medo de saber o tamanho da lista que você está montando – retruquei.
Ela sorrindo em silêncio, fitava ainda o saquinho do chá dentro da caneca.
Enquanto tentava recuperar meu bolo das garras dela, George o cozinheiro entrou acompanhado da equipe de limpeza e manutenção da casa. Foi quando percebi.
- Então era isso, que você tem em mente louca... Hahahaha certo. - Pensei.
- Okay, você venceu. O que quer como compensação pela noite. – Falei já me sentindo arrependido. Mas era melhor do que correr o risco e ter de limpar a bagunça depois.
É com um sorriso resplandecente como uma manhã ensolarada de verão, ela alegremente foi ao encontro de George e os outros cumprimentá-los e passar suas demandas e desejos para o almoço e jantar.
Enquanto me retirava para a garagem pude sentir o olhar dela sobre mim, dizendo que não deixaria eu me esquecer.
Algumas horas depois, enquanto organizava alguns documentos no escritório, Alice me enviou uma mensagem pelo telegram dizendo que precisava encontrar ela em 40 minutos no shopping para compensá-la adequadamente e algumas figurinhas que não sei o que significam. E como eu esperava vai sair caro essa noite sinto que precisarei trocar o isolamento acústico dos quartos.
Ao chegar ela estava na porta me esperando.
- Você é muito previsível, sabia, sempre estaciona na mesma entrada, os seus hábitos metódicos te deixam mais vulnerável do que os remédios, mas isso resolvemos depois. – Ela falava enquanto virava as costas.
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