O universo sempre foi um mistério. Além de muitos corpos celestes, há também um incontável número de planetas onde habitam diferentes formas de vida. Em vários deles, existem seres que estão em sua etapa humana de evolução, e entre eles, alguns recebem poderes diferenciados chamados Potentia. Estes recebem a missão de serem responsáveis pela manutenção de seus mundos fazendo o possível para que se mantenha a harmonia. Porém, se tudo no universo é ordenado e caminha conforme essas leis, por que, em algum lugar remoto, há alguém que tanto chora?
Planeta Utopia
Era um dia diferente, e uma jovem corria apressada para um salão repleto de cristais e quartzo rosa. Com cabelos lilás, estatura média alta e olhos azul-claros, parecia preparada para um grande evento. Vestia um deslumbrante vestido de organza com drapeados, estruturas firmes na região do busto e enormes babados nas laterais que lembravam cristais esculpidos. Suas cores eram em degradê de azul, rosa e roxo, que juntos tinham efeito semelhante ao furta-cor. Ao chegar na sala principal, avistou suas conhecidas e muito alegremente as cumprimentou.
- Oi meninas! Cheguei cedo, viram? - disse ela se aproximando.
- Nossa, que surpresa, Akiko - respondeu de forma sarcástica uma jovem que tinha cabelos e olhos negros que contrastavam com sua pele clara. Seu vestido longo possuía tons variados de azul e pequenos detalhes em branco. O busto era estruturado no estilo "tomara que caia" e com acabamento drapeado em organza. A saia, feita do mesmo tecido, tinha uma cauda em camadas que criava curvas que remetiam à ideia do mar.
- Você só vem cedo quando tá curiosa. - dessa vez, foi outra garota do grupo que comentou. Sua pele negra, com cabelos e olhos verdes e sua expressão lhe traziam uma aparência jovial e responsável. Seu vestido era trabalhado com tecidos estruturados que imitavam folhas de plantas. Assimétrico e em camadas, por causa das contas bordadas em toda a sua extensão, ele brilhava em diferentes tons de verde quando iluminado pela luz.
- Akiko está aqui? Estou atrasada? - uma mulher alta, com cabelos loiros ondulados até a metade das costas, pele em tom de oliva, olhos azul-claros e lábios pintados com batom vermelho, parecia surpresa com a situação. Sua elegância era visível; seu vestido longo caía perfeitamente, contornando seu corpo e acompanhando graciosamente cada movimento com uma fluidez encantadora. Tons suaves de rosa lhe traziam uma aura de delicadeza, enquanto o brilho sutil iluminava sua figura com um toque de elegância. As camadas e babados cuidadosamente dispostas adicionavam uma sensação de movimento e leveza.
- Ora, ora. Mas que surpresa, né? - disse, por fim, outra mulher, mais velha e com um sorriso no rosto. Seus cabelos eram negros, curtos e ondulados e seus olhos azuis transmitiam sua simpatia. Longo e leve, seu vestido possuía delicadas alças e busto simples. Sua saia, com plumas e camadas, remetia às penas das aves e apresentava toda a fluidez do vento.
- Ei! Que conspiração é essa? - reclamou Akiko, enquanto as outras colegas riam de sua reação.
Durante as risadas e brincadeiras das demais com Akiko, neste mesmo local, uma pequena garota apareceu pedindo licença num tom baixo e com uma certa timidez. Ela tinha olhos azul-claros, cabelos avermelhados e ondulados nas pontas, fazendo uma graciosa voltinha e eram presos em cada lado. Seu vestido era o mais delicado entre todos, com suaves tonalidades de rosa. Era feito de organza e tinha vários volumes estruturados com um arame leve, que davam formato de pétalas, fazendo-a parecer uma linda flor.
- Maninha fofa! Venha! - Akiko olhou para trás e incentivou sua pequena irmã a adentrar o lugar junto com ela.
Ao lado da garotinha estava uma mulher com a mesma cor de cabelo de Akiko, alta e elegante em seu vestido de organza nas cores do arco-íris e que se arrastava pelo chão. Ela olhou e encarou Akiko com seriedade e chamou sua atenção.
- Então senhorita Akiko... Cuide da sua irmã Matsui. Nada de ficar correndo! - disse a mãe das duas jovens. - Não se sujem, não se atrasem... Hoje é a festa dela. - continuou a mulher em tom de ordem.
- Mãe! - retrucou a jovem. - Tendi! - Nesse meio tempo, a moça mais velha de cabelos curtos se aproximou da mãe de Akiko.
- Não se preocupe, Sra. Yajima. Eu cuidarei delas. - prometeu a mulher encostando levemente uma mão no ombro da mãe das jovens para deixá-la segura.
- Ah! Ótimo! Obrigada, Sayuri. Confio em você.
- A mãe de Akiko ficou mais calma ao ouvir as palavras dela. Akiko
observou ambas e pensou em como Sayuri era tão boa em se comunicar com
os outros. - Tchau pra todas!Até logo!
- Podemos nos preparar para iniciar agora. - comentou Sayuri.
Pouco após essas palavras serem ditas, naquela sala, uma mulher alta, com cabelos castanhos longos e ondulados e pele morena, surge. Ela usava um vestido preto estruturado e assimétrico, com uma longa saia e uma generosa abertura que deixava sua perna direita totalmente à mostra. Imponente, ela olhava para o grupo de jovens. O tecido era sofisticado, com fios metalizados que o faziam brilhar majestosamente.
- Potentia do planeta Utopia. - começou a dizer a mulher - Eu, Ayami, Potentia do Julgamento, estou aqui para conduzir todas vocês hoje. - ela continuou.
A pequena Matsui ficou confusa com a aparição repentina e se perguntou de onde aquela mulher tinha vindo. Sayuri percebeu que a menina estava confusa e explicou a situação.
- Ela veio dali. - explicou apontando na direção de um altar de cristais que eram mais brilhantes que os demais. - Este lindo lugar funciona como um portal para mundos diferentes. - a garotinha assentiu por ter entendido.
Após esta pequena interrupção, Ayami chamou a atenção de todas novamente.
- Olá a todas, vim mais cedo pois gostaria de convidar vocês sete para uma missão. - começou a explicar, deixando as jovens atentas e curiosas.
Akiko percebeu que algo não estava correto e corrigiu Ayami com toda a educação e formalidade que lhe foi possível.
- Mas senhora...Nós estamos em seis. - comentou a jovem.
- Ah... é verdade. Ela foi para a Terra, não? - confirmou Sayuri ainda com um pouco de dúvida.
- Ela sempre vai pra lá, né Megumi? - perguntou a jovem alta de longos cabelos negros para a moça de cabelos loiros ondulados.
- Sim, Naoko. Ela mora lá. - respondeu Megumi, a jovem loira.
Um clima de tensão começou a surgir no local, a expressão de poder e superioridade de Ayami começou a dar lugar a uma de desgosto e indignação.
- Como? Como pode? Por que? - questionou com um tom de voz que deixava claro seu desgosto pela situação.
- Senhora Ayami!? Tudo bem? Precisa de ajuda? - disse Megumi, que ficou preocupada com a reação de Ayami e quis acalmar a situação.
- Eu decidi... - disse Ayami em tom áspero e sobrancelhas franzidas. - ... que não quero mais a ajuda de vocês. - disse ela apontando na direção do altar de cristais por onde veio, deixando as meninas confusas.
Ayami então disparou pela mão sua Potentia escura e brilhante, atingindo o núcleo, que se destruiu facilmente com tamanha força e energia que ela havia aplicado no golpe. A explosão que ocorreu em seguida deixou um espaço vazio naquele sistema planetário. Porém, a mulher permanecia protegida dentro de uma espécie de escudo arredondado e translúcido que envolvia todo seu corpo. Olhando para aquele nada, ponderou:
- Hum... É, talvez eu tenha exagerado... - sua expressão era séria, e, apesar de sua fala, não havia compaixão nem arrependimento em seu olhar. Na verdade, encontrava-se um certo ar de desdém pela situação. Enquanto permanecia no local, Ayami sentiu uma presença que, pouco a pouco, se aproximava dela. Quando estava muito próxima às suas costas, ela se virou, e uma expressão de espanto tomou seu rosto. A presença era de uma outra mulher de longos cabelos rosas que a encarava em silêncio.
- Você! - exclamou Ayami.
***
Planeta Terra
No dia 12 de novembro no Planeta Terra, o mesmo dia equivalente ao incidente em Utopia, durante a noite, uma jovem morena de cabelos pretos e franja estava deitada em sua cama se virando de um lado para o outro tendo problemas para dormir.
- Que droga! - disse ela, incomodada. - Que sensação estranha... não consigo dormir.
***
É dia primeiro de março do ano seguinte. Em uma espaçosa casa de dois pisos, um despertador toca freneticamente. Eram seis da manhã e hora de começar a rotina.
- Ah, não... - reclamou o homem de cabelos e olhos negros. - Eu ainda tô com sono. - Sayuri, que estava deitada ao seu lado, não pôde se conter e riu da situação.
- Mas temos que acordar. Vou chamar as meninas. - disse ela, levantando-se da cama e indo em direção a outro quarto. Ela então abre a porta e carinhosamente chama as jovens. - Bom dia, meninas! Hoje é o primeiro dia de aula, vamos acordar! No quarto havia duas camas simples e um beliche. Megumi já estava se espreguiçando e acordando.
- Bom dia Sayuri - disse Megumi com muito bom humor.
Na outra cama, a pequena Matsui estava dormindo profundamente. Miyu, que dormia na cama debaixo do beliche, sentava-se lentamente na cama em silêncio, acordando aos poucos. E na cama de cima, Akiko escondia seu rosto debaixo do travesseiro e voltava a se cobrir.
- Não, não, não... - repetia ela como um mantra, demonstrando sua indignação por ter que acordar tão cedo. Sayuri já sabia como lidar e, num tom simpático, dirigiu as palavras a todas.
- Vamos rapidinho. Ghuang precisa trabalhar e vai dar carona para vocês. - explicou, e então, sem mudar a entonação da voz, mas colocando uma maior seriedade, ela continuou, - Ah, e quem demorar vai ficar sem café da manhã.
- QUEEEEEEE? - Akiko levantou num pulo, preocupada com a ideia de talvez ficar sem comer pela manhã.
Não demorou para que todas ficassem prontas e tomassem um generoso café da manhã. Megumi, que não estava mais em idade escolar, pôde aproveitar esse momento para fazer sua rotina diária.
- Vamos logo para o carro. Não posso me atrasar. - disse Ghuang, já pegando suas coisas.
Antes de ir, ele se aproximou de Sayuri e lhe deu um beijo, avisando que retornaria mais cedo naquele dia. Seu carro era espaçoso o suficiente para comportar ele e as meninas. A escola ficava no caminho, então deixou-as na frente e seguiu seu caminho até o trabalho.
O colégio possuía três pavimentos, vegetação na entrada e parecia ter muitos alunos. Miyu e Akiko ficaram muito animadas com o local. A primeira por ter um gosto especial pelos estudos, a segunda pelo tamanho. Naoko, mais pé no chão, lembrou-as que era apenas um colégio.
O uniforme escolar consistia de uma camiseta branca de malha com um pin que tinha a logo da escola. A parte inferior era vermelha, os meninos usavam calça e as meninas, saia. O padrão escolar também exigia meias brancas com tênis brancos ou pretos. Elas, então, entraram no colégio e avistaram muitos estudantes aglomerados olhando listagens de folhas espalhadas pelas paredes.
- Olha, Akiko, ali tem um grupo grande. Deve ser para ver as turmas.
- Ahhhh, pode crer, vamos lá checar!
Elas conseguiram se aproximar das listas do primeiro ano do ensino médio e viram que conseguiram estar juntas na mesma turma, e não apenas isso, mais um nome na lista chamou a atenção.
- Miyu! É o destino, estamos na mesma sala que a Aino! - disse, muito animada vendo o nome na listagem.
- Deve, deve... - respondeu com tom de ironia. Foi então que olhou para os lados e identificou sua amiga. - Akiko, aquela lá não é a Aino? - perguntou, dando um toque no ombro de Akiko para que esta prestasse atenção.
- AINOOOOOO!!! - disse escandalosamente, gritando e correndo em direção a ela.
- MAS O QUE? - espantou-se Aino ao ver a atitude exagerada da colega.
- Aino! Que saudades! Que lindo que tá seu cabelo! Como é bom ouvir sua voz fina! - Akiko comentava sem parar.
Alta, de ombros tensos, cabelos castanhos com mechas loiras, olhos escuros e pele bastante clara. Aino tinha a voz mais fina que o normal e estava sempre preocupada em manter sua reputação. Algo que Akiko, com seu jeito espontâneo, não estava permitindo. Afinal, esta havia se pendurado no pescoço dela e não parecia que a largaria tão cedo.
- Eu to passando vergonha... - reclamou, mas não adiantou, nada aconteceu.
Passando ao lado, outra estudante vê a cena e decide se unir, pendurando-se no outro ombro de Aino. Akiko e ela trocaram olhares. Foi então que esta, que gosta muito de conhecer pessoas, se apresentou.
- Olá, sou Akiko. Esta aqui é a Miyu, muito prazer! Somos amigas da Aino.
- Me chamo Yukino. Eu sou prima de terceiro grau da Aino. - explicou a jovem de pele clara, cabelos negros com franja, olhos castanhos e que vestia o uniforme escolar masculino.
- Nossa! Que legal conhecer uma parente da Aino aqui no plan... - Akiko tentou falar, mas foi interrompida por Miyu que tampou sua boca, pois percebeu que ela ia falar mais do que devia.
- Que legal, Yukino! - Miyu disse em um tom mais alto que o de Akiko, - E nos conte, como é a escola? - A jovem pensou em puxar um assunto antes que Akiko começasse a falar mais.
- A escola? Tá, vamos ver. Os professores até explicam bem, alguns são legais. Mas tem algumas coisas que não são necessárias. Os eventos escolares e competições esportivas, por exemplo, não são exatamente o problema, mas fazem com que seja obrigatória a participação de todos porque vale nota para a equipe vencedora, mas no final, todos sempre ganham. O que tá tudo bem, mas todo mundo briga porque pensa que não vai ganhar nada. E falando do pessoal, a maioria está numa fase chata. Parecem até que estão no cio. A preocupação deles se resume em quem consegue beijar mais pessoas em um dia... Mas tem um pessoal legal também.
Miyu e Akiko não conseguiram disfarçar a cara de espanto escutando a menina contar suas experiências naquele lugar. Internamente, se perguntaram se deveriam ter perguntado, mas ao mesmo tempo pensaram que poderia ser um exagero dela.
Nesse meio tempo, Naoko, alta, facilmente se aproximou da lista de salas do último ano do colegial.
- 302, tanto faz, não conheço ninguém mesmo.
As meninas foram para as salas para começarem as aulas e Akiko não parava de pensar em como tudo era tão novo para ela. Durante suas lições, a jovem ficava em devaneios e nunca teria imaginado o quão cansativo seu primeiro dia de aula do ensino médio poderia ser.
"Foi a manhã
toda de aula. Esse primeiro dia foi bem cansativo. O primeiro professor
nem se apresentou e passou o calendário de provas até o meio do ano. Os
alunos ficaram falando mal uns dos outros durante a maior parte da aula.
Não fiz nenhum amigo. Aino ficou babando pelo professor de matemática,
várias garotas ficaram. Não consegui entender o porquê. Reclamaram que
eu era muito clara e devia me bronzear para ficar bonita. Mas também
reclamaram da Miyu porque ela era muito escura. Não entendi nada. Talvez
Yukino tenha razão, isso é uma selva." Os pensamentos sobre aquele dia
não pararam de circular sobre sua mente.
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