Quando eu era pequena nunca me ensinaram a andar de bicicleta, e, sinceramente, eu nunca me importara, até o fatídico dia em que minha antiga professora perguntou à sala quem não sabia usar o veículo. Eu fui a única pessoa que levantou o braço, e como a boa Maria vai com as Outras que eu sou pedi a meu pai que me ensinasse.
Foi uma aventura: achamos partes velhas de antigas bicicletas e montamos, originando uma verde-claro com adesivos rasgados, um banco furado, um freio quebrado e pé de apoio torto. Eu amei.
Primeiramente, fomos à casa de minha avó da Família Coelho, mas o espaço cimentado era muito pequeno. Então nos dirigimos até uma velha pista de caminhada/estrada para conduzir bois.
Meu pai segurava o banco enquanto tentava me equilibrar, mas eu continuava pendendo para os lados. Para completar a estupidez, uma garota que aparentava ter sete anos passou ao meu lado... De bicicleta. E ainda acenou para mim.
A diferença de quatro anos fomentou meu espírito competitivo, gerando uma competição acirrada entre a garotinha e eu.
Cerca de uma hora depois, eu já conseguia pedalar rapidamente. Meu pai corria ao meu lado, pelos quinhentos metros de estrada de terra, até que me desequilibrei e caí em cima dele, enquanto a bicicleta continuava seu caminho sem mim.
Por mais que tivesse visto minha vida passar pelos meus olhos, insisti em percorrer toda a estrada, até que me dei o luxo de tentar dar a volta em uma velha carreta de caminhão largada no terreno.
Eu nem preciso dizer que bati o joelho no ferro, né?
Depois dessas longas façanhas, comecei a ir a todos os lugares possíveis de bicicleta (aliás, aqui no Fim do Mundo você pode ir a qualquer lugar de bicicleta). Eu a chamei de Lessie, sem nenhum motivo específico.
Já me acostumei a consertar a corrente a cada cinco minutos e a frear com os pés para não reproduzir o som agudo e incômodo dos freios.
Mesmo que parecesse que Lessie veio direto do lixão, ela se tornou parte de minha personalidade, ainda que eu reclame muito sobre os ruídos.
No natal passado, meu pai me levou a uma oficina para comprar uma bela bicicleta vermelha, com tudo funcionando perfeitamente, pneus resistentes e nenhum arranhão. Reservamos o veículo para que fosse comprado mais tarde, e retornamos à casa de minha tia.
Chegando lá, meu pai me dizia como a bicicleta era bonita e útil, mas eu me sentia triste por "abandonar" Lessie. Percebendo meu desânimo, me perguntou se eu sentiria falta da antiga bicicleta, e eu afirmei, fazendo com que meu pai retornasse à oficina para cancelar a compra.
Digamos que eu elevei meu nível de materialismo, mas Lessie continua fazendo eu me sentir uma cavaleira em seu cavalo.
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