Allec corria com todas as forças e também estava apavorado, pois não conseguia farejar ao redor. Acabou que tropeçando em um tronco e escutou uma arma carregar bem na sua frente.
— Olá lobinho, infelizmente o caminho termina aqui. — disse um homem apontando uma arma para Allec.
— Não! Espera! Ele me disse que eu tinha alguns minutos ainda...
— E você acreditou? — perguntou Robert com um sorriso estampado no rosto.
Allec entrou em pânico e se arrastou até encostar-se a uma árvore e ouviu outra arma carregar atrás do homem.
— Solte a arma Robert! — ordenou Jennifer com a arma na nuca do homem.
— O que está fazendo Jennifer? Seu pai não vai gostar disso... — resmungou erguendo as mãos.
— Cala a boca! — gritou e deu uma coronhada na nuca de Robert que desmaiara e pegara a arma dele.
— Jenny... — Allec disse ainda no chão. — O que faz aqui? V-Você sabe o que eu sou?
— Eu desconfiava, mas agora tenho certeza... Eu vim ajudar, seu irmão também já está a caminho. — ela o ajudou a levantar e assim que ficou de pé ele a abraçou e a beijou.
— Você está bem Al? — perguntou após o beijo.
— Não... Por algum motivo eu não consigo me transformar...
— É uma armadilha... Temos que tomar cuidado. Eles espalharam wolfbanes pelo bosque...
— Como me encontrou?
Ela não respondeu e desprendeu algo do tamanho de um botão pequeno do bolso traseiro da calça dele. — Com isto! É um rastreador.
— Desde quando você... — disse encabulado e foi interrompido por uma voz.
— Saia da frente Jennifer... — disse um homem se aproximando com uma espada de prata e observando Robert no chão.
— Não posso fazer isto... — disse ficando na frente de Allec.
— Se afaste dele, ele é perigoso! — afirmou Roger, um amigo de seu pai.
— E nós não somos?
— Se não irá sair... — disse pegando um revolver rindo.
— Ahhhh! — Jennifer gritou de susto e sentiu Allec a agarrar pela cintura e começaram a escalar e saltar rapidamente entre as árvores.
— Ele está disposto a atirar em nós dois! — afirmou Allec enquanto ainda saltava entre os galhos.
Jennifer o abraçou com força, pois tinha medo de altura e fechou os olhos.
— Jenny? Você está bem?
— Só me avise quando chegarmos ao chão! — respondeu com os olhos fechados.
Allec deu um sorriso sutil e após se afastarem daquele caçador, desceram novamente para o chão.
— Quem diria que você teria medo de altura... hehe.
— Não tem graça! — deu um soco de leve em seu ombro e cruzou os braços.
— Desculpe, não pude evitar... — Allec se ajoelhou e ficou de costas para ela e disse. — Suba, assim você ficará mais confortável.
— Tá bem... — disse montando nas costas de Allec e continuou. — Mas vamos pelo chãooooooo... — ela gritou novamente ao ser interrompida pelo salto que ele dera e pulava pelos galhos mais grossos. — Allll!!!!!!!! Assim você irá me matar! — disse grudando no pescoço dele e fechando os olhos. Com tudo escuro, ela apenas escutava o vento uivante e estremecia ao sentir cada contato de Allec com as árvores.
— Não seja tola, eu não teria coragem. — ele subiu no topo de uma árvore centenária, que deu visão para o centro da cidade e disse. — Olha o que você está perdendo aqui em cima.
Com medo, ela abriu apenas um olho e ao se virar em direção a vila perdeu até o fôlego com a vista surpreendente, formada por um vasto branco iluminado por luzes amareladas, como se fossem vagalumes.
— É lindo! — ela afirmou se inclinando, esquecendo completamente que estava nas alturas.
— Hehe... Não tem porque ter medo. — Allec a sentiu parar de tremer e continuou. — Bom precisamos ir...
— Sim... Vamos. — ela o apertou novamente, pois o medo voltara, mas não pela altura e sim pelo que sua família faria se o encontrasse.
Allec começara a saltar novamente e quando foi pisar em um galho, um tiro passou de raspão em sua perna esquerda, com o susto Allec perdera o equilíbrio e caíram de uma altura de uns 15 metros. Na queda, Allec sentiu o coração dos dois acelerar, como se fossem explodir e em uma fração de segundos se virou rapidamente de maneira que ficasse por debaixo de Jennifer e usasse seu corpo para amortecer a queda. Envolveu-a em seus braços e a apertara com força. Jenny gritou e ambos fecharam os olhos. Após o impacto, Allec lentamente recobrava a consciência. Sentira várias pontadas que pareciam rasgar a carne, junto de uma ardência no lado esquerdo de seu tórax. Havia fraturado alguns ossos de sua costela e um refluxo o fez cuspir sangue.
Jennifer ao recuperar-se da queda notou que Allec havia se ferido e logo o chamou.
— Allec? Oh meu Deus, você está ferido!
— Não se preocupe Jenny, eu ficarei bem... — disse gaguejando ao se sentar com a ajuda dela e gemia de dor.
— É o que você pensa! — disse um homem se aproximando acompanhado de mais dois homens.
— Câmbio, qual a localização atual do alvo? — perguntou um homem de outro grupo através do walk talk.
— Eu ouvi um barulho na direção les... — uma caçadora comentava, mas fora interrompida por Acira que chegou de fininho e quebrara o pescoço da jovem.
O homem ao ouvir o estralar do pescoço, se virou rapidamente e se apavorou ao ver o corpo sem vida no chão e apontara a arma para Acira, que erguera as mãos em sinal de rendição.
— Sua desgraçada... — quando foi disparar um lobo o derrubara e começou a engasgar com o próprio sangue ao ter a garganta dilacerada. O lobo uivara triunfante.
Os gritos e uivo há algumas centenas de metros chamaram a atenção de Marcus e todos ali presentes.
— Saía de perto dele filha, eles estão chegando! — disse com uma arma apontada pra Allec.
— Não pai, ele não fez nada! — gritou. — E se não fosse por ele eu já estaria morta.
— Não diga besteiras! Estas criaturas não tem compaixão.
— Mentira! — Allec afirmou com a voz fraca e se esforçando para levantar.
Quando Jennifer foi ajudá-lo seu pai aproveitou a brecha e fez sinal para um dos homens, que atirou com ele na mira, mas Jennifer estava atenta e entrou na frente o abraçando e levando o tiro em um de seus pulmões, caindo em seguida sobre os braços de Allec.
— Nãooo... — o pai dela gritou e foi se aproximando do jovem casal carregando a arma e apontava para a cabeça de Allec, que ficara em choque, mas logo voltou a si.
— Jenny! Jenny! — Allec chamava por ela.
— É sua culpa! — Marcus disse tremendo e chorando preparando para atirar.
Os dois homens que estavam com Marcus foram lançados longe por um lobo negro. Allec fechou fortemente os olhos se preparando para a morte e apenas pôde ouvir em alto e bom som o seu coração batendo. Marcus disparara. Segundos depois abrira os olhos novamente, porque o caçador havia errado devido à perfuração em seu abdômen, causado pelas garras do lobo. John retirara seu braço das entranhas do homem e o jogou no chão já morto.
— John... Acira... Ela está morrendo, não há nada que possamos fazer? — Allec perguntou e fora dominado pelas lágrimas.
Acira se ajoelhou ao lado deles, ainda em sua forma humana e pegou na mão de Allec. — Há um meio... Mas são boatos não cheguei a presenciar se funciona.
— E qual é? Diga-me!
— O sangue de um lycan também tem poderes curativos, mas precisa escolher se quer mesmo continuar, pois ela se transformará em uma de nós, sendo ela uma caçadora...
— A-Al... — Jennifer sussurrara começando a tossir e cuspir sangue. — Obrigada por tudo... Eu te... te a...! — disse entre algumas tosses cada vez mais fracas. Os olhos dela começaram a se distanciar e sua íris foi se expandindo.
— Não, não, não! Jenny fique comigo! Estamos perdendo ela Acira, o que eu faço?
— Abra o local do ferimento e derrame seu sangue sobre ela, rápido!
Allec rasgou o próprio pulso e fez o que Acira ordenou. John observava distante e vigilante.
— Faça com que ela beba um pouco também Al. — disse enquanto segurava a boca dela.
Após beber, Jennifer soltara um suspiro longo e profundo, sendo este o seu último. Sua pele começou a ficar semelhante à neve. Eles a observarão por alguns segundos, mas Allec começou a chamá-la.
— Jenny? Jenny!!! — Allec olhara para Acira e entrou em desespero. — Demora muito para funcionar Acira? — começara a tremer e apertar Jennifer contra seu corpo.
— Eu não sei... Perdoe-me, mas nunca presenciei a transformação de um humano... E... — Acira disse gaguejando e olhara para a lua em seguida. — Não sei se funciona sem a lua cheia...
Allec acompanhou o olhar de Acira. Encostou seus lábios próximos aos ouvidos de Jennifer e começou a implorar.
— Jenny... Volte para mim, por favor... Por favor... Volte... — e mais lágrimas escorreram de seu ser interrompendo sua fala e gritou. — Jenny!
Acira pegara na mão de Jennifer e também fora dominada pelas lágrimas. — Sinto muito Allec... Sinto muito. — ela se levantou esfregando os olhos indo em direção a John que se aproximava e estava anestesiado com toda aquela situação.
John consolava Acira em seus braços e escutou seu irmão cochichar bem baixinho ainda chorando e soluçando.
— Eu mereço estar em seu lugar... Droga...
Algo chamara a atenção de John ao escutar um tilintar ao contato com a neve. Seu irmão não percebera devido aos soluços e John avistou uma bala de prata próxima ao corpo de Jennifer e pensou.
“Ela está... Se curando?” — cutucara Acira e apontou com os olhos na direção do jovem casal. — Olhe Acira...
Acira ao se virar se surpreendeu e começou a chorar mais.
Allec perdido em seus devaneios não notara o que acontecia e sussurrava pra Jennifer.
— Por que Jenny? Por que me deixou?
— Não deixei... — Jennifer respondera sussurrando como se estivesse sonhando. — Eu te amo...
— Jenny!!! — Allec a abraçou com força e beijara sua testa.
— Ela ainda está inconsciente Al... — disse Acira.
Allec lançara um olhar de gratidão para Acira e John.
— Obrigado, muito obrigado! — agradeceu serrando os olhos de alívio, mas não conseguira controlar as lágrimas.
Jennifer despertara em um quarto judiado pelo tempo e que cheirava a mofo. Desorientada, sentiu um calor em sua mão direita. Ao clarear sua visão, notou que era Allec, adormecido e sentado no chão. De repente teve um clarão do momento em que fora baleada e levou sua mão livre ao ferimento. Ela se assustara por não haver nada no local e acabou despertando Allec.
— Jenny! — ele gritou ao vê-la consciente e a abraçou com força. — Me desculpe...
— Mas pelo o quê?
— Por minha culpa você se machucou.
— Não Al... — ela o afastou e o encarava agora. — Não é sua culpa, foi uma escolha minha, eu é que te peço perdão pelo que minha família fez com vocês.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem agora... — ele a beijou.
— O que aconteceu depois que eu apaguei? Eu levei um tiro, não foi? — desviou o olhar confusa.
— Sim... — ele acariciou o local do ferimento. — Foi bem aqui.
Ela levou sua mão ao local também. — Mas como? Não tem nenhuma cicatriz... E há quanto tempo eu apaguei?
— O sangue de um lycan pode ser utilizado como cura... E você ficou inconsciente por dois dias...
— Entendo... E meu pai, o que aconteceu com ele?
— Sinto muito sobre seu pai Jenny, mas ele não sobreviveu...
Jennifer tentou se mostrar forte, mas não conseguira conter as lágrimas. — Faz um tempo que ele estava me afastando, desde que minha mãe morreu...
— Eleonora está morta? — Allec a abraçou e perguntou surpreso.
— Não, Eleonora é minha madrasta, já faz uns quatro anos... Algumas vezes ele chegava em casa alterado por causa da bebida e me batia sem qualquer motivo... Acho que a morte de minha mãe o abalou mais do que ele poderia aguentar e me culpava...
— Sinto muito... Eu irei ti proteger de tudo, eu ti devo a minha vida e...
Ela o interrompeu com um beijo e disse baixinho.
— Obrigada Al, por tudo! Eu te amo!
— Eu também te amo Jenny! — disse e a beijara profundamente.
Alguns minutos depois ela o afastou e pediu.
— Só gostaria de um favor Al...
— Qualquer coisa meu amor...
— Dizer adeus a meu pai...
Allec acenara positivamente e disse.
— Nós o enterramos aqui perto, eu ti levarei lá...
— Obrigada! — ela o abraçou. — Pode me levar agora até onde meu pai está? Por favor...
— Claro, venha comigo... — disse pegando a mão dela e a guiando para o corredor.
Enquanto desciam as escadas perguntou.
— Onde estamos?
— Após as montanhas de Merrowmash, em uma cabana abandonada.
— Hum...
Os dois percorreram o restante do caminho em silêncio e após avistarem um monte de pedras, Allec apontou. — É ali.
Ela o soltou e correu até o local indicado. Ajoelhou-se e juntou as mãos, ficando de olhos fechados. Allec achou melhor não se aproximar e ficou a observando distante.
John e Acira se aproximaram de Allec em silêncio.
— Nós teremos que partir Allec. — John falou baixinho. — Mais deles virão, não estaremos mais seguros aqui.
— E pra onde iremos?
— Não sei ainda...
— Ela está bem? — Acira perguntou olhando para Jennifer.
— Sim, ela é forte... — Allec comentou. — Vocês acham que devemos contar a ela sobre a transformação?
— Não, ainda não é a hora... — John respondeu.
— Ela virá conosco? — perguntou Acira.
— Ela precisa de mim... E eu preciso dela... Irei questioná-la sobre, mas se ela desejar ficar, eu também ficarei...
— Aceitarei sua decisão irmão... Afinal você não é mais um filhote...
— Obrigado John...
Os três permaneceram em silêncio até que Jennifer se aproximasse deles.
— Está tudo bem Jenny? — perguntou Allec.
— Sim... Obrigada. — disse enxugando algumas lágrimas.
Allec pegou nas mãos dela e perguntou um pouco afastado de John e Acira que apenas observavam o casal.
— Jenny, nós teremos que partir desta cidade e gostaria de saber se você quer vir conosco?
— Bom, eu não tenho mais nada me prendendo aqui... E não sei se ficaria bem longe de você...
— Mas e sua madrasta? — Allec perguntou.
— Nós duas não nos damos bem, desde que meu pai a conhecera nós só brigávamos, nossa “vida normal” era apenas fachada Al, até peço perdão por ter mentido... Não tenho motivos pra viver ao lado daquela bruxa agora que meu pai se foi...
— Fico feliz que venha conosco. — comentou John interrompendo os dois. — Você faz este cabeça de bagre feliz.
— Obrigada, só preciso pegar alguns pertences antes de ir...
— Sem problemas querida. — respondeu Acira. — Vamos então, em busca de um lugar seguro para nosso filhote! — disse encarando John sorrindo e começaram a caminhar.
— Filhote? — perguntou Allec surpreso.
— Sim Al, Acira está esperando um filhote meu...
Allec tentou dizer algo, mas foi como se sua voz não saísse e acabou escorregando na neve enquanto gesticulava com as mãos.
— Opa, calma aí garotão! — afirmou Jennifer dando a mão para ajudá-lo a levantar, mas ele a puxou e também a fez cair na neve. — AL!
— Hehe... É uma notícia bombástica... — olhou para o irmão e cunhada. — Parabéns aos dois!
— Obrigado irmão... Bom, precisamos ir. — John disse e a envolveu em seus braços.
— Sim. — respondeu Acira.
— E vocês dois aí também! Vamos antes que congelem! — John afirmou de costas para o jovem casal.
Jennifer e Allec se entreolharam. Jenny roubara um beijo de Allec e se levantou rapidamente correndo em direção a John e Acira.
— Hey, esperem por mim! — gritou Allec.
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