Em um movimento rápido após ouvir o rugido de um trovão, Colin segurou as bordas da coberta, cobrindo a cabeça.
Ele já estava na cama há bastante tempo. Perdeu as contas de quantas vezes tentou voltar a dormir e não conseguiu. Esticou a mão e tateou a estante gelada de madeira até apanhar seu celular.
Seu celular parecia congelado, e ele mal conseguiu sentir a ponta de seus dedos ao tocá-lo.
Arrastou o celular para debaixo das cobertas e o ligou.
A luz do aparelho o cegou de repente e ele espremeu os olhos fitando as horas.
17h.
Depois de um longo bocejo, Colin jogou as cobertas de lado e se sentou na cama enquanto coçava o olho com as costas da mão direita.
Seu corpo estava pesado, como se sua cama criasse raízes que o puxavam para baixo. Lutando contra sua sólida vontade de voltar a dormir, Colin ergueu-se sem pressa, rompendo as raízes invisíveis em volta de seu corpo magro.
Caminhou em seu quarto tropeçando em montanhas de roupas espalhadas por todo soalho junto a sacos plásticos cheios de lixo.
Seu quarto estava tão bagunçado que uma casa depois da passagem de um furacão pareceria mais organizada. Ele tateou a parede ainda mais gélida que seu celular e encontrou o interruptor.
Seu quarto era um completo caos. Tinha Mangás e quadrinhos espalhados pelo chão, além de pacotes vazios de bolachas e salgadinhos. Ao fundo, estava seu computador junto a algumas latas vazias de energéticos espalhadas pela mesa.
Algumas latas estavam meio cheias, e outras meio vazias.
Para piorar, o cheiro era horrível.
Seus vizinhos já haviam reclamado sobre o cheiro que invadia suas cozinhas, mas Colin não se importava.
Nada mais importava para ele àquela altura.
Colin relutou um pouco antes de tocar a maçaneta, mas logo depois abriu a porta devagar em um rangido agudo e moveu-se para o corredor que dava para a cozinha.
Seus passos lentos eram abafados por suas meias grossas que não deixavam seus pés congelarem.
Alcançou a geladeira e a abriu devagar.
Ficou ali por alguns segundos enamorando seu interior. Seus olhos passaram por mais energéticos, bebidas alcoólicas e doces, até apanhar uma garrafa de leite na parte inferior.
Ele aproximou a caixa de leite bem ao lado da orelha e a sacudiu.
Dando de ombros, ele levou a caixa até a boca.
Não havia muito leite ali, então Colin atirou a caixa vazia no cesto de lixo que ficava próximo à geladeira, lixo esse que estava quase transbordando de tão cheio.
O desleixo de Colin atraia mosquitos, baratas e ratos, mas ele não se importava.
Sua cozinha ficava em frente à sala, assim que virou a cabeça, olhou para o chão da porta, e lá estavam algumas cartas esparramadas no tapete.
“Será que alguém escreveu para mim?” pensou ele indo em direção as cartas a passos lentos.
Ele não queria ir, pois, no fundo, sabia da resposta.
Colin agachou-se no tapete, apanhando a primeira correspondência.
Era a carta do banco que ele devia uma quantidade significativa de dinheiro. Ele havia pegado um empréstimo para abrir um negócio que faliu em semanas.
Dando de ombros, ele apenas jogou a carta de lado.
Abriu outra e era mais uma cobrança, desta vez uma das inúmeras dívidas de cartão de crédito que ele possuía.
Também as jogou de lado e seguiu esse mesmo ritmo por alguns minutos, até que uma carta em especial chamou sua atenção.
[Universidade de Vantrust].
No exato momento em que pousou seus olhos no remetente, um raio cruzou os céus, trazendo um enorme clarão acompanhado de um ensurdecedor estrondo.
Ele engoliu o seco e dezenas de coisas passaram por sua cabeça. Mesmo não se importando com absolutamente nada, com aquela carta era diferente.
Colin segurava a carta com mãos trêmulas, observando-a por um tempo antes de se permitir abri-la.
O envelope parecia tão pesado quanto seu coração naquele momento. Quando finalmente se decidiu, deslizou o dedo pelo lacre e o rompeu com um som abafado. O papel que saiu de dentro parecia conter o peso do mundo.
Com os olhos fixos nas palavras, ele começou a ler, quase como se estivesse hipnotizado pelo papel. Cada frase parecia uma punhalada no coração, um novo golpe que fazia sua ansiedade aumentar a cada segundo.
A respiração ficou pesada, quase impossível, e ele se sentiu tonto, como se o ar estivesse sendo sugado de seus pulmões.
Quando terminou a leitura, seu corpo parecia ter ficado mais pesado, como se uma tonelada de pedra tivesse sido colocada em suas costas.
Ele murmurou para si mesmo, com uma mistura de tristeza e desespero: "Rejeitado de novo, que surpresa..." antes de embrulhar a carta em suas mãos trêmulas.
Antes de se erguer, Colin juntou as cartas em um montante e as apanhou, jogando-as no lixo da cozinha, forçando-as para dentro com o pé.
Colin estava cansado de lidar com as frustrações da vida real, então buscava conforto em um mundo virtual. Lá ele se sentia mais forte, mais poderoso e capaz de controlar seu próprio destino em um mundo onde as regras eram definidas por ele e não pelos outros.
Enquanto jogava, sua mente se desconectava do mundo real e se concentrava apenas na emoção do jogo.
Foi até seu quarto, desligou as luzes e apertou o botão da CPU com o dedão do pé, sentou-se em sua cadeira acolchoada e afastou as latas de energético com uma das mãos, deixando-as cair por quase todo chão do quarto.
O brilho azul da tela do computador iluminou o ambiente.
Era o momento de Colin mergulhar em sua própria realidade, cercado de
pacotes de comida rápida, bebidas energéticas e o som dos cliques do mouse.to que vai chora
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