O tempo estava nublado em Lakehaven e já escurecia. Os pais de John haviam saído para caçar, junto de seus amigos.
John com seus 10 anos de idade, acordou num sofá e viu Acira sentada no chão de costa para ele. Ela era filha dos amigos de seus pais, que os visitavam de tempos em tempos. Sentada no sofá e encostada em seu pé, encontrava-se Leonor, tia de Acira. Ambas assistiam TV, mas ao notar que John acordara, Leonor comentou:
— Já acordou John! — e o cutucou no pé. — Levanta! Daqui a pouco eles estarão de volta com o jantar. — disse sorrindo. Acira o encarou e sorriu. Ambas eram loiras de olhos castanhos claros e com a pele similar a neve.
John obedeceu sem dizer nada e se sentou no sofá. Escutou um choro de bebê vindo do andar superior, supôs que fosse Allec. Leonor se levantou e caminhou em direção ao quarto do bebê, dizendo as duas crianças, que voltaria logo. Ao sumir nas escadas, Acira levantou rapidamente e o puxou pra fora da casa dizendo:
— Vem John, tava esperando você acordar.
— Por que Acira?
Ela apenas sorriu em resposta e o largou, começando a correr em direção as árvores.
— Espera Acira! Não é melhor avisar a tia Leonor? — John correu atrás dela, mas ela não respondeu.
Correram por alguns minutos e desceram uma ribanceira. Acira se agachou num arbusto e John a imitou.
— Olha. — disse Acira mostrando um alce ferido e parecia ter sido abandonado pelo bando, mas era só um filhote. — Eu o farejei John! — disse rindo baixinho.
— Lá de casa? — perguntou surpreso, pois ela era dois anos mais nova do que ele.
Ela apenas balançou a cabeça positivamente.
— Que incrível Acira! Mas o que vamos fazer?
— Vou chamar a tia para abatê-lo...
— Hum... Vamos então. — disse pegando na mão dela se levantando. Ao se virarem, se depararam com a suposta mãe do filhote ferido, que batia os cascos no chão, demonstrando hostilidade.
Acira começou a tremer, John apertara sua mão e sussurrou:
— Corra quando eu disser...
O alce não tirava os olhos deles, até que avançou.
— Agora! — gritou John a puxando para outro lado. Os dois eram apenas crianças e mesmo sendo lycans, um alce possuía força suficiente pra matá-los.
— John! — Acira gritou ao prender o pé num buraco. Ele ficou sobre ela e se preparava pra receber a pancada no lugar dela.
— Corra John... — ela gritou e o empurrava chorando, para que fugisse. — Nãooo!
Com a adrenalina ao extremo, ele não a ouviu e quando a mamãe alce empinou-se pra cima para golpeá-lo com seus cascos, ele apenas fechou os olhos e pôde ouvir as batidas de seu coração acelerado.
Por um milagre, quando os abriu novamente, seu pai e mais dois lobos a derrubavam.
Olhou para o lado e avistou uma loba de pelos dourados se aproximando dos dois, que estavam caídos no chão.
— Mãe? — perguntou John entre lágrimas.
— Vocês estão bem? — perguntou a loba e ele a abraçou com força.
— Tia! — Acira também a abraçou.
— Escutamos os gritos, por sorte estávamos por perto.
— O que diabos estão fazendo aqui John? — seu pai perguntou se aproximando grunhindo os dentes, após abater a mãe e o filhote de alce. — Se chegássemos apenas um minuto mais tarde, vocês poderiam estar mortos! — ele rosnou. — Está de castigo!
— Desculpa pai. — as duas crianças começaram a chorar.
— Calma amor, vamos pra casa e lá conversamos ok. — disse Barbara, pegando os dois no colo e andou sobre as duas patas.
Charles rosnou e voltou sua atenção para os amigos.
— Vamos levá-los, avise a Glória e Richard que estão com o outro alce. — ordenou e começou a puxar o filhote sozinho. Enquanto um dos amigos uivava, o outro lycan começou a arrastar a mãe alce.
Ao se aproximarem da casa, John avistou Leonor na porta com Allec no colo, com uma expressão preocupada.
— Graças a Deus! — ela correu e foi até John e Acira, que andavam com as mãos dadas com Barbara. Sua visão começou a embaçar quando ela se aproximava.
— John... — escutou ela chamar. — John... — a voz dela foi ficando distante.
— John! — gritou seu irmão. — Você está bem mano?
— Hã? — ele despertou assustado e suando. — Foi um sonho? — ele levou suas mãos a sua cabeça. — É a terceira vez que tenho o mesmo sonho nesta semana.
— Quem é Acira John? Você diz o nome dela às vezes quando está sonhando.
— Era uma amiga de infância, faz mais de 10 anos que não tenho notícias dela, nem de sua família. — ficou com um olhar distante por um momento, se recordando que depois do incidente com a mamãe alce, a família de Acira nunca mais os visitaram e se questionou o que teria acontecido com eles.
— Bom, eu já vou indo então... — Allec disse pegando a mochila.
— Que horas é Allec?
— 7h45min...
John pulou da cama e correu para o armário.
— Droga, por que não me chamou? Estou atrasado para o serviço!
— Mas você mesmo me disse ontem, que ia entrar depois do almoço, esqueceu?
— É verdade...
— Tá com a cabeça aonde John? Eu hein... Falou! — disse fechando a porta.
— Nem eu sei... — John pegou algumas roupas e foi se banhar. No banho se refugiou em seus pensamentos e sentia-se inquieto, por estar revivendo estas lembranças e ainda mais recordando-se de sua única amiga, como se fosse um pressentimento. Desligou o chuveiro e pensou alto: — Eu devo estar delirando, ela pode até estar morta.
Tinha se passado um mês, desde que John comera carne humana e seu organismo ansiava novamente pelo sangue deles. John passara a maior parte do tempo meio aéreo. A abstinência por sangue humano, dava a sensação de que enfraquecia. No café da tarde, ficou tomando um ar na saída dos fundos da cozinha, com acesso a um pequeno corredor, que destinava-se a rua e no caminho havia algumas caçambas de lixo.
Uma jovem moça loira o avistou e se aproximou para pedir-lhe informação. Ela usava óculos escuros, carregando apenas uma pequena mala e vestia uma calça social preta e um casaco azul marinho. Ela o cumprimentou e John retribuiu, lançando um olhar ligeiro para o corpo da moça.
— Moço, por gentileza, eu estou procurando por um homem que trabalha neste hotel... Eu iria pedir informação para a balconista, mas acho meio inconveniente conversar com ele em pleno expediente.
— Qual o nome dele?
— É John... Na verdade, não sei se é exatamente neste hotel que ele trabalha... Só sei que ele trabalha nesta rua.
— Bom, depende... — John fez uma cara pensativa e desconfiado, pois o cheiro da moça era diferente das fêmeas humanas. — Eu conheço duas pessoas com esse nome, mas quem os procura?
— Eu preciso conversar com ele urgente, sou uma amiga.
— Hum, entendo... Na verdade um trabalha neste hotel, mas já foi embora. Tente vir amanhã... — disse andando até a porta. — Preciso ir, me desculpe.
A moça não respondeu, mas deu um sorriso discreto quando John abriu a porta e ela disse:
— Nossa... Grande amigo você... JOHN MOOL. — disse bem lentamente o nome dele, com um sorriso de orelha a orelha.
John se virou rapidamente surpreso, porque há muitos anos não usava seu verdadeiro nome.
— Não me reconhece depois de todos esses anos? — ela retirou os óculos.
“Não acredito... Os mesmos olhos de boneca, só podem ser da...”, pensou. — É você mesma... A-Acira? — John perguntou quase que gaguejando e desconfiava que seu cheiro fosse familiar, sendo que na última vez que a vira, seu olfato não era tão bom como agora.
— Há quanto tempo John!
O Capítulo continua em "Acira - parte 2"
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