Era muito bom ter um quarto e banheiro só para si, nas outras entrevistas que foi, era sempre pouca privacidade para o que podia pagar. Assim que estrou no banheiro, se lembrou que não tinha sabão ou qualquer outra coisa para se lavar, mas quando viu que tinha tudo ali, suspirou aliviado e ousou usar um pouco. Seu banho foi rápido e revigorante, o fez se sentir mais feliz e calmo.
Ao sair do banheiro, pode ver que as luzes na cozinha e sala estavam acesas, teve que passar por lá para chegar à lavanderia, onde colocaria sua roupa no cesto.
— Bom dia. — escuta Kana e quase enfarta. — Te assustei? Desculpa.
— Bom dia, Kana... —a olha e sorri, ainda sentindo o coração batendo rápido. —Eu vou colocar isso no cesto.
—Certo. —ela leva a caneca mais uma vez aos lábios. — Escuta, você tem poucas roupas, pretende comprar mais?
—Sim, pretendo sim. —responde da lavandeira. — Eu só preciso guardar um dinheiro pra isso.
—Entendi. Do que você trabalha? —ela o encara assim que ele aprece no seu raio de visão, o deixando nervoso.
—Dou aulas de desenho em uma instituição para crianças órfãs... Clichê?—suspira ao terminar a frase. — Assim como todos lá meu salário vem de doações e coisas assim.
—E seus pais te expulsaram, que revoltante. —respira fundo, passando geleia em sua torrada. —Eu quero te propor algo.
—Propor? —Mika a olha com curiosidade, já prevendo que ela iria colocar suas garras para fora e agir como os outro que proporão alugar para ele, mas com certas condições. — O que?
— Vou te ajudar com suas roupas. Você tem poucas, e vai ser ruim você lavando sempre que precisar usar. —Ela morde a torrada. — Toda segunda e sexta-feira um amigo vem cuidar de algumas coisas aqui em casa, como roupa suja e limpeza geral.
O garoto fica a olhando, completamente confuso, não entendia o motivo dela estar sendo tão boa e gentil. Ele muitas vezes conheceu pessoas boas, mas elas sempre queriam algo em troca... Kana não parecia ser uma pessoa má, Mika não sentia isso, mas ele já se enganou tantas vezes.
—Me ajudar? Eu não vou te pagar tão cedo. —olhou para o chão, nervoso. —Não quero te sugar de mais sabe? Pra mim, já é uma caridade o aluguel ser barato com tudo que está me proporcionando e-
—Sente-se por favor, está me dando agonia te ver em pé. —ela termina sua torrada e bebe mais do que tinha em sua caneca. —E coma também.
—Não costumo comer de manhã... —se senta perto dela, a olhando enquanto esperava uma resposta.
—Certo. Como eu explico isso tudo sem parecer estranho? —disse pensativa, fazendo Mika já pensar que ela iria dizer que queria o comer vivo. Era agora, esse era o momento, ela o prenderia. Ela deve ter algemas... sim! Ela é policial afinal. —Eu estava pra casar, vivendo anos com uma pessoa e no fim teve um fim. Eu sou nova nisso de morar sozinha, meus poucos amigos são casados tem filhos outros já namoram... Não podia simplesmente pedir que algum deles viessem morar comigo, por isso decidi alugar esse quarto. Não é uma questão de dinheiro, é mais para eu ter companhia, entende?
—É... é b-bem estranho mesmo. Você... poderia ter adotado algum animal... ou, não sei. —para de olhar para ela e olha para as próprias mãos sobre a mesa. — Você... não quer ter relações comigo... quer? Eu não sei se eu-
—O que? Não! —acabou se engasgando com sua torrada, tossindo algumas vezes. — Eu não quero me relacionar com ninguém... Mas foi isso que entendeu de tudo que eu disse?
—Não, me desculpa... eu só estou traumatizado. —se justifica, ficando com um semblante triste. — Eu só não quero que fique com dó de mim, me ajudando assim... As poucas ajudas que recebi eram em troca de algo, ou sempre acabavam jogando as coisas na minha cara depois.
—Não sou assim, fique tranquilo. Eu só preciso de companhia, uma amizade. —ela se inclina e olha o relógio na parede. — Você aceita minha ajuda?
—E-eu posso responder depois?... —ele sorri fraco e logo a vê se levantar. — Preciso lutar contra alguns pensamentos.
— Sem problemas, mas entenda que eu estou basicamente te pedindo para aceitar que eu seja sua fada madrinha. —sorrindo, ela segue ao corredor e então Mika escuta a porta do quarto fechando.
O garoto estava abismado, será que isso era um presente divido após tudo que ele passou? Depois de ser maltratado pelos pais, expulso, enganado por aquele que amava, humilhado e despejado mais uma vez... Não sabia o que pensava, mas estava feliz. Feliz e assustado.
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