Apesar do calor, lá estava eu caminhando vagarosamente em direção à academia (provavelmente cantando, bem baixinho, Bella Ciao).
Minha cidade, que apelidei carinhosamente de “Fim do Mundo”, é pequena e monótona. Tão pequena que basta alguns minutos de caminhada e você já cruzou toda a vizinhança. Tão pequena que não há semáforos e as ruas compõem apenas um bairro- o Bairro Centro.
Eu costumava percorrer o mesmo caminho: uma rua vazia, com um campo, uma igreja e um conjunto de casas e algumas crianças brincando na esquina.
Passando em frente às casinhas, ouvi o barulho de um cachorro latindo. “Nada demais”, você imagina. E foi isso que eu pensei, afinal, em uma cidade típica brasileira o que não falta são “vira-latas caramelo” na rua.
O barulho parou depois de alguns segundos, e continuei o trajeto vagarosamente. Após alguns passos meus, outro barulho apurou meus ouvidos: um pequeno gatinho miando.
“Curioso”, eu pensei. Ao redor das casas haviam apenas gramados, e, ao meu ouvir, os sons vinham de uma delas em comum.
Eu parei a caminhada, apurando mais os ouvidos. Da residência, emitiu-se o barulho de uma galinha ciscando e cacarejando.
Intrigada, eu imaginava o que animais tão controversos faziam todos juntos, em um mesmo local.
Sem pensar duas vezes, olhei para os dois lados da rua (para checar se alguém me observava) e me aproximei.
Um grande portão de ferro dividia a garagem e a calçada, e possuía grades finas que permitiam que eu observasse o interior.
Era uma garagem escura, com uma pequena passagem para um quintal cheio de terra e pequenas plantas. À esquerda da passagem, havia uma porta para adentrar a casa.
Passei os olhos por todo o local: sacos de lixos pretos cheios de tranqueira estavam espalhados pelos cantos do recinto e acima de um sofá (nem me pergunte de quê servia um sofá em uma garagem). Alguns brinquedos (como uma motoca infantil) davam um ar sombrio ao ambiente escuro e silencioso.
Aproximei mais o rosto das grades, e, com a curiosidade atiçada, abaixei a cabeça para aumentar o campo de visão. E foi então que eu vi o causador dos sons, que tanto me incomodou, mas me rendeu uma bela história.
Eu ri e observei o motivo de tamanha (e um tanto patética) aventura: era uma tartaruga.
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