Minha vida nunca esteve mais confusa quanto é agora. Muita coisa aconteceu nos últimos meses, muitas coisas que eu fiz certo e muitas coisas que fiz errado, mas isso é parte da minha vida agora, parte das minhas responsabilidades. Quem eu sou? Eu sou o Homem-Aranha.
Era fim de tarde quando eu estava no topo do Edifício Chrysler, ao longe, consegui ver viaturas da polícia correndo muito rápido em direção à Trump Tower. É uma teia atrás da outra, balançar entre os edifícios da cidade é bem tranquilizador no fim de tarde, principalmente no pôr do sol. Quando estava no topo, consegui ouvir muitos barulhos estranhos vindos de dentro, então mergulhei em direção ao som e usei minhas teias para me ricochetear para dentro do andar de onde vinham os sons, quebrando a janela na entrada.
O andar que eu entrei era um grande corredor para alguma espécie de cofre, e eu conseguia ver no fim do corredor algo muito… Familiar. E ao mesmo tempo muito estranho. Usando uma armadura em todo o torso e os braços, e uma máscara de metal que só mostrava os olhos, tudo naquele homem parecia algo que eu já tinha visto antes. Quando ele me viu no fim do corredor, jogou o guarda que ele tinha acabado de nocautear pra cima de mim, e eu facilmente desviei, pulando no teto e correndo atrás dele. Ele correu pra dentro do cofre, e tentou se trancar lá dentro por algum motivo, mas o meu… Tinido me avisou que eu não podia deixá-lo. Usando minha teia mais uma vez, eu segurei a porta do cofre com muita força, e ele acabou deixando ela abrir e correu pra dentro.
Quando eu entrei dentro do cofre, ele tentou me acertar pelo lado da entrada, mas eu segurei a mão dele, e tentei acertar o peito dele, mas acabei machucando a mão, aquele traje tornava todo o torso dele quase invulnerável. Não demorou muito pra ele começar a usar os pés, o malandro sabia algum tipo de arte marcial, e ele acabou ganhando a vantagem sobre mim quando ele usou o uma espécie de super-impulso dos braço do traje, que me jogou pra longe. Pra fora do cofre, pra ser específico. Eu estava na janela do corredor de novo, as minhas costas todas pinicando por causa dos cacos de vidro que entraram no meu uniforme. Eu conseguia ouvir ele jogando todas as joias pra dentro do saco que tinha trazido, não dava pra eu me incomodar com as costas rasgadas, eu corri de encontro, e ele saiu do cofre correndo também.
Lancei as teias, mas ele fez um mortal e desviou delas, e então tentei outra abordagem. Comecei a correr nas paredes do corredor e tentei acertar um golpe dele, mas ele desviou como se fosse um dançarino de limbo, e se lançou pela janela. Eu voltei correndo pra ver, e ele estava se lançando em um prédio bem na nossa frente, jogando o saco de joias na cobertura e pousando com as mãos logo em seguida, fazendo o traje absorver o impacto, caindo quase sem nenhum arranhão. Ele pegou o saco e acenou pra mim. Ah, eu não ia deixar isso barato, lancei teias nas bordas da janela e corri pro fim do corredor, e me estilinguei pra fora. Bem quando eu ia pousar no prédio dele, ele pulou pra um beco próximo. Eu o segui logo em seguida, mas… Nada. Tudo o que eu conseguia ver era a multidão agitada de Nova York na saída da ruela. Eu tinha perdido ele.
Mais tarde, eu estava voltando pra casa. Voltando em muitos sentidos, eu tinha me mudado de volta pra casa da Tia May. Harry não podia mais bancar o apartamento em que nós estávamos morando, ele voltou pra viver na propriedade da família dele e… Bem, ele precisava de um tempo sozinho depois que o pai dele morreu. Faz uma semana que eu não tenho notícias dele, mas o mordomo disse que ele está tomando o tempo dele e que tem se cuidado, então eu já fico um pouco mais seguro. Quando eu cheguei, parecia que eu tinha voltado um ano no tempo.
- Tia May! — Eu gritei — Cheguei.
- Oh, Peter! — A voz dela veio da cozinha — Venha cá, amor.
Quando eu cheguei na sala de jantar, tinha uma faixa de papel pendurada na parede que dizia “Bem-Vindo de Volta”. Eu comecei a sorrir e deixei minha mochila pendurada na cadeira, e me sentei nela. Ela veio da cozinha com um prato lasanha, e colocou na minha frente, dando um beijo na minha testa logo em seguida.
- Como foi a procura por trabalho hoje, querido?
- Ah, você sabe, correria. — Eu comi um pedaço da lasanha — Isso ta muito bom, não precisava fazer um dos meus favoritos.
- Ora, não seja bobo, Peter. Eu tenho você pra mim por mais algum tempo, eu vou te mimar muito antes de você se mudar de novo.
- Tia May, eu não tenho como te agradecer o suficiente por ter deixado eu voltar pro meu antigo quarto enquanto eu procuro outro lugar pra ficar.
- O prazer é todo meu — Ela disse, sentando na minha frente com outro pedaço de lasanha — Você por acaso conseguiu tirar alguma foto do seu amigo?
- Não… Mas cada cheque que eu ganho por foto dele é muito pouco pra dar entrada em qualquer apartamento no centro. Eu preciso de algo que me pague o suficiente pra dar entrada de três meses, um trabalho grande, mas rápido e relativamente fácil, de preferência.
- Mas você já pesquisou apartamentos? Isso é o ideal antes de correr atrás do dinheiro.
- Já sim — Eu tirei um pedaço de jornal de mais cedo do bolso — Aqui… Tá vendo?
- Sim…
- Eu já conversei com o senhorio, o senhor Ditkovich, ele disse que eu preciso de $800 pra bater os três meses.
- Sabe Peter… Eu ouvi um dos vizinhos falando sobre pagar pra alguém do bairro que saiba mexer com motores pra consertar o motor do carro dele. Se não me engano eram $900. Você sabe mexer com isso, não?
- Eu… — Com certeza fiquei um pouco contemplativo nessa hora — Eu com certeza posso tentar, sim.
- Então amanhã de manhã, fala com o vizinho da direita, o Fred Foswell. Ele tem uma van grande que precisa de conserto até… Eu não lembro bem, acho que daqui três dias.
- Muito bom, amor.
- Eu falo com ele e vou pro Clarim, o Jameson quer falar alguma coisa comigo.
- Oh! Você acha que ele finalmente quer te empregar?
- Não sei. Veremos! — Eu sorri pra ela
Nós terminamos de jantar e fomos dormir. No outro dia bem cedo, eu corri pra me arrumar, e depois de tomar café com a Tia May, eu já saí pra falar com o vizinho. A casa dele era praticamente igual à minha, é claro, e eu podia ver a van estacionada na vaga da casa dele, e comecei a dar uma olhada. Alguns minutos depois, ele saiu da casa e me viu observando o carro dele, o que o fez ficar confuso. Ele era um senhor com cabelo claro e grande bigode, maior que o do Jameson, chegou do meu lado e disse.
- Posso ajudar? — A voz dele era de um cavalheiro, muito suave
- Ah, oi. O Senhor que é o Frederick Foswell?
- Eu mesmo, e você seria…?
- Ah, desculpa. — Eu estendi minha mão e ele cumprimentou — Sou Peter Parker, o sobrinho da May Parker.
- Claro, boa e velha Dona Parker. Porque você está aqui, Peter?
- Ela falou que o senhor precisa que consertem o motor da sua van e que paga bem por isso. Eu na verdade preciso de muito dinheiro o mais cedo que eu puder, e eu me dou bem com mecânica, eletrônica, posso ajudar o senhor se quiser.
- Ah sim. Mas… — Ele olhou pro relógio de pulso dele — Estou saindo em cima da hora para ir pro meu serviço.
- Onde o senhor trabalha?
- No Clarim Diário, conhece?
- Se eu conheço?! Eu meio que trabalho lá também.
- É sério?! Muito bom, Jovem Parker, então por que não vamos nós dois? Você vai para lá também, não é?
- Vou sim, claro. Você tem algum outro carro?
- Não, na verdade vou de ônibus como um bom cidadão novaiorquino.
- Ótimo, eu também.
- Então vamos ao ponto, sim? — Nós começamos a caminhar enquanto conversávamos — Me diga, você trabalha no Clarim mas também precisa dos meus $900?
- É que eu estou vendo de alugar um apartamento no centro. Eu não pretendo morar com a minha tia, eu já dei muito trabalho pra ela já.
- Mas do que você trabalha?
- Ah, no Clarim eu só sou um fotógrafo freelance, comecei a trabalhar lá faz pouco tempo, então ainda não caí na graça do Jameson, mas eu preciso da grana.
- Pouco tempo? Você por acaso não é garoto que nos trouxe as fotos exclusivas do Homem-Aranha.
- Eu mesmo.
- Ora, mas é um prazer te conhecer. Você ainda é bem amador mas tem muito potencial.
- Ah… — Eu fiquei meio sem graça — Obrigado, eu acho.
- Oh… Eu fui indelicado, não?
- Um pouco.
- Me desculpa, eu sempre sou direto. Sabe, eu sou um jornalista investigativo no Clarim, uma mente aberta e afiada é sempre o ideal pra descobrir o faro da matéria.
- Isso é muito legal.
- Você pretende se tornar um Fotógrafo Jornalístico.
- Eu não pretendo, não. Eu estou estudando tecnologia, pretendo ingressar na carreira científica.
- Mas quem sabe, não é? Não é qualquer pessoa que aparece com uma exclusiva do Aranha antes de qualquer pessoa.
- É… Quem sabe.
Depois desse diálogo com ele, nós fechamos o negócio e combinamos dele deixar a van dele na garagem da Tia May para eu consertar até dali três dias. Chegamos no Clarim juntos e ele me falou um pouco mais das matérias que ele publicou no jornal, ele realmente parecia ter todo tipo de furo, principalmente sobre assaltos. Chegamos ao topo, ele foi pra mesa dele e eu fui em direção ao escritório temporário do Jameson. Me aproximei da Betty, ela estava numa mesa minúscula, e segurava o telefone no colo dela, tinha papéis por todo lado quando eu falei com ela.
- Oi Betty.
- Ah, oi Peter. — Ela nem tinha olhado pra mim direito — Pode entrar.
- Boa sorte aí.
- Pra você também! — Ela gritou enquanto atendia uma ligação.
Eu entrei na salinha improvisada do Jameson, a primeira ainda estava sendo reconstruída depois do ataque do Duende e o Jameson não estava gostando nem um pouco disso.
- Parker, que bom que chegou, sente-se. — Ele gesticulou para a cadeirinha de madeira na frente da mesa — Não liga pra qualidade, é tudo temporário.
- O que você queria me dizer, Sr. Jameson?
- Eu precisava te avisar pessoalmente, por causa de você ser o nosso novo fotógrafo e ser freelancer. Eu lancei um desafio na firma, quem conseguir uma exclusiva do próximo assalto do novo super-vilão, ganha um bônus de $500 à vista.
- $500? Uau. Mas quem é…?
- E você, começando a carreira de Fotojornalista, imaginei que ia gostar de…
- Eu não vou querer ser fotojornalista não, Senhor.
- Não?! — Ele levantou uma das grossas sobrancelhas dele, e pegou um charuto — Que desperdício! Não é qualquer um que aparece com exclusivas do Homem-Aranha hoje em dia.
- Eu já ouvi isso hoje… — Tentei sussurrar, mas ele ouviu
- Já? De quem?
- Um dos seus repórteres, o Frederick Foswell.
- Ah, Foswell é um dos melhores! Se você quiser tirar vantagem da situação, é com ele que você tem que ficar atento, estou apostando tudo que ele me arruma uma exclusiva do Ricochete e ganha a grana.
- Ricochete?
- Sim, o novo super marginal que atacou a Trump Tower ontem. Tudo o que ele tocava ou impulsionava saia voando a metros de distância, como um Ricochete. Bom, não é?
- É… Mas como vocês ficaram sabendo?
- Foswell, é claro, ele trouxe relatos de várias testemunhas que ele coletou antes mesmo da polícia entrevistá-las. Estavam o Ricochete e, sem sombra de dúvida, o parceiro de crimes dele, o Homem-Aranha.
- O Homem-Aranha?
- Sim, foi visto fugindo do local logo depois dele, coisa boa ele não está aprontando!
- Tudo bem então, obrigado por avisar, seu Jameson.
- Parker! — Ele me chamou quando eu estava quase saindo
- O que?
- Não borre nenhuma foto dessa vez.
- Tudo bem…
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