É natural do ser humano, banhado no antropocentrismo e nos delírios capitalistas, pensar na evolução e glória com base em sua espécie. “O mundo, em 2030 terá carros voadores, médicos robôs” todos esses devaneios tecnológicos. Bom, isso até existe, mas não chega nem perto das mãos de nós, meros mortais.
O progresso que pudemos ver e sentir foi apenas o destrutivo. Lembro como se fosse ontem, apesar de ser bem novinha na época. Eu estava sentada, brincando com a TV ligada, quando uma mulher no jornal começou a falar de ataques, terras apodrecendo, fábricas explodindo…
Assim, após um líder de estado maluco e ganancioso resolver acabar com toda a mão de obra e matéria prima que seus países adversários exploravam, foi declarada a GGBq, Grande Guerra Bioquímica, devastando 57% do planeta habitável, e contando.
Toda história tem um herói, e para muitos, nesse momento, foi um simples pescador altruísta. Acontece que, alguns dias depois do anúncio da guerra, atormentado pelo luto, Lutalo Kamau saiu em seu navio pesqueiro sem rumo, para espairecer e, após uma árdua tempestade, encontrou o paraíso para meia dúzia de empresários bilionários e alguns refugiados sortudos.
Safix Islands: um arquipélago totalmente inabitado que, milagrosamente, permaneceu inafetado pelas armas químicas. Quatro ilhas que futuramente se tornaram Distritos, governadas por essa meia dúzia de bilionários que eu comentei mais cedo.
Do dia em que Kamau a encontrou e relatou sua existência até a inauguração de Safix passou-se um ano. Um ano de muita burocracia, discussões e bastante desmatamento, apesar de terem tentado preservar o máximo que podiam. Bem, foi o que eles disseram.
No dia 10 de Novembro de 2032. em homenagem a um ano da morte de Abe Charllot, esposa de Kamau e filha de Abe Constantine, uma das líderes do arquipélago, Safix abriu suas portas para novos moradores.
E sabem o que mais Charllot era? Minha mãe.
É agora que pulamos pra eu vivendo em uma mansão numa ilha paradisíaca, cheia de luxos? Não mesmo, o capitalismo existe. É óbvio que não iam deixar um pobre pescador queniano comandar uma ilha. Mas deram para ele uma ONG que leva também o nome de minha mãe: Instituto Charllot Abe, ou simplesmente ICA.
Safix é dividida em quatro distritos: Pradizo, lar dos ricaços que não querem se misturar com a plebe, o centro disso tudo; Ifro, o total oposto, onde os refugiados chegam por formas clandestinas e eles não expulsão, pra fingir que tão fazendo algo certo, mas sem nenhum apoio, terra de ninguém mesmo.
Mizzo e Gaiiau. Estes últimos recebem barcas de ONGs. Eles são meio termo, não têm pobreza extrema, já que a organização dá um suporte mínimo, mas poucos vivem bem. A ICA cuida de Gaiiau, já outra instituição é responsável por Mizzo.
Os safixinos estão divididos entre recuperar os traumas e arranjar um jeito de viver e sustentar suas famílias. Já os safixenses em sua maioria aparentam ter esquecido de tudo que rolou e AINDA ESTÁ rolando do lado de fora. Provavelmente, o fato de eles terem crescido aqui ajude um pouco, mas não é desculpa. Eu estou aqui desde antes desse lugar ser inaugurado e porra, já beiro os 20, nem de longe pensaria assim. Mas quem sou eu pra julgar?
Ah, a juventude de Safix...
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