Gelei.
O meu desejo de morrer novamente era realmente tão grande assim? Será que uma vida calma, normal e sem loucura era realmente tão incansável para alguém como eu?
Porque essa era única explicação para... Isso.
Não havia outro motivo.
Não havia.
Se eu não desejasse morrer prematuramente novamente, eu não estaria agarrando o cabelo do Príncipe Herdeiro. Não só agarrando, mas puxando!
Puxando com tanta força que até mesmo a cabeça dele foi inclinada para trás.
É, eu vou morrer.
Depois de mais uma breve vida, irei morrer porque agi por impulso e medo, mesmo que a situação em si não fosse tão desagradável assim.
Quase grunhi, mas antes que pudesse fazer isso, eu ouvi.
- Aaah... - O Príncipe Herdeiro gemeu baixo.
O encarei. Perplexa.
Eu estava ouvindo coisas?
Ele gemeu, não foi mesmo?
O Príncipe Herdeiro me encarou de volta, como se finalmente tivesse voltado a si.
Ele parecia em choque, mas, porra, eu também estava!
Nós dois estávamos nos encarando, sem dizer uma única palavra, mas então ele pulou da cama, quase levando minha mão junta.
Soltei minha mão rapidamente e logo o vi alcançando a porta e saindo, sem dizer nada.
Eu só conseguia encarar a porta.
- Mas que merda foi essa?
...
A primeira coisa a se dizer é que meu nome real é Luana. Luana Maria Silva Souza Conzaga. Um nome bem brasileiro e não muito pomposo, ao meu ver, sendo apenas normal. Bem normal.
O que não é normal é eu ter acordado um dia como "Ana Braconce Lirdade Vasconcellos", a terceira filha dos Barões Braconces.
Nada normal.
Tudo aconteceu depois de um "lindo" dia, quando eu estava voltando da universidade, já em meu segundo ônibus (quarto do dia) e passava por um bairro perigoso. Claro que, com minha sorte, o ônibus acabou parando por causa de uma operação policial e boom, uma bala perdida encontrou seu alvo em mim!
Não foi nada legal.
Tudo o que me lembro é de sentir dor. Tristeza. Medo.
Desespero.
E então, perdi minha consciência.
No final, parecia quase que eu estava dormindo. Deixando que uma força invisível me tirasse daquela dor para um sono profundo.
Quando acordei... Bem, acordei aqui.
Acordei em um quarto que só havia visto anteriormente em séries e filmes de época. Um daqueles quartos que seriam considerados uma sala enorme nas residências modernas. Com papais de parede altamente detalhados e um pouco cafonas, moveis de madeira pesados e uma cama que me fazia querer voltar a dormir quase que imediatamente.
O que diabos havia acontecido?
Mal consegui olhar direito a minha volta antes de uma mulher, vestindo uma roupa de empregada bem prega, entrar nervosa, a passos largos e quase gritando “Milady”.
Só consegui ficar a encarando, pelo menos até ela ficar oa meu lado, tocando em meu rosto.
Aí eu simplesmente senti um risinho nervoso subir pela garganta.
Nesses momentos, há uma reação que aprendi que funciona muito bem, principalmente para animais assustados, que é: SE FINGIR DE MORTO.
Fechei meus olhos enquanto deixava meu corpo mole, sentindo-o cair sobre a cama enquanto ouvia gritos alto daquela mulher, me chamando preocupada.
Assim que uma pessoa estranha entrou no quarto me chamando de "Milady" e sorrindo, eu apenas sorri de nervoso e cai dura no chão, fingindo desmaiar.
Para minha sorte, o médico que minha família chamou não parecia ser muito bom, já que ele disse que havia sido um pequeno caso de histeria. Quando fingi que havia perdido minha memória, ele completou o diagnóstico como “caso clássico de histeria feminina”.
Pelo visto, era só uma forma de chamar atenção.
Quem diria que uma sociedade machista poderia trabalhar a meu favor? Ha!
Ótimo Luana, continue pensando assim até finalmente se ver em uma situação realmente ruim!
Depois disso, não foi nada fácil. A maioria da minha família começou a me tratar como uma criança de 6 anos de idade, o que era altamente irritante!
Só que aí eu percebi que era uma criança de dez anos de idade… ok, não era tão ruim.
A primeira mulher que eu encontrei ali parecia ser minha criada e ela meio que ficou responsável em me contar sobre tudo ali. Por ela, descobri que meus pais se chamavam Jucelina e Marcos. Meu irmão mais velho, o primeiro filho, era Marcel. Meu irmão mais novo, o terceiro filho, Morgan.
Marcel era legal e vinha me ver algumas vezes. Morgan era um anjinho que eu só queria abraçar e não soltar nunca mais!
Graças aos meus irmãos e a minha criada, decidi que uma habilidade muito útil para me manter viva era aprender a lutar com espadas!
Sério, Deus me livre depender de homens.
Minha vida foi meio tranquila depois disso. Consegui me acostumar com a ideia que teria que me casar quando fosse mais velha, mesmo que fosse um casamento arranjado e chato. Não parecia nada demais quando comparado a pensar em pagar mil e um boletos e pensar se iria conseguir comer alguma coisa ou não por causa de dinheiro.
Aqui eu só precisava me preocupar em “ser uma Lady” e não “manchar” a honra da minha família.
- Ana. - Minha mãe, a Barão Braconce, disse ao me ver.
Minha “mãe” era uma mulher que realmente parecia uma “nobre”. Ela sempre usava o cabelo castanho escuro em um coque alto, com uma “rede” cheia de pequenas joias. Seus olhos eram azuis escuros, sobrancelhas finas e marcantes e uma expressão que nunca parecia amenizar por mais que ela tentasse.
Ela estava com um sorriso acolhedor, aquele que iluminava os olhos.
- Mãe, pai. - Os cumprimentei, com um sorriso.
- Por favor, sente-se, filha.
Acenei com a cabeça e me sentei no sofá que ficava na frente do sofá em que meus pais estavam.
- Nós precisamos ter uma conversa muito importante com você, minha filha.
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