Debaixo de um pé de romã, o peculiar casal está deitado na grama olhando para o céu enquanto desfrutam da presença um do outro.
- Miguel. - Lúcifer rompe o silêncio de repente.
- Sim ? - ele ergue sua cabeça e o observa com um olhar inocente.
- Alguma vez, já pensou em deixar o paraíso ?
- O quê ? Por que eu faria isso ? Aqui tenho tudo o que preciso, estou com os meus irmãos, o pai... e você! - Miguel se levanta de repente e por alguma razão, se sente ansioso com esse assunto.
- Entendo... - Lúcifer murmura com um olhar vago.
- Por que está me perguntando isso ? Está pensando em deixar o trono do inferno ?
- Não... apenas me passou pela cabeça. - ele força um sorriso e acaricia seus longos cabelos negros.
- Não me assuste desse jeito. Pensei que iria me deixar! - Miguel dá um tapinha em seu braço e lhe mostra um largo sorriso. Um sorriso brilhante como o sol, que aquece até mesmo as partes mais profundas e escuras de Lúcifer.
- Eu nunca vou te deixar! - ele segura seu rosto com as duas mãos e fita seus olhos com seriedade, mas acima de tudo sinceridade. Algo que poucos podiam ter do "pai da mentira".
- Eu te amo, Estrela da Manhã. - Miguel murmura e segura sua mão direita, esfregando o rosto na palma dela, como um gato que se esfrega em seu dono.
- Malditamente lindo! - Lúcifer ri e o beija, todas as suas preocupações sumiam ao ver aquele lindo rosto.
- Eu... preciso ir agora, o pai deve estar me esperando! - Miguel sussurra entre o beijo e sorri.
- Eu sei. - ele lhe dá um último beijo e se afasta, em seguida se levanta e estende sua mão esquerda.
- Venha.
- Obrigado. - Miguel segura sua mão e é puxado em direção ao seu corpo. Lúcifer agarra sua cintura e o beija mais uma vez, nunca se cansava dos seus doces beijos.
- Ei! - ele ri e o afasta. Precisava para-lo ou não voltaria para o paraíso a tempo.
- Certo... - Lúcifer suspira e o solta.
- Te vejo amanhã, Lúcifer! - Miguel beija sua bochecha e se afasta, ele corre em direção a borda da porção de terra flutuante e estende suas asas, voando em direção ao paraíso.
- Adeus, Miguel...
O Arcanjo pousa suavemente no solo e logo nota que há um alvoroço na sala de reuniões.
- O que está acontecendo ? - ele questiona ao se aproximar dos outros Arcanjos.
- Onde se meteu ? Te procuramos em todos os lugares! - Rafael, outro Arcanjo se aproxima.
- Estava descansando. - Miguel responde um pouco nervoso. Não poderia revelar que até poucos minutos atrás estava nos braços de Lúcifer.
- Certo, isso não importa agora. Temos um problema! - ele suspira e esfrega os olhos.
- O que foi ?
- Lúcifer está se dirigindo até os portões celestiais com um exército. - Gabriel o responde.
- O quê ? Mas isso é impossível... ele! - Miguel para de repente, se sentindo um pouco tonto. Não imaginava que Lúcifer tomaria uma atitude tão radical.
- Precisamos nos preparar! - Rafael fala com determinação, logo os outros Arcanjos e Anjos se agitam, ansiosos para a batalha.
Enquanto todos vão de um lado a outro, Miguel continua paralisado olhando para o chão, ainda não podia acreditar que seu amado estava marchando em direção ao paraíso para uma guerra. Se sentia traído e enganado.
- Pai da mentira, não é ? - ele murmura e desliza os dedos entre seus cabelos, enquanto tenta conter suas lágrimas.
Em meio ao caos de outra guerra santa, o Arcanjo está banhado em sangue inimigo e cego pela dor de uma traição. Miguel segue em frente, golpeando qualquer um que esteja no caminho, seu único objetivo era Lúcifer.
- Estrela da Manhã! - ele grita e gira o cabo de sua espada entre os dedos.
- Miguel ? - Lúcifer se vira em direção a voz e o vê furioso caminhando em sua direção. Ao estar próximo o bastante, Miguel empunha sua espada e ataca, seu oponente apenas se esquiva e se defende. Não queria machucá-lo.
- Vamos, lute de verdade, maldito mentiroso!
- Miguel, não é isso... - Lúcifer se afasta e busca uma forma de acalmá-lo.
- Não quero mais ouvir suas mentiras. Se não vai lutar, então morra! - ele avança novamente, mas dessa vez seu oponente parece estar levando isso mais a sério. Lúcifer ataca, mas continua tomando cuidado para não machucá-lo.
- Maldito! Por que ? Por que fez isso ? - Miguel esbraveja com lágrimas em seus olhos e para de repente, caindo de joelhos sobre o solo sujo de sangue.
- Até quando o seu ódio pelo pai será mais forte que o seu amor por mim ? Quando vai finalmente me escolher ? - ele encara suas mãos e não consegue entender o motivo de tanto ódio. Talvez estivesse sendo muito inocente, mas só desejava que tudo aquilo parasse.
Lúcifer sente um nó se formar em sua garganta e se aproxima, se ajoelha em frente a ele e apoia sua testa na do Arcanjo.
- Você está certo, sou um maldito mentiroso ganacioso. Eu nunca vou parar até vê-lo morto, Miguel! - ele segura seu rosto com as duas mãos e o encara, se sentindo culpado por deixá-lo tão chateado.
- Por favor, Lúcifer... estou implorando! - Miguel implora com a voz embargada e toca seu rosto.
- Não posso. Sinto muito. - ele suspira e precisar reunir todas as suas forças para não beija-lo ali mesmo, na frente de todos aqueles Arcanjos e Anjos hipócritas.
- Você precisa acabar com isso... com esse ciclo de ódio sem fim. - Lúcifer tira uma adaga da bainha e lhe entrega.
- O quê...? - Miguel o questiona confuso e assustado.
- Me mate e acabe com isso. É o único jeito.
- Não! Não posso! - suas mãos começam a tremer e o Arcanjo recua.
- Tudo bem, meu amor... eu te amo, entendeu ? - Lúcifer sorri de forma gentil e segura firme suas mãos, forçando Miguel a esfaquear seu peito.
- Não! Não! Lúcifer! - o Arcanjo grita aflito e abraça o seu corpo, já sem vida.
- Por favor... não me deixa... - ele implora em meio ao choro e continua se agarrando ao seu corpo. Não podia deixa-lo ir.
- Tragam ele! - Rafael fala um pouco alto e ao ver Miguel entrar acorrentado no salão, vira seu rosto em sinal de desprezo.
- Ajoelhe-se! - ele ordena. O Arcanjo se ajoelha diante do trono celestial e mantém seu olhar baixo, não era digno de encarar o pai depois de tudo o que fez.
- Olhe para mim, Miguel. Não estou irritado. - o Deus Cristão fala de forma gentil e suave.
- Pai, eu... - Miguel ergue o olhar e não consegue conter as lágrimas.
- Você me ama, Miguel ? - ele o questiona sem rodeios.
- S-sim! - o Arcanjo se surpreende com sua pergunta. Nunca foi questionado sobre isso antes.
- Mas do que a ele ?
- O quê ? - Miguel o encara com os olhos arregalados, não entendia onde o pai queria chegar.
- Isso é muito...
- Responda, Miguel. - o Deus Cristão usa um tom firme, parecendo um pouco impaciente com sua hesitação.
- Sim, eu o amo... - ele murmura e desvia seu olhar para o chão. Podia sentir os olhares de reprovação perfurando sua carne.
- Entendo. - o Deus Cristão estende sua mão esquerda até Rafael, que desembainha sua espada e lhe entrega.
- Levante-se. - ele se levanta de seu trono e se aproxima. O Arcanjo obedece mesmo estando assustado e se mantém calado.
- Se o ama tanto, morra junto com ele. - o pai golpeia seu abdômen, penetrando sua carne devagar.
- Obrigado, pai! - Miguel sorri se sentindo aliviado por não ser obrigado a viver em um mundo onde seu amado não está. Mesmo com todo o luxo e a tranquilidade que o paraíso lhe oferecia, nada fazia sentido sem ele.
- Encontre-o, Miguel. - ele beija sua testa e o observa com uma expressão serena enquanto a vida some de seu corpo.
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