Eu sempre tive problemas para dormir.
Não problemas em geral, na verdade eu durmo pedra (sou inclusive sonâmbula, mas isso fica para outra história). O problema mesmo é quando no dia seguinte eu tenho um evento importante.
Alguns anos atrás, eu praticava natação em uma academia. (logicamente a academia não fica no Fim do Mundo, afinal, aqui só temos mercearias e igrejas).
A turma da natação costumava participar dos denominados “Festivais”: nós nadávamos em frente aos pais e treinadores, para que ganhássemos medalhas e “subíssemos de nível”. Não era uma competição, então eu ficava tranquila. Em um daqueles dias comuns e monótonos, o treinador me disse que nós iríamos em uma cidade próxima realizar um Festival com vários outros alunos, de diversas escolas.
Meus pais disseram o mesmo, me tranquilizando pois era apenas um “Festival”. Eu concordei e segui com a rotina normal. Me lembro de ficar um pouco nervosa, então deitei-me no sofá e assisti no celular do meu pai Madeleine (sim, o desenho infantil que eu amo até hoje).
Por coincidência do destino, o episódio que eu assisti era normal, com uma dinâmica educativa como os outros. Mas ele se tornou especial para mim pois Madeleine iria a um evento importante, e estava nervosa. Eu reconheci a situação, e tentei me acalmar assim como a personagem fazia.
Dramática? Sim, eu não posso negar. Mas como a criança esquisita que eu era, eu não podia deixar uma ideia inspiradora passar batida.
Assim a noite procedeu: dormi tranquila, e ao amanhecer me preparei para o grande dia.
Enquanto preparava a bolsa, minha mãe se aproximou e, olhando nos meus olhos, me explicou que eu estaria indo a uma competição.
Confusa, eu expliquei a ela que o treinador me dissera que era apenas um Festival. Ela concordou e se retirou.
Após uma hora de viagem, chegamos ao Clube. Era um recinto enorme, com lanchonetes, restaurantes e bares em torno de uma enorme piscina. Havia uma enorme quantidade de pessoas: treinadores, alunos de clubes, escolas e famílias.
Nos direcionamos a uma sala espaçosa, cheia de cadeiras para que os alunos aguardassem a vez. Enquanto me preparava psicologicamente, nosso treinador explicava como seria o processo. Ouviríamos dois apitos, nos prepararíamos para saltar na água e então daríamos duas voltas na piscina.
Me preparei para o salto depois de revisar a explicação diversas vezes, e então eu e as outras duas garotas que estavam comigo mergulhamos na água gelada, com uma textura engraçada (eu diria que a “textura engraçada” seria o suor dos outros atletas).
Você deve imaginar o nervosismo pelo qual eu passava, e se sim, você está certo. Eu sentia a água vibrando com meu coração. Mas custou algumas braçadas e já havia me acalmado.
Conforme me movimentava, ouvia os diálogos ao redor, o grito de guerra de alunos de uma escola (eu nem cheguei a achar estranho), os flashes das câmeras e algumas crianças gritando.
Me concentrei para realizar uma ótima apresentação, e, uma eternidade depois, saí da piscina.
Tomei um suco de caixinha e observei os outros participantes, quando me entregaram duas medalhas de bronze.
Uma das medalhas era de participação, já a outra eu não fazia ideia do que significava.
Tendo em vista a situação, você deve imaginar a confusão que foi quando eu subi em um pódio com mais duas garotas.
Eu ignorei a situação e me retirei do Clube, para ir ao shopping comer McDonald’s com a turma.
Foi um dia feliz, até eu retomar a situação alguns meses atrás. Conversei com minha mãe sobre a falta que eu sinto dos antigos colegas, sobre a ida ao McDonald’s e sobre ganhar as duas medalhas.
Eu fiquei pasma, como você pode perceber, quando eu descobri (da forma mais estúpida) que eu saí em terceiro lugar em uma competição… que eu nem imaginava que era uma competição.

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