O ambiente estava abafado e cheirava a suor, mas o fedor de tabaco predominava sobre todos os outros. John tentou mover os braços, mas seus membros ainda estavam fracos e dormentes.Sua visão começou a clarear e sentiu-se como se estivesse sendo observado. Logo percebera os fios em volta ao seu corpo, que o prendia em uma grade gelada a alguns centímetros do chão. Os vultos tomavam forma e questionou em um sussurro.
— Quem são vocês? E por que estou amarrado?
— Olá amigo... — disse Marcus sorrindo. — Sinto muito por isso, mas não podemos deixá-lo solto por aí, pois sabemos o que você é...
— Do que está falando?
— Não se faça de desentendido, você é a criatura que vem aterrorizando estas bandas, você é um lobisomem e uma das vítimas foi o irmão deste homem. — Marcus apontou para Robert que desejava mais que tudo sua vingança.
Ao receber um sinal sutil de Marcus, Robert lentamente se aproximou de John, que o encarava confuso. Apenas a alguns centímetros do lycan, sentiu seu punho ferver e acelerou-o em direção à face de John. O surpreendera com dois socos no rosto e o último direcionara ao estômago.
John, após absorver a dor, rosnou e começou a se transformar, seus olhos e presas já eram visíveis e recebera uma perfuração em seu abdômen, pois Robert possuía uma faca. — Garghhhh — John gemera de dor.
— Já chega! — Marcus ordenou e Robert se afastou limpando o sangue da faca com um tecido que tirara do bolso da calça.
John furioso cuspiu o sangue que se acumulará em sua boca o mais longe que pôde mirando nos caçadores. Soltara um sorriso sutil e começou a se mover em sua transformação, por sorte não tivera nenhum órgão vital perfurado. Mas fora surpreendido por uma sequência de choques ao tentar romper os fios conectados a algum tipo de bateria, que o fez parar de reagir e voltar ao normal.
Marcus sorrira se agraciando com a cena de seu prisioneiro.
John ofegava, devido à recuperação que se iniciara e perguntou.
— Como me encontraram?
— Isso foi fácil, as mortes de todas as suas vítimas foram um indicador de que não eram lobos comuns e também contamos com a ajuda de uma amiga sua. — disse olhando para a porta. — Podem trazê-la! — ordenou e Acira entrou sendo empurrada por um homem enorme, e ao encontrar o olhar surpreso de John, desviou deles.
— O que diabos está acontecendo Acira? — John gritou, mas ela permaneceu em silêncio.
— Você caiu direitinho... — o homem foi até ela que não conseguia olhar para John. — Ela nos levou até você!
— Quer dizer então que desde o início você esteve do lado deles? — John perguntou indignado e rosnou. — Como pôde se juntar a eles?
— Onde elas estão? — Acira questionou secamente Marcus com um olhar frio e ignorando John, forçando ao máximo para controlar suas lágrimas, pois o amava e a imagem dele preso e ferido a torturavam.
— Eu as entregarei assim que cumprir nosso trato!
— Eu já cumpri, o irmão dele não é uma ameaça... Você prometeu fazer uma troca...
— Já que insiste... — Marcus lançou um olhar para um dos homens na porta, que saiu e voltou com uma caixa alguns minutos depois. Abriu-o em cima de uma mesa, retirara um jarro bem esculpido, com uma tampa e o entregou a Acira.
— O que é isto? — perguntou assustada.
— Como prometido... Estão aí!
— Você não pode estar falando sério... — ela deixou escorrer uma lágrima. — Eu as vi ontem pela câmera...
— Sinto muito em dizer, mas era uma gravação... Estes são os restos mortais delas... Elas adoeceram durante o “tratamento” há algumas semanas e não resistiram. — disse enquanto acendia um cigarro.
Acira abraçara o jarro e começou a chorar. — Mentiroso... — ela sussurro e apenas John conseguira ouvir. Se abaixou e encostou o jarro no chão com cuidado. — É raríssimo adoecermos... Aposto que você mesmo as matou! Seu... Seu desgraçado! — ela começou a dar sinais de que iria se transformar e com o silêncio da sala se escutavam os ossos estralando.
— Acira cuidado! — John gritou tentando se soltar ao notar que ela também era uma vítima dos caçadores.
Marcus fizera um sinal positivamente com a cabeça para um dos homens que cercavam Acira. Para o homem que possuía uma faca, Acira estava à distância de meio metro. Porém, depois que acertara inofensivamente o espaço vazio de onde ela deveria estar, ele mal pode perceber quando ela explodiu para cima, girou o corpo no ar e caiu atrás dele desferindo-lhe um chute potente como uma vingativa marreta de ferro. Em seguida ela fora em direção a Marcus, mas ele a surpreendera ao disparar uma pequena válvula de fumaça, contendo wolfsbane e o cheiro à fez ficar zonza. Com a brecha, um dos homens a golpeara no estômago.
— Amarrem-na junto ao outro... — Marcus ordenou enquanto se retirava e ao passar por ela pegou em seu queixo e disse. — Trato é trato querida... Você não cumpriu o seu...
— Desgraçado! — ela resmungou como se estivesse sonâmbula sendo segurada por dois homens e foi presa ao lado de John.
— Hey, seu covarde! O que pretende fazer conosco? — John gritou.
— Tenho planos futuros pra vocês dois, não vem ao caso agora.
— Cretino!!!
John tentava se transformar novamente, mas em vão.
Acira corria em um campo florido acompanhada de suas irmãzinhas que eram gêmeas. Sentiam-se felizes até que suas irmãs foram surpreendidas por uma rede e serem arrastadas até a luz forte de um helicóptero.
— Aciraaaaaaaa... — ambas gritavam por socorro.
Acira começou a correr na direção delas, mas quanto mais se aproximava, mais distantes ficavam. — Não! Esperem por favor!
— Acira... Acira... — a voz que a chamava mudara de tonalidade, era mais grave.
— Acira, acorde!
— Charlotte... Lirya? — resmungou baixinho enquanto recobrava a consciência.
— Acira...
Ela olhou para o lado, John ainda encontrava-se amarrado e apenas os dois estavam na sala agora.
— Me perdoe John... — ela começou a chorar. — Eu fui uma tola ao confiar neles... Por minha culpa você está preso e ferido...
John permaneceu em silêncio. Suspirou profundamente e desviou o olhar, pois ainda sentia-se ferido por dentro devido à apunhalada que ela lhe dera ao enganá-lo.
Acira o encarava fixamente, imaginando o que ele estaria sentindo e tentou se explicar. — Minhas irmãs e eu éramos as únicas sobreviventes do massacre, mas eles as capturaram enquanto eu caçava. Chantageavam-me há meses, aqueles desgr... — ela foi se mover de ódio e fora eletrocutada. — Arghhh.
— Não se mova... — John disse voltando a encará-la. — Sinto muito pelas suas irmãs...
— Obrigada... Você me perdoa?
— Por que mentiu pra mim Acira? Eu estaria disposto a dar minha vida por você, até poderíamos ter bolado algum plano para salvar suas irmãs, juntos... Mas pelo jeito não a conheço tão bem quanto eu imaginava...
Acira não conseguira segurar as lágrimas. — Eu sei... Não sou digna do seu perdão, mas eu tive tanto medo que eles desconfiassem, caso vocês soubessem do plano deles, que teriam nos matado em um piscar... Eles estão em todos os lugares John...
— Já chega... Por agora não quero ouvir mais nada... — disse observando o ambiente, procurando por algo e disse. — Precisamos sair daqui!
Acira ainda soluçando devido às lágrimas disse — Está bem... Mas como sairemos daqui? E pelo tempo que conheço Marcus ele pretende ir atrás de teu irmão.
— Temos que dar o fora daqui o quanto antes e também precisamos alertá-lo. — John pegava fôlego para uivar, mas foi interrompido por uma voz doce.
— Por favor, não faça isso.
John olhou na direção da voz e rosnou. — Você?!
Allec fora até o hotel em que seu irmão trabalhava enquanto escurecia. Achou estranho também Jennifer ter faltado da escola e não ter entrado em contato.
— A que horas John saiu hoje Marlene? Eu passei em casa, mas ele não estava lá. — perguntou para a atendente.
— Olá querido, hoje ele não veio trabalhar, até achei estranho ele não ter avisado que não viria...
— Hum, entendo, devo ter uma ideia de onde ele esteja... Obrigado!
— Tudo bem, avise seu irmão pra ele ligar quando for faltar, por favor, pois se não terei que reportá-lo para os superiores... Só espero que não tenha acontecido nada grave...
— Pode deixar, obrigado.
— Se uivar e o avisar, Marcus fará da maneira mais fácil, encurralando-o. — disse Jennifer se aproximando.
— Meu irmão está correndo perigo!
— Eu sei. Eu vim ajudar. — disse tirando do bolso uma faca de prata. — Se não o alertar ele fará uma caçada, dando a ele uma chance...
John rosnou quando ela chegou mais perto.
— Calma... Eu não vou machucar vocês... É só cortar este fio e vocês estarão livres. — disse enquanto cortava o fio que ligava a bateria.
Ambos caíram ajoelhados ao mesmo tempo e ao sentir o chão, John avançara no pescoço de Jennifer com seu braço direito a encurralando na parede.
— Me convença a confiar em você!
— Ele... — ela resmungou tentando se soltar dos braços de John.
— Calma John, de todos aqui eu acredito que ela seja a única que tenha compaixão... — Acira disse tentando puxá-lo.
— Ele... Deu-me isto. — disse retirando um colar com pequenas penas, feito por Allec que usava diariamente por baixo da roupa. Sua mãe dizia que lhe traziam sorte. — Só estou retribuindo um favor, pois ele me salvou uma vez.
John a soltara e pegara o colar de sua mão. Acira aparou Jennifer antes que caísse no chão.
— Me desculpe...
— Tudo bem... Temos que correr.
— Tem alguma ideia para onde estão indo? — perguntou Acira.
Ela apenas acenou positivamente com a cabeça.
Os três combinaram um local de encontro. John e Acira cortavam caminho pela floresta para atravessar a cidade e seguiam correndo em forma humana. Jennifer pegara a moto da família e se equipara com algumas armas.
John corria na frente e Acira tentava acompanhá-lo, mas com seus pensamentos distantes não conseguia manter o passo. Examinava se seria o momento certo para dizer a ele o que passava em sua mente e quais palavras utilizar. — “Eu preciso lhe dizer, ele tem esse direito... Caso aconteça algo eu não...” — seu pensamento foi interrompido por John que parou.
— Está tudo bem Acira?
— Está, por quê?
— Precisamos ir mais rápido...
— Está bem...
— Bem, vamos então... — disse ao se virar pra correr, mas Acira o segurou com as duas mãos.
— Espere... John espere, por favor...
— O que houve? Não vá me dizer que está assim por causa do que aconteceu? Você teve seus motivos, eu entendo seu lado. Por isso peço que me conte o que está...
Ela o interrompeu falando algo bem baixinho.
— O quê?
— Estou grávida John...
John se surpreendera com a notícia.
Era noite e Allec caminhava próximo a escola, ficou preocupado, pois seu irmão nunca havia sumido assim. Aproximou e sentou-se no balanço que se encontrava bem perto do bosque, enquanto tentava farejar algo.
“Droga John, onde você se meteu?” — pensou e começou a observar a lua em sua fase crescente. — “Está uma ótima noite... Eles devem estar caçando... Por que estou me preocupando? Depois de 01h00 eles já devem estar de volta...” — olhou mais uma vez pra lua e pensou. — “Nem pra me avisar... Desta vez passa mano, pois eu sei que você quer privacidade com a nova integrante da equipe.” — levantou-se e continuou seu caminho para casa, mas ao dar o segundo passo escutou algo perto do lixo. Virou-se e viu a forma de um homem na escuridão. — Quem está aí?
— É Allec, não é?
— Não é da sua conta.
— Eu acredito que seja... — o homem alargou o sorriso e os jipes que estavam quase imperceptíveis pela escuridão acenderam seus faróis.
“Como eu não percebi a presença deles?” — pensou. — Quem é você? — Allec levou a mão no rosto para proteger seus olhos das luzes e tentou reconhecer o homem, mas não conseguia farejá-lo.
— Tem certeza Acira?
— Sim, eu estranhei que meu ciclo atrasou alguns dias e ontem fiz três testes de gravidez e todos deram positivos... — disse desviando o olhar e o sentiu puxá-la pra si em um abraço.
— Um bebê... Quem diria... — John comentou em seu ouvido. — Você realmente me surpreendeu agora...
— Você não está bravo?
— Tá brincando? Esta é uma ótima notícia! Pena que em uma péssima hora, pois podíamos estar comemorando agora... Só de saber que terei um filhote com você eu fico realmente feliz.
Ela retribuiu o abraço e sentiu as mãos dele em seu ventre.
— Está de quanto tempo?
— Desde que nós... — disse timidamente. — Você sabe... Quando me juntei a vocês...
— Entendo, bem depois conversamos, Allec precisa de nós agora.
— Certo! — afirmou Acira e os dois correram com as mãos entrelaçadas.
— Vamos jogar um pouco Allec... Se você conseguir ultrapassar o riacho do bosque em sua forma humana deixaremos você viver...
— Do que você está falando?
— Não se faça de desentendido igual ao seu irmão, pois sabemos o que vocês são... Aberrações!
— Meu irmão? Vocês estão com ele?
— Sim, e se você conseguir completar o trajeto, o libertaremos também...
— Droga... — Allec rosnou pra si.
— Você tem direito a 10 minutos de vantagem... A partir de agora. — disse o homem sorrindo.
— O quê? — Allec sem entender deu um passo para trás e um dos homens disparou um tiro próximo ao pé dele que o fez correr.
— 9 minutos hehe...
Comments (0)
See all