Caso esteja implícito, essas histórias são justamente estúpidas. E há alguma coisa mais estúpida que medos?
No meu caso de estupidez, eu tenho medos incrivelmente específicos. Não os tipos de medo poéticos (medo da morte; medo de perder a família; medo da ignorância etc.), mas medos tolos como o medo de ser observado por patos (patético, não?).
Nesses casos que terminam com “fobia”, a tolice é deixada de lado por ser uma condição psicológica, mas não deixa de ser engraçado. Um exemplo é a hipopotomonstrosesquipedaliofobia, o medo (observe a ironia) de palavras grandes. É tão estúpido e controverso que eu fiz questão de decorar o nome para contar a outras pessoas (quão entediante eu consigo ser?).
Eu não tenho medo de aranhas, escuro, cobras nem animais em geral. Não acredito em demônios nem em espíritos.
Na verdade eu costumo andar no mato, comer coisas que caem no chão, treinar tiro ao alvo com facas… Quando menor, eu adotei meu próprio besouro de estimação (mas após cinco minutos ele desapareceu em meio aos lençóis da minha cama). Eu tinha o hábito de arrancar as asas de borboletas e amassar minhocas com o alicate (terrível, eu sei).
E então, caro leitor, eu digo que como ser humano (até onde eu sei) eu possuo meu próprio temor estúpido. Nesse caso, esse temor são lagartos.
Sim, lagartos.
As criaturas abomináveis que hora estão paradas, hora se movimentam rápidas como um raio para então retornar ao calor do sol.
Hoje em dia eu me sinto mais confortável perto deles, mas há um tempo, se eu sequer pensasse em chegar perto de um, mal podia respirar.
Eu não tenho uma explicação certa para tanto incômodo. Provavelmente esse pavor é explicado na viagem que fiz quando tinha seis anos:
Meus pais e eu fomos a Salvador, ficar em um hotel por uma semana. Eu diria que foi a semana mais aterrorizante da minha vida.
No primeiro dia, caminhamos pelo ambiente para se familiarizar. Não era um ambiente arborizado: haviam apenas espaços com grama aos lados do caminho de pedras.
E então, enquanto percorria o trajeto, observava alegremente a natureza local. Um espaço gramado me chamou a atenção, e como uma criança “normal” de seis anos fitei o gramado até satisfazer minhas necessidades intelectuais.
No meio dessa análise, a enorme cabeça oval e abominável dessa criatura repugnante se ergueu em meio ao mato. O susto foi tamanho que o resto do meu trajeto foi no colo do meu pai.
Na verdade, o susto foi tamanho que por metade da semana eu apenas me movia no colo de qualquer pessoa que me salvasse daquele show de horrores. Me recusava a pôr os pés no mesmo chão onde habitavam os pequenos dragões sem asas e que não cospem fogo.
Você deve estar pensando: “Estúpido”.
Sim, é disso que se trata.
Nem me pergunte por que, até hoje, eu hesito em viver em qualquer ambiente onde há lagartos, mas eu posso viver tranquilamente ao lado de uma lagartixa.
Eu não diria que é uma fobia, mas apenas mais uma de minhas características estranhas sobre as quais escrevo histórias (estúpidas).
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