"Se tu tiveres uma boneca eu deixo que brinque conosco." A loiro afirmou sorrindo 'inocentemente' para a amiguinha de classe.
Ela não estar se importando de verdade com o brinquedo, poderia até emprestar uma boneca, se não fosse o ciúmes até deixaria que a colega se juntasse a elas, porém pelo garoto loiro do sala ao lado tudo isso valia a pena, todo o rancor tinha um motivo, não tão característico ou considerável, mas existia uma razão.
"Eu não tenho uma. Minha mãe acha que são muito caras e desnecessárias." Murmurou triste, levantando-se do chão da classe e olhando para a de olhos puxado. "Não poderiam me emprestar?"
A japonesa sorriu.
"Posso te-"
"Sentimos muito mas, não podemos." Respondeu a loira, atrapalhando a outra garota que responderia. Havia uma felicidade nitidamente aparecendo em seu tom de voz, decorava os belos e rosados lábios dela. Pena que ninguém naquela sala conseguia notar tal sorriso, deveriam ter sido mais atentos.
"Ah, que pena. Mas, tudo bem então. Se não podem eu até entendo." A ruiva sorriu, retirando-se de perto das meninas.
Acordando cedo como sempre, fiquei deitada sob o lençol da cama até escutar o tocar do meu despertador. O estranho sonho não parava de se repetir em minha mente. Não faria diferença levantar agora ou quando o despertador tocasse, mas a coragem me falta, então continuei deitada, a posição que eu estava era tão confortável, muito pouco provável conseguir ficar assim novamente. Eu estava ansiosa pelo início das aulas, devido a isso tive certa dificuldade para dormir durante a noite, mas um dos motivos para pequenas manchas roxas terem formado-se abaixo de meus olhos.
- Filha, já está na hora de levantar. - O grito de minha mãe ecoou pela casa em uma mistura sutil de raiva e preocupação. Como em todos os outros dias letivos.
Admito que sempre estranhei bastante o fato dela gritar para que eu acorde sendo que me deu um despertador há uns dois anos, mas prefiro não comentar sobre isso. Deve pensar que esquecerei que tenho aula, não que isso seja possível.
Sem responder nada apenas me levantei e fui ao banheiro, preparar-me para sair da moradia. Coloquei uma calça jeans preta, a blusa padrão da escola, fiz um rabo de cavalo trançado com meu longo cabelo - que pretendo cortar em breve, pois já se encontra na cintura - e fiquei olhando-me no grande espelho do guarda-roupa, tentando imaginar se eu ficava bela dessa forma, como todos os outros dias a resposta era a mesma "Estou maravilhosa."
Suspirei cansada, passando a mão pelos meus cabelos ruivos. Não os embaralhei muito, o creme não permite que isso aconteça.
- Filha, acorda! - Voriferou minha mãe novamente. Dessa vez mais alto que antes, como se estivesse a se enfurecer.
Peguei minha mochila escolar dentro do guarda roupa, coloquei meu tênis azul também padrão e desci as escadas, indo em direção a cozinha do apartamento antes que minha mãe desse outro grito, ou resolvesse subir para "acorda-me", sei bem que ela se irritaria ao saber que não quis respondê-la mesmo que acordada eu estivesse.
- Bom dia, Sah. - Cumprimentou minha tia assim que adrentei o cômodo da cozinha.
A luz que entrava pela janela ofuscou-me quase que momentaneamente, cegando-me por míseros segundos. Fitei a senhora, abrindo um largo sorriso. Seus curtos cabelos também ruivos prendiam-se em um coque no centro da cabeça, o rosto sardento sendo tampado pelo jornal que lia.
- Bom dia, tia Marina, mamãe. - Cumprimentei animada devido ao dia, acenando com a cabeça para mamãe quando falou.
- Bom dia.
Observei mamãe que se encontrava em pé de frente para o fogão, também olhei uma última vez para o relógio na parede e sentei-me a mesa, pegando uma xícara de chá.
Marina se encontrava sentada em uma das cadeiras da mesa, distraida com o jornal que era entregue diariamente pelo correio em nossa casa. Minha mãe, como eu já dissera, estava em pé diante do fogão, ela preparava o que pareciam ser panquecas de chocolate. Sempre que a vejo cozinhando, na maioria das vezes pelo menos, eu escuto minha mãe balbuciando que odeia cozinhar mas, quando ela tenta fazer qualquer coisa fica uma delícia.
Como todos os outros dias comeriamos em silêncio, sempre fora assim.
- Então Sah, querida - começou minha tia, dobrando o jornal e o pondo de lado sobre a mesa. Parece que dessa vez não ficaremos calados. - , está ansiosa com o começo do ano letivo nessa nova escola? - Indagou parecendo preocupada com alguma coisa.
Dei um gole em meu chá.
- Estou. - Respondi mordendo uma torrada com canela, meu olhar caído sobre a mesma. - Não desgosto da ideia de que será um ano escolar interessante, o ensino médio sempre foi algo distante de imaginar, mas isso que fazia interessante.
Mamãe franziu o cenho.
- Por quê? - Dessa vez, não foi minha tia que perguntou e sim, minha mãe sentando se na cadeira diante da minha e colocando um prato de panquecas diante de Marina. Ela parecia preocupada com alguma coisa, porém preferi não perguntar sobre isso, seria demais incomodar-me com algo tão pequeno como isso.
- Por que o quê? - Inquiri intrigada.
Eu realmente fiquei confusa com a súbita pergunta que ela fez. Minha mãe não tem o costume de perguntar as coisas, nunca teve para ser exata. Sempre, quando eu era mais nova, ela dizia que é falta de modo interromper outra pessoa quando fala e, bem, eu acho que ela não interrompeu ninguém então tanto faz.
- Por que tu achas que será interessante? - Indagou.
- Porque eu sempre quis ir para aquela escola - sorri ainda mais confusa, mas tentei não demonstrar para elas - , não lembra mamãe? Eu sempre dizia isso quando menor.
- Claro que lembro. - Responde minha mãe com um pequeno sorriso em seu rosto. - Fico feliz que tu também lembres disso.
- Ué, porque não lembraria? - Encarei minha mãe ainda mais confusa que antes. - Só por causa daquilo?
Essa sensação novamente. Sinto que algo não está certo, sei que elas me escondem alguma coisa e mesmo sendo muito errado esse pressentimento tenho certeza que me envolve. Desde aquela época sempre me envolve.
Provavelmente, culpa daquilo. Tudo é por aquilo.
Antes de tentar responder, minha mãe encarou minha tia, essa, por sua vez, apenas olhou para o relógio fixado na parede, e logo bateu as mãos como se estivesse lembrando de algo - o que duvido que tenha acontecido.
- Sah, minha querida. Acho melhor você ir se não se atrasará no seu primeiro dia. - Marina como sempre mudando de assunto.
Ah, claro. Não me responda. Apenas me ignore como na maioria das vezes.
- Acho que não. Qual a hora? - Perguntei permitindo que ela mudasse de assunto. Olhei para o relógio, sete e quarenta e cinco, faltam cinco minutos para o ônibus passar. E depois desse só teria um outro as oito e vinte cinco e nessa hora a escola já estará fechada. - Oh, meu Deus.
Levantei-me de sobressalto da cadeira, dei um beijo no rosto de minha mãe e de minha tia, fui ao banheiro do primeiro andar escovar os dentes.
Ao abrir a porta com a minha copia da chave e gritei um até mais para as senhoras lá na cozinha, ajeitei a mochila sobre o ombro e sair da casa trancando-a - mas não sem antes de sair escutar minha mãe gritar um alto "se comporte" para mim. Procurei o vale transporte em minha pequena carteira de bolso e corri até o ponto de ônibus mais próximo, que já o último ônibus estava a sair.
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