Já fazia um mês, em que Allec pedira Jennifer em namoro aos pais dela. Desde que começaram a namorar, Allec passava bastante tempo na casa dela, que foi uma das exigências dos pais de Jenny, pois assim saberiam que sua filha sempre estaria em um lugar seguro. Allec concordou, até porque ambos eram bem caseiros. Cada vez mais se apaixonava pela garota, que tinha um ar misterioso e meigo ao mesmo tempo, além de partilharem os mesmos gostos por vídeo games e estudos, mas não contara nada a John.
John acompanhara Acira até sua humilde casa.
— Fique à vontade. — disse ele enquanto fechava a porta. — Só não ligue pra bagunça...
— Relaxa, estou acostumada e não mudou nada desde aquela época... Seu quarto era exatamente igual. — disse rindo e se acomodando no sofá.
— Muito engraçado, vindo da destruidora de roupas! — John lançara um olhar sarrista e foi até a geladeira. — Quer alguma coisa pra beber ou comer?
— Não obrigada, eu já comi.
— Está bem. — John encostou-se na mesa da cozinha e fixou o olhar nela.
— Que foi? — perguntou encabulada.
— Não consigo acreditar que está aqui... Depois de todos esses anos.
— O tempo passou muito rápido, não é? — ela sorriu e desviou o olhar.
— E como... — John cruzara os braços. — Acira... Não querendo ser indelicado, mas não está me parecendo que veio apenas como visita, você cheira a nervosismo desde que me encontrou... — John riu e disse. — Não se intimide por causa deste belo macho a sua frente, você não é assim.
— O quê? Cala boca John! — disse lançando uma almofada na cara dele e riu. — Não seja convencido!
— Não, mas sério agora, tem algo te incomodando... O que é?
— Você tem razão... — o sorriso cessou-se. — Eu estava de passagem, mas senti seu cheiro na região e resolvi vim alertá-lo.
— De quê?
— Há caçadores nesta cidade.
— Como pode ter certeza?
— Estão suspeitando de alguns casos...
— Do que você está falando?
Ela não respondeu e mexeu em sua bolsa, tirando alguns papéis dobrados e entregou a John. Quando ele olhou as manchetes de jornais, se espantou e perguntou:
— Como conseguiu isso?
— São casos atuais, alguns curiosos devem ter tirado fotos antes da polícia encontrá-los, que acabou parando na internet... E se eu consegui te encontrar, eles também irão...
John apertou as folhas e ficou pensativo, pois eram os casos de assassinato, que ele havia cometido.
— Uma família que veio morar recentemente aqui, notou a “movimentação” fora do período da lua cheia e estão chamando os companheiros para cá... Mais deles virão. — ela continuou se referindo aos Evis e caminhou até John. — É por isso, que preciso da sua ajuda... — disse levando sua mão ao rosto dele.
— Minha ajuda pra quê? — perguntou lhe entregando as folhas.
Ela se aproximou do ouvido dele e sussurrou:
— Matar todos eles...
John se surpreendeu com as palavras dela e a afastou de si.
— Não matamos humanos é proibido! — afirmou John engolindo em seco, suas próprias palavras.
Acira riu e abriu as manchetes em sua direção. — Estas fotos dizem ao contrário de você ou será o seu irmão?
John pegou as fotos com as notícias novamente e guardou em seu bolso, mais tarde se livraria delas e suspirou antes de dizer:
— Você não entende... Eu precisei.
— Admita John, as carnes deles são até melhores do que de alces... Eu também já provei. — Acira sentou-se no sofá novamente. — Além de ser um alimento em abundância, uns três ou quatro por mês não fará falta.
“Essa não é a doce e gentil Acira que eu conhecia...”, pensou e se sentou ao lado dela no sofá e manteve o olhar longe por alguns segundos, antes de dizer: — Só me diga o verdadeiro motivo de estar fazendo isso.
— Vingança! Irei me vingar deles, por terem destruído toda a minha família e a de todos os outros, que também foram vítimas desses desgraçados.
— Você sabe que nem tudo se resolve na violência... E matá-los não irá trazê-los de volta.
— Eu sei, mas não posso mais voltar atrás John, já percorri um longo caminho e vi muitos dos nossos serem massacrados, sem um pingo de piedade... Estão planejando um extermínio de nós “puros”, que é como eles nos chamam, pois somos a fonte do sangue da licantropia. — ela desviara o olhar. — Se não quiser se envolver eu entendo, afinal você tem que cuidar de seu irmão também.
— Você só pode estar brincando, se pensa que vou deixá-la se envolver nessa sozinha, afinal é muito perigoso. — John levou sua mão ao rosto dela, a guiou suavemente, para que o encarasse e continuou:
— Que lycan eu seria, se abandonasse alguém de minha própria espécie... Eu meio que estava pressentindo isso.
— Como assim?
— Esses dias eu andei sonhando com aquela caçada ao filhote, em que fomos escondidos e tomamos um grande susto.
— Eu me lembro... Foi horrível...
— Eu fiz uma promessa a mim mesmo naquele dia, que não a deixaria se machucar... E uma promessa para um lycan é dívida... Só peço que por favor, não conte sobre essas fotos ao meu irmão.
— Tudo bem... Obrigada John! — ela o surpreendeu com um abraço, suspirou e disse em seguida, com uma voz nostálgica: — Essas lembranças... Eu fui uma tola na época, fiz aquilo pra te impressionar e eu quase matei a gente.
— Nós éramos crianças. — John riu.
— Eu não sabia mais a quem recorrer... — ela se afastou lentamente e agradeceu. — Obrigada. — disse com seu rosto bem próximo ao dele.
John notara que o coração de ambos se acelerara e haviam corado suas bochechas.
— Não é nada. — John respondeu baixo e sentindo a respiração dela. Estavam quase completando o caminho do beijo, até que escutaram a porta destravar e pularam do sofá, ficando ambos em pé quando Allec entrou.
— Olá? — Allec parou na porta ao avistar Acira.
— Olá! — respondeu tímida.
— Allec, esta é Acira, ela é uma amiga de infância. — disse gesticulando para ela, enquanto Allec se aproximava. — E Acira, lembra-se de Allec?
— Me lembro sim! Como você está enorme! É a cara do John de quando era mais novo.
— Me desculpe, mas não me lembro de você...
— Não é pra menos, você tinha um ano da última vez que ela nos visitou. — respondeu John.
— De qualquer maneira, é um prazer conhecê-la. — Allec disse a cumprimentando com um aperto de mão animado, porque há muitos anos não via alguém, além de seu irmão de sua própria espécie.
— O prazer é todo meu querido.
— Bom, fique à vontade, vou dar mais uma estudada, porque amanhã tem prova, com licença. — disse caminhando até a bicama.
— Vai lá mano, você vai passar com certeza!
— Tomara! — respondeu Allec, revirando o material em sua mochila.
John fizera um sinal com os olhos para Acira em direção à porta, como se dissesse para ela se retirar junto dele, para darem continuidade ao ato interrompido por Allec, mas ela apenas lhe lançara um sorriso.
— Bom, já está tarde, eu já estou indo dormir gente. — disse Acira se ajeitando no pequeno sofá de dois lugares.
John e Allec olharam surpresos pra ela.
— Não quer dormir aqui na cama? Afinal você é uma convidada. — perguntou Allec.
“Não me lembro de ter dito para ela ficar aqui... Pensei que estivesse hospedada em algum hotel.”, pensou John e coçou a cabeça.
— Não se preocupe, aqui está confortável, obrigada!
— Tudo bem. — Allec respondeu voltando a ler.
— Er... Vou pegar um edredom... — John disse abrindo o armário e jogando o cobertor sobre ela em seguida, que beliscou sua perna e piscou pra ele.
— Obrigada! — virou-se de costas para os irmãos. — Boa noite!
— Boa noite! — respondeu ambos e Allec lançara um sorriso maroto para John, que deu de ombros e acabaram adiando a caçada, que iriam na madrugada.
Na manhã seguinte, John acordara assustado, por causa de um sonho, em que ele fugia de caçadores, mas que logo esqueceu ao notar que Acira não se encontrava no sofá.
— Acira? — perguntou olhando ao redor, mas também não viu nenhum sinal dela no banheiro.
Allec despertou com o chamado de seu irmão e se sentou na cama. Enquanto o irmão guardava o edredom dobrado no sofá, perguntou:
— Você gosta dela, né John?
— Do que você está falando?
— Eu vi o jeito que vocês se olharam ontem à noite... — comentou com um sorriso maroto.
John erguera uma sobrancelha para ele e retrucou indo até a geladeira. — Somos apenas amigos... Aliás, desde quando você entende sobre fêmeas?
— Desde que comecei a namorar... — Allec disse se debruçando na janela, que era encostada em sua cama e tomou coragem para contar a seu irmão, pois se John tinha uma namorada, ele também poderia ter.
— O quê?
— Relaxa John, é apenas uma humana, ela estuda comigo...
— Deve terminar com ela, você sabe muito bem, que é muito perigoso o relacionamento com humanos! — afirmou sério, batendo a porta da geladeira com força e com os olhos de sua forma lycan. — Já conversamos sobre isso, é bom fazer o que eu tô pedindo! — John rosnou indo até a porta de entrada.
— Você é que tá ficando paranóico! E se você tem, eu também posso ter! — retrucou enquanto caminhava até o banheiro e fechou a porta com força.
— Já disse que somos apenas amigos! — reafirmou em tom alto e levou sua mão na maçaneta, que girou no mesmo instante em que puxou.
Acira tinha empurrado a porta e se desequilibrara, caindo em cima dele e foram ao chão, chocando suas cabeças um no outro.
— Hã? — John sentiu-se levemente atordoado, devido a cabeçada e também algo macio em seu peito. Seus pelos se arrepiaram e seu corpo começou a ferver, quando notou que eram os seios de Acira. Algo mais embaixo começara a formigar entre as pernas dela e gritou: — Acira!!!
— John?! Ai meu Deus, me desculpe por isso... — disse corando e se levantando, saindo de cima dele envergonhada, pois estavam numa pose constrangedora.
— N-Não é nada... O-Onde você estava?
— Fui buscar o café! — disse mostrando duas sacolas de plástico, que estavam com as alças amarradas.
John observou as sacolas e em seguida olhou pra ela.
— Que cara é essa? Não achou mesmo que eu iria embora sem me despedir, achou? — disse levando as sacolas até a pia e mexendo nos acessórios, ficando de costas para John, que também se levantou.
— Em questão a isso você não mudou nada. — ele comentou e começou a observar as curvas, que ela possuía. Sentiu vontade de lambê-la e enquanto a admirava, lambeu os beiços, desejando-a. Acira, sua companheira de aventuras na infância, era vista com outros olhos agora. John ficou hipnotizado pela bela visão a sua frente, da pequena ser frágil e atraente em que ela tinha se tornado. — Uma bela fêmea. — pensou alto falando bem baixinho.
— O que disse? — voltou seu olhar pra ele, que corou.
— Hã? Não... Nada...
— Tá bem, mas venha me ajudar com isso aqui. — pediu, pegando as carnes. — Onde estão as panelas?
Allec saíra do banheiro enxugando o cabelo e disse:
— Bom dia Acira!
— Bom dia querido!
Allec encarara John e sorriu maliciosamente, sem que ela notasse.
John apenas deu de ombro e erguera as sobrancelhas.
— Sabe Acira... Estávamos comentando, se você por acaso, não gostaria de caçar conosco hoje à noite? — Allec mentiu, pois não comentara nada.
— Mas é claro! Eu adoraria! — ela sorriu e socara John levemente no ombro. — Por que não me disse nada John?
— Eu iria dizer, mas você já aceitou... Então, não preciso mais. — disse em seguida encarando seu irmão.
— Está bem... — ela sorriu pra ambos e deu continuidade ao café, que preparava para eles.
Acira em forma lupina.
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