Anfíbia ainda não entende muitas coisas sobre o nosso mundo. Mas nós precisamos entender, porque é URGENTE.
Os recentes acontecimentos e manifestações que ocorreram aqui no Brasil, bem como nos EUA, pelo fim do genocídio contra a população negra (violência estruturante dos sistemas opressores nas Américas), se desenrolam nas redes sociais de forma a escancarar como a fuga branca é um fenômeno que corrobora com o pacto de silêncio que cria o solo para a violência racista.
Em questão de dias, um debate embasado, com uma pauta bastante nítida e radical contra o assassinato em massa de pessoas negras - organizado através da polícia, da milícia e de uma narrativa supremacista no poder - se transformou numa pauta, eu diria, pseudo-antifascista. Há uma grande parcela de pessoas que se dizem antifascistas agora, com uma onda de filtros nas redes sociais, mas seguem sendo misóginos, seguem estigmatizando a resistência como vandalismo (o que mostra uma contradição imensa), e seguem sendo racistas, especialmente ao usar a pauta antifascista de uma forma superficial justo neste momento, em que o nosso foco deveria ser no FIM, de fato, dessa estrutura violenta de hierarquia racial.
É aí que grita a branquitude. "Como assim não sou eu o protagonista?". Mais uma vez o branco quer falar sobre o SEU sofrimento, sobre uma opressão que NÓS, brancos, sofremos. Neste caso, o fascismo (que é bem mais recente que o racismo, e só é possível graças a ele, por sinal). Essas questões são pontuadas brilhantemente pela @obirinodara do @naomecolonize (confere lá no instagram!), Mestre em Políticas Sociais, num IGTV em que ela abordou "O Antifascismo Racista no Brasil". (continua nos comentários)
Portanto, assim como quando acontecem discussões sobre racismo em grupos de pessoas negras e brancas, há uma tendência muito grande de pessoas brancas mudarem o foco do debate para coisas incrivelmente distantes da pauta sobre racismo, quando o assunto em foco deveria ser a luta antirracista e, com isso, rever a nossa branquitude e entender que fomos construídas e privilegiadas por uma cultura supremacista e profundamente violenta, tendo assim responsabilidade de nos posicionar contra o colonialismo e o genocídio.
Não é uma simples falta de foco aleatória. Esse desvio de pauta serve a um privilégio, a uma imposição social, uma construção opressora e transgeracional. Esse privilégio se manifesta a cada vez que pessoas brancas nos vemos como pessoas, como a regra, enquanto vemos pessoas negras como um outro.
Essa é a regra da outrificação, assim como acontece com o sexismo, que coloca a mulher no lugar de outra na humanidade. Esse privilégio é o que leva pessoas brancas a transformarem a pauta de uma luta tão séria em algo sobre si e, até mesmo, em piada. Porque a internet não tem limites, não é mesmo?
Ao sequestrar a pauta de resistência contra a violência racista para falar apenas do que lhe interessa e do que lhe fere, você torna difusa a pauta antirracista, como se ela fosse um aspecto em um painel de coisas quando ela é, na verdade, estruturante, central exatamente do fascismo que você posta contra, neste momento. Então, que tal começar pelo começo: pela raiz? Porque nós só estamos sob um governo tão fascista, violento e necrofílico porque o racismo ainda existe aqui, entre nós. E o racismo, o colonialismo, estão destruindo literal e sistematicamente as vidas de pessoas negras, de pessoas indígenas, e também com boa parte da vida no planeta Terra.
Não é um filtro de "gostosas antifascistas" que vai mudar isso.
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