O relógio digital sobre o criado mudo brilhava. Eram três e quarenta e sete da manhã. Camila acordara ao ouvir barulhos estranhos, como garras arranhando madeira. Engoliu em seco. Tateou a superfície do criado desesperadamente. Encontrou seu celular e acendeu a lanterna do aparelho imediatamente. O som perturbador se intensificou, mas parou após alguns segundos.
Controlou sua respiração para deixá-la o mais silenciosa possível e, com as mãos trêmulas, estendeu o braço, escaneando seu quarto com a ajuda do celular. A luz do aparelho iluminou todos os cantos – até de baixo da cama -, mas Camila não encontrou nada. Sentiu-se aliviada e concluiu que aqueles barulhos eram criações de sua imaginação, afinal, ela havia assistido um filme de terror com sua namorada na noite anterior. Respirou, aliviada, e guardou o celular. Silêncio.
Seu momento de paz, porém, não durou muito. Os barulhos logo voltaram. Recorreu ao celular novamente. Ao observar o quarto descobriu a origem do barulho: o guarda-roupas. Olhou mais atenciosamente e viu um olho brilhante encarando-a. Poucos segundos depois, a porta se abriu e um vulto saiu do armário. Camila soltou um grito abafado e derrubou o celular. Fez menção de procurá-lo, mas concluiu que não era uma boa ideia. Enfiou-se de baixo das cobertas e encolheu-se. Aguardou.
Sentiu um peso em sua cama. Alguma coisa acabara de subir ali. Camila choramingou e pressionou os olhos. Tampou a boca e o nariz com uma das mãos numa tentativa de diminuir o som da respiração.
A coisa voltou a fazer barulho – dessa vez, era como o de o motor de um carro se aquecendo – e subiu em cima de Camila. Apesar do grosso cobertor sobre si, a moça sentiu garras afiadas pressionarem seus músculos.
“É o fim”, pensou.
Pressionou os olhos ainda mais com cada centímetro que a criatura se aproximava. Mais alguns passos e…
- MEOW!
Camila levantou-se de súbito, aliviada, o que fez com que o gato caísse no chão. Tateou a parede até encontrar o interruptor. Acendeu a luz. Sorriu ao ver Simba, seu gato, sentado em frente a sua cama com um olhar que dizia “Por que me derrubou?”.
A moça sorriu e pegou o gato no colo.
- O que você tava fazendo dentro do guarda-roupas? – acariciou seu pescoço. – Você quase me matou de susto, sabia? Por favor, nunca mais faça isso.
Simba apenas lhe olhou e ronronou um pouco mais alto, feliz com o carinho.
- Boa noite, pequeno – beijou-lhe a cabeça, apagou a luz e deitou. Poucos segundos depois o gato subiu na cama e aninhou-se ao seu lado.
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