Eugene saiu do beco próximo a sua casa com o envelope incomodando seu quadril. Teria menos problemas se pudesse se teleportar direto para seu quarto, mas Laz e Godric disseram que era melhor se ele fosse para um outro lugar, já que seus pais estavam mais seguros não sabendo sobre Terra Pax.
Eugene não era do tipo de pessoa que gostava de mentir ou de esconder coisas de seus pais. Ele preferiria não fazê-lo, era uma preocupação a menos e ele não se sentia um lixo todas as vezes que os via.
Arrumou seu uniforme, seguindo seu antigo caminho para casa. Aquelas ruas nunca pareceram tão solitárias ou perigosas. Odiava admitir para si mesmo, mas ele sentia falta de Dallon. Mesmo sabendo que ele só havia se tornado seu amigo para protegê-lo enquanto crescia, ele não conseguia separar muito bem o Dallon que conhecia, que era seu amigo, do Dallon de agora, a Ponte dos Ghouls, o cara que só estava cumprindo ordens.
― Eugene! ― Ele ouviu uma voz familiar atrás de si.
― Pai? ― O garoto se virou, surpreso. ― Que estranho ver você tão cedo. Saiu mais cedo do trabalho hoje?
― Ah, sim. Queria passar mais um tempo com você e a sua mãe. Você pode me dar uma ajudinha aqui?
Eugene assentiu, pegando as sacolas que seu pai carregava. ― O que é isso?
― Algumas coisas que sua mãe me pediu mais cedo. Parece que ela vai fazer biscoitos. ― Ele sorriu. ― Eu não sei se você percebeu, mas ela tem estado num ótimo humor nesses últimos dias. Ao contrário de uma certa pessoa. ― Eugene sentiu uma cotovelada em seu braço. ― O que aconteceu? Por que você não veio com o Dallon hoje?
― Uh… Bem, ele não foi na escola hoje. Nem respondeu minhas mensagens. Nem meus telefonemas. ― Ele disse, suspirando.
― Estranho. Eu vi a mãe dele hoje no mercado.
Eugene arregalou os olhos, virando-se para seu pai. ― É sério? Ela disse alguma coisa para você? ― Ele poderia parecer um pouco desesperado, mas hey, achava que eles tinham voltado para a Colômbia!
― Ela só me disse que eles estavam estressados com a mudança. Você sabia disso? Me pareceu um tanto de repente, essa mudança deles.
― Eu… tinha uma ideia sobre a mudança, sim, mas… nada demais.
― Eu achei isso meio estranho. ― Ele disse, um tanto pensativo. ― Ah, falando nisso, você tem algum compromisso esse fim de semana? Rosa nos chamou para a festa de aniversário da Lilah.
― Lilah?
― É, a Delilah, irmãzinha do Dallon, não se lembra?
― Ah! ― Eugene exclamou, um pouco alto demais.. ― Desculpe, eu só fiquei assustado por ter esquecido. Eu me lembro dela, sim. E eu não tenho nenhum compromisso esse fim de semana além de um jogo de basquete no sábado, então eu não sei se….
― Você tem um jogo esse sábado? Que bom, Rosa me perguntou quando era o começo dos intercolegiais, ela queria te assistir. ― Seu pai sorriu, pegando as chaves do bolso.
Eugene comprimiu os lábios, sem acreditar na cova que havia cavado para si mesmo. Não podia ter ficado com o bico calado, não é mesmo? Que ótimo, já não sabia como conseguiria mentir para seus pais, agora teria que mentir para Rosa, também? E além disso, teria que se encontrar com Dallon no domingo, na festa da irmã caçula dele, mostrando que hey, eu sei que você não voltou para a Colômbia, seu bastardo.
Ele ouviu o grito de surpresa do pai antes de ver o que tinha acontecido, o que puxou a alavanca de magia do seu cérebro instintivamente. Conseguiu, felizmente, bloquear o fluxo antes que ele explodisse alguma coisa. Olhando para a porta, viu dois braços pálidos em volta do pescoço de seu pai, os cabelos loiros de sua mãe dando uma certa alegria à camisa branca sem graça de seu pai.
Eugene sentiu um sorriso se formar em seu rosto. ― Você quase me matou de susto, Natalie. ― Seu pai disse, levando a mão ao seu peito, como se estivesse tendo um ataque cardíaco. ― Eu estou velho demais para isso.
Natalie simplesmente riu, empurrando-o para dentro de casa enquanto se aproximava de seu filho. Ela abriu os braços com um enorme sorriso no rosto, e Eugene não desperdiçou tempo algum; pulou direto nos braços dela, apertando-a.
― Meu bebê, que saudade. ― Ela disse. ― Como foi o seu dia?
― Foi bom, mãe. E o seu? ― Ele perguntou, soltando-a finalmente.
― Ótimo. Vamos entrar, está frio aqui fora.
Sua mãe havia pedido seu pai para comprar todas aquelas coisas porque ela queria fazer uma torta dinamarquesa, a preferida de Eugene. Quem precisa de jantar se você tem uma dessas em casa?
Os três estavam sentados à mesa, seu pai falava sobre o que acontecera mais cedo, como Rosa os chamara para o aniversário de Lilah, sobre o início do campeonato de Eugene, a mudança dos Souto e coisas assim. Eugene, enquanto isso, preenchia o vazio de sua alma com torta.
― Que maravilha! ― Natalie exclamou. ― Já faz um tempo que eu não vejo Rosa e Delilah! Vai ser um bom fim de semana em família, não é mesmo, Eugene?
Ele simplesmente assentiu, já que sua boca estava cheia demais para que fosse fisicamente possível dizer qualquer coisa de maneira compreensiva. Sua mãe estava tão feliz, e isso o deixava um pouco culpado por estar mentalmente dividido entre estrangular Dallon por ter mentido para ele ou deitar em posição fetal em seu quarto escuro e chorar porque hey, a amizade deles realmente não significava nada, não é?
― Você vai acabar se sufocando com torta um dia, Eugene. ― Ele ouviu seu pai murmurando.
Ele engoliu o resto de torta e deu um sorriso para seu pai, mostrando que ele não dava a mínima porque aquela era sua torta preferida e o gosto dela era ainda melhor quando ela era comida aos montes.
― Mãe, eu te venero. ― Ele se virou para Natalie, dando uma pequena reverência para ela. ― Essa torta é mágica, como você faz isso?
Ela simplesmente riu, dando de ombros. ― Eu faço com amor, deve ser isso.
Eugene fez uma nota mental naquele momento: perguntar para Laz se existe algum tipo de magia que faz a comida ter um gosto melhor. Hey, deve existir, não? Quem sabe todo o potencial mágico de sua mãe foi para essa área?
Com esse pensamento, ele aproveitou aquele momento em família, tentando ao máximo jogar suas preocupações para longe. A carta poderia esperar. Os desejos de seu tio falecido poderiam esperar. Naquele momento, ele só queria um pouco de paz com aqueles que ainda estavam vivos, ao seu lado.
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