Já me disseram para viver como se ninguém estivesse vendo, e esse é um dos melhores conselhos que eu já recebi.
Eu atualmente estou no último ano de Crisma na minha cidade, afinal, em um lugarzinho onde o que não faltam são igrejas, Catequese é indispensável.
Eu adoro minha turma de Crisma: uma sala com mais de cinco garotas (sem contar a professora) e apenas um menino. Um ambiente mortal, eu diria.
Nos reunimos todo sábado de manhã, lemos a Bíblia e conversamos sobre assuntos relacionados à religião, logicamente.
Após uma hora, eu e Kaylane (uma de minhas imprescindíveis companheiras de aventura) temos o costume de sentar em um banco da praça e conversar por mais um tempo, para então voltarmos para casa e nos separarmos na esquina do quarteirão.
Acontece que em um desses sábados rotineiros, assim que o curso se encerrou, começou a chover. Como eu estava de bicicleta, e Kaylane a pé, não tivemos escolha senão correr para não molhar as roupas.
A princípio, apenas garoava. Eu caminhava empurrando a bicicleta, pois quando o clima está úmido o freio reproduz um barulho agudo e insuportável.
Demos a volta pela praça, até que a chuva começou a engrossar, obrigando as pessoas a se esconderem embaixo dos toldos das lojas, observando as duas criaturas de sanidade questionável se molhando e rindo no maior estardalhaço.
Meus óculos estavam completamente embaçados, e meu cabelo pingava como se tivesse tomado banho. Eu sempre me incomodei em molhar minha blusa (principalmente quando se é a única pessoa que lava a louça em casa), mas ver o jeito que as pessoas nos encaravam era cômico.
Descemos a rua, parando na esquina do quarteirão de minha casa.
"Sabe aquele filme de um homem que canta chuva?"- eu perguntei, observando a placa de Pare.
"Sei"- Kaylane respondeu.
Apoiei a bicicleta na parede da primeira casa do quarteirão e segurei no poste, rodando ao seu redor e cantando "Singing in the Rain", quando policiais fazendo uma ronda pela cidade passaram pela rua em uma viatura. Eu pude ver no olhar deles: "Que garotas estúpidas".
Não me julgue. Se você também é o tipo de pessoa que adora clássicos faria o mesmo nessa situação.
Nós continuamos nossa jornada, passando pelo pátio inundado da delegacia e chutando água por todos os lados. Àquela altura, eu já estava completamente ensopada, incluindo minha mochila com os materiais.
Após mais alguns metros, chegamos à minha casa. Me despedi e entrei.
Esperei no lado de fora de casa, como um cachorro sujo de lama, por uma toalha e por uma bronca.
Recebi as duas, inclusive uma ameaça, mas aquele dia lavou completamente minha alma (quase que literalmente).
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