Hoje é mais uma típica noite em que o sono tarda, segundos passam, os minutos passam e as horas passam.
Olho para a janela e vejo a lua cheia, hoje brilha mais do que o usual? Ou as minhas insónias estão a interferir na minha visão. É mais uma noite perdida como sempre.
Foi então que o ouvi. Começou com um pensamento e depois um sentimento.
Quando dei por mim, já tinha entrado naquelas águas rasas invisíveis na minha mente.
Uma forte e terrível tempestade começou.
….
….
….
Cheguei ao meu limite das minhas forças mentais.
O Rio já me infetou com o seu veneno maligno.
Eu resisto.
…
…
E começa o que mais temia, perder as minhas forças para a negatividade.
Não…. já estou cansada de ser o “anjo”, ser a sombra de todos os amigos, de torcer por todos e não ter ninguém torcer por mim, a não ser eu.
Basta!
….
….
….
Então fiquei consciente por uns meros minutos. Como se tivesse debaixo de água e tivesse emergido para superfície. Senti aquele sufoco agonizante, resultado daqueles pensamentos.
A segunda vaga veio, com ela, a voz dizia que tinha a minha confiança toda destruída e a culpada era eu.
Resisto mais uma vez, mas a minha mente analítica argumenta.
Como pode ser eu?! Tenho que confiar nas pessoas, ninguém tem na testa a dizer “Não sou de confiança”.
E a voz respondia que era uma inútil, uma inútil em confiar nas pessoas erradas
Uma inútil por não saber viver nesse mundo.
O meu peito apertou-se, eu estava a transpirar.
Olho para o relógio: quatro da manhã.
Era noite e Inverno, mas é como eu estivesse num inferno. Sai e fui dar uma volta, era maneira mais fácil de travar mais um ataque de ansiedade. Sou mais forte do que ela, mas não tão forte para resistir a voz do Rio. Mas ele não ficou por aqui, insistiu em perseguir-me pelas ruas vazias e escuras.
Mais uma vez a voz falou que era uma inútil, estava a transformar no meu próprio anjo das trevas.
Hahaha como se eu quisesse saber, porque eu hei-de preocupar se vou ser um anjo das trevas ou não, se ninguém preocupa comigo? Sou livre, ando nesta caminhada sozinha.
Mas…. Mas…..
Talvez essa voz tenha razão.
No fundo fui estúpida ao perder o meu tempo a ver os outros a serem felizes e a torcer por eles.
Por outro lado, a minha própria vida estava a deteriorar-se aos poucos.
Por não saber como ajudar-me, ignorei me e confiei no tempo, talvez o tempo desse soluções.
Hahaha… mais uma vez confiei em algo errado, no tempo, logo no tempo….
Típico meu.
Pensei que ignorando a minha própria voz e dando atenção aos outros seria uma maneira mais fácil de diminuir as minhas próprias dores.
Ajudando-os e vendo-os sorrir no fim, era um bálsamo para minha alma.
Mas estava a fazer tudo errado, vendo bem, tudo foi um erro, devia ser egoísta.
Devíamos de nascer com manual de instruções nesse mundo.
Dei por mim já estava na ponte que dividia esta grande cidade de almas perdidas e adormecidas, uma bela descrição para descrever o limiar da sanidade e da loucura.
A ponte está vazia, só a presença das iluminações, eu e a Lua.
A lua parece que está mais brilhante do que usual e as estrelas….
Quero lá saber da lua e das estrelas neste momento…. bem podia cair tudo.
Quero lá saber.
Hahaha…. Afinal o Rio fala, eu ri-me de nervos, sabia que estava perante uma voz poderosa, pergunto como consegui tirar os outros dessa voz? Como?
Eles tinham razão… e eu pensava que era ilusão.
Era tudo verdade.
Aquele rio falava de promessas de sossego, paz e recomeço.
Olho para a lua e suplico para que a voz do Rio calasse.
Mas não…. continuava a ouvir.
O que podia a lua fazer? Nada.
Como eu desejava ter um clone meu para tirar desse tormento.
Era eu que tirava os outros disso.
Agora que chegou a minha vez… estou sozinha.
Completamente sozinha.
A voz dizia que não, se desse ouvidos ao Rio.
As lágrimas já começaram a cair, olhava aquele rio meio hipnotizada meio sóbria.
Não queria entrar ali, só queria encontrar paz.
O maldito rio oferecia paz.
Queria só acordar desse sonho. Mas não era um sonho, era a realidade, por mais abrisse as pálpebras e fechasse, nada mudava.
Mas acordei. Algo tocou me nas minhas costas, mal sabia que iria conhecer a criatura mais estranha desse planeta.
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