ENTRE O PASSADO E O FUTURO
Com passos lentos, pode-se enxergar um homem caminhando em uma linha reta, ele parece ocupado, o calor do sol o faz suar, e cada passo o faz lembrar do fardo que sua deusa o fez carregar, independentemente disso, ele segue firme, com orgulho de seu reino poder finalmente se redimir de seus antigos pecados, apesar de ser tarde demais.
Pode-se notar que o homem usa uma vestimenta nobre, com tons de amarelo e laranja, que o fazem lembrar de sua importância e remete a sua grandeza, em sua caminhada, enxerga-se crianças brincando na rua, no chão molhado, de uma suposta chuva que havia tido naquela região, olhar a poça de água e ver seu próprio reflexo o faz lembrar das palavras de seu pai “proteja os pergaminhos de nossa deusa, se eles caírem em mãos erradas, o mundo entrará em colapso, e a humanidade entrará em maus bocados”. Paranorman, este era o nome do homem a que foi confiada a proteção do tesouro divino, e que seria passado de geração para geração.
O homem, ocupado e distraído com a pureza das crianças, acaba perdendo a noção do tempo, o raio solar reflete em seu relógio ferindo levemente seu olho, quando se dá conta, já são 2 horas da tarde, e o homem estava atrasado para a até então, reunião de grande importância, mas ainda assim, segue andando calmamente em direção ao seu objetivo.
— Súditos, preciso do melhor cavalo!
Diz Paranorman em frente aos seus súditos mais leais, seu olhar calmo e tom de voz firme os fazem lembrar do porque admiram o seu rei.
— Estou a caminho de uma reunião importante, o rei de Tokdo está me esperando.
Um simples gesto como um aceno de cabeça é o suficiente para Paranorman, que confiando em seus súditos, monta no que seria o melhor cavalo de seu reino, um cavalo branco de olhos vermelhos, seu nome era Ziogra.
— Abram os portões!
Diz Paranorman com determinação em seu olhar.
Ele segue cavalgando lentamente em direção ao reino de Tokdo, olhando de relance os moradores acenando e desejando que volte vivo de lá, o reino não se manteria sem o seu rei, que prezava até então, pela paz de todos os seus súditos, ele segue descendo cuidadosamente a montanha, confiando nos passos de seu cavalo.
Ao chegar embaixo, a calvagada tranquila de repente é interrompida por um som grave e esquisito, que parecia se aproximar de sua direção, seu cavalo ficava inquieto, e seu relinchar ensurdecedor, Paranorman ignora a estranha criatura, e segue em direção a Tokdo, conduzindo e ordenando calmamente para que seu cavalo se movesse mais rápido. A brisa do vento suave batia em seu rosto, e quando se dá conta, está frente a frente com os portões de Tokdo, os guardas com armaduras prateadas reconhecem o seu rosto e permitem a sua passagem.
Ao andar com seu cavalo dentro do reino, sente um leve pingo de chuva em sua pele, indicando que talvez a chuva estivesse próxima, ele olha em volta e assim como viu em seu reino, haviam crianças brincando na rua, também em cima de uma poça de chuva, mas diferente do que viu antes, essas crianças não pulavam, duas colocavam suas mãos em seu estômago, enquanto uma de pele pálida permanecia deitada na poça, olhando para o céu, como que estivesse rezando por algo, Paranorman sente uma inquietude em seu corpo, mas decide ignorar, ele não havia mais tempo, e precisava chegar no seu destino.
Homens e mulheres notam a sua presença, e começam a admirar suas vestimentas e o seu nobre e forte cavalo, eles acenavam, ele acenava de volta, eles sorriam, ele sorria de volta, até que vem a chuva, e alguns que estavam ali, se apressam para entrar em suas moradias, enquanto outros, permanecem sendo banhados pela chuva enquanto assistem o cavalo de Paranorman acelerar seus galopes em direção ao castelo.
Ao chegar no castelo, Paranorman passa alguns segundos admirando sua imensidão, e o quão esbelta era tal estrutura, em completo contraste com as vestimentas das pessoas que viviam naquele reino, Paranorman desce de seu cavalo Ziogra, e com passos lentos se aproxima da entrada, os guardas o avistam e se apressam para avisar ao rei.
— Então você chegou
Diz Jeff o rei, ao avistar Paranorman em seu castelo.
— Seus guardas fazem muito barulho, vamos conversar em particular.
— Como quiser.
Ambos sobem lentamente as escadas, tão douradas quanto a coroa de Jeff, logo em seguida indo a um enorme corredor que ficava à direita, Jeff mantinha uma expressão séria em seu rosto. Os dois entram em uma sala vazia, com duas cadeiras feitas de lã e mármore, um balcão de bebidas e uma mesa retangular revestida de ouro.
— Vinho?
— Agradeço sua gentileza, mas não consumo álcool.
Responde Paranorman gentilmente.
— Sabe Paranorman, desde cedo, nós fomos ensinados que o mundo é um lugar injusto, e que devemos lutar pela nossa própria justiça, se não quisermos ficar para trás.
— Aonde você quer chegar com isso?
De repente a expressão de Jeff muda para uma expressão sádica, enquanto encara brevemente o rosto de Paranorman.
— Então meu querido Paranorman, o que acha de fazermos uma parceria?
Diz Jeff de frente para Paranorman com um tom de voz firme.
— Não preciso de parcerias.
Paranorman recusa.
— Se você quiser ajuda eu posso te fornecer uma pequena quantia em dinheiro, mas jamais permitirei que qualquer pessoa tome posse das minhas masmorras.
— Então não pretende ajudar o meu povo?
— O seu povo sim, você não.
— Se é assim que você quer, que seja, lhe darei três dias, venha e me encontre se isso o fizer mudar de ideia.
— Você não irá para o céu Paranorman.
Jeff sorri, diabolicamente.
— No céu eu estaria na presença de mendigos, enquanto no inferno estaria diante de Reis e príncipes, dos quais admiro muito.
Diz Paranorman, friamente.
Paranorman sai lentamente do castelo e dirige-se ao seu cavalo, já montado em Ziogra enquanto dá a ordem para cavalgar, dando uma leve olhada de canto, ele percebe Jeff de olho em sua saída, e sem exitar sai de lá com uma expressão calma, como que as coisas estivessem resolvidas, por mais que na verdade, não estivessem.
Há anos o Reino de Dungeons era cobiçado por sua riqueza e prosperidade e Paranorman sabia que Jeff era só mais um dos que desejavam aquilo, a falsa máscara de Jeff que promovia a paz cairia em algum momento.
Paranorman sabia que não poderia confiar em um homem que não sabia cuidar de seu próprio reino, e consequentemente traria prejuízos para as masmorras e seu povo, ele viu um futuro do qual ninguém poderia reparar.
Então surge a noite, de longe podemos enxergar uma mulher loira e um homem alto de roupas escuras correndo, a mulher segurava um bebê, que naquele momento, não parava de chorar.
Ambos tentam correr o mais rápido que podem, de repente a cena corta para o homem ensanguentado caído no chão com uma adaga cravada em seu pescoço, lançada na intenção de matar, a mulher está assustada e desesperada com a criança no colo, ela olha em volta, mas enxerga apenas uma sombra, que logo desaparece e tudo que lhe resta é o corpo sem vida de seu marido, que acabara por ser assassinado na sua frente.
No dia seguinte, após o ocorrido, pode-se escutar um grupo de bandidos conversando, enquanto caminham pelo norte do Reino de Tokdo.
— É, parece que mais um foi assassinado cruelmente, de fato um assassino frio e sem escrúpulos.
— Para ser sincero, eu acredito que a vida fez isso com ele, situações ou formas de vida mudam as pessoas, talvez ele mate para se manter nesse mundo cruel.
— Bom, isso somos nós, não é? Nós roubamos e eu não hesitaria em matar alguém para sustentar a minha família.
— Eu discordo, nós podemos ser bandidos, mas não nos comparamos com esse cara, ele é sinistro, é capaz de fazer em um dia o que um grupo inteiro como nós levaríamos uma semana.
Uma grande brisa surge durante a caminhada dos bandidos, um cartaz de procurado voa na direção do rosto de um deles, que rapidamente o pega com sua mão direita e mostra para os demais.
— Provavelmente foi ele, o Frost.
Diz o bandido com voz trêmula.
No mesmo momento, um dos bandidos do próprio grupo ergue rapidamente seu braço direito, preparando um soco, que foi desferido bem no olho daquele que segurou o cartaz.
— Seu desgraçado, não fale esse nome por aqui, você quer ser mais uma das vítimas dele, seu merda? Eu não me importo de conversarmos sobre os assassinatos em massa que vem ocorrendo recentemente em Tokdo, mas há uma regra que você acabou de descumprir, jamais repita esse nome na nossa frente, não nos ponha em risco!
Diz o bandido com uma expressão assustadora.
— Tá bom, tá bom, foi mal, eu juro que não vou cometer esse erro de novo…
Responde o que estava caído no chão, com o redor de seu olho lacrimejando e inchado.
Em outra situação, podemos ver a figura de um homem segurando uma arma branca semelhante a uma espada, sentado sozinho em um beco escuro e vários papéis sujos com nomes e cartazes de procurado a sua volta, seus olhos possuem uma pigmentação cristalina, como um erro genético, seu cabelo azul também facilitava que seus inimigos o vissem a distância, talvez por isso fosse tão rigoroso com seus esconderijos, este era Frost, ou como chamado por alguns “BloodthirstyMan”, um assassino impetuoso que vivia escondido em Tokdo, apesar de tentar manter sempre a confidencialidade de seus serviços, seu nome acabou ficando famoso no reino, com seu trabalho sendo frequentemente solicitado por alguns nobres ou algumas pessoas em busca de vingança, tendo como seu único requisito qualquer coisa que garantisse o seu pão no dia seguinte.
Frost possuía 1,87 de altura, estava acostumado a pôr a si mesmo em risco, seu modo de vida o permitiu que tivesse músculos bem desenvolvidos e estava pronto para qualquer solicitação.
Enquanto segura um cartaz de procurado, admirando sua própria imagem, pode-se escutar alguns passos pesados vindo de fora de seu esconderijo.
Frost rapidamente segura sua espada, vai chegando lentamente próximo da porta, enquanto se prepara em posição de ataque.
O som dos passos de repente param e tudo que Frost escuta é alguém batendo em sua porta, mas ele não responde, temendo que fosse só mais uma tentativa de prendê-lo, ou talvez algum parente de seus alvos em busca de vingança.
Pode-se ver uma silhueta branca se formando ao redor da porta, ficando cada vez mais clara e formando uma fumaça que repentinamente jogava a porta contra seu próprio corpo, Frost percebendo que aquilo se tratava de “imencionável” tentou destruí-la com o peso e força de seu corpo, mas acabou sendo lançado contra a parede de seu esconderijo.
— Olá Frost…
É então que entra Jeff, o rei de Tokdo com imencionável carregado em suas mãos, enquanto observa o pequeno local de cima a baixo. Observa a cama jogada no chão e a simples cozinha que estava ali, achando o ambiente desagradável, cospe no piso, desprezando o lugar.
— Você deve ganhar muito dinheiro com seu "serviço", mas não consegue sequer arranjar um bom lugar para ficar?
Diz Jeff sarcasticamente, enquanto se aproxima lentamente com os braços cruzados demonstrando sua imponência.
— Grrr... só veio aqui para falar besteiras para mim e ainda destrói minha porta? Fala logo o que você quer!
Diz Frost raivosamente
Tirando a porta quebrada envolta de seu corpo, enquanto se levanta cautelosamente, Frost franze sua testa, observando cada detalhe do corpo de Jeff, desconfiando de qualquer movimento.
— Quanta ignorância, apenas me descontrolei com minha habilidade e quebrei a porta sem querer, me perdoe o transtorno.
Pode-se enxergar um sorriso forçado no rosto de Jeff, tentando soar uma falsa gentileza.
— Só quero lhe fazer um simples pedido…
—Hmph…Desembucha logo, o que o “grande” rei de Tokdo faria na companhia de um assassino?
— Bem, Frost, gostaria que matasse um certo rei de uma terra um pouco distante daqui. Um tal de "Paranorman", conhece?

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