Atrás de mim, estava uma mulher meio ridícula.
De onde esta veio?!
Eu estava sozinha e nem passou dois minutos que cheguei aqui!
- Olá, dizem que o rio fala, gostava de saber aonde está o ladrão que me assaltou e levou minha carteira.
É o que faz meter a carteira nos bolsos dá nisso!!
Hmm, pareço que vou dormir hoje debaixo dessa ponte. Inacreditável… E amanha tenho que apresentar no meu novo trabalho. – Dissera ela.
Ela falava sem parar, pergunto como é que não a vi por aqui.
- hello Rio, quero a minha maldita mala de volta! o meu dinheiro! Para enganar as pessoas sabes falar, mas para ajudar esta pobre mulher, está quieto. Rio inútil, mentiroso e aldrabão!!
Olhava-a incrédula.
- Porque estás a olhar para mim dessa maneira? Pensas que estou a mentir, que hoje vou dormir debaixo dessa ponte ainda por cima ao pé desse Rio aldrabão.
Olha o que tenho nesse malão pesado, roupa e mais roupa. Dinheiro nem vê-lo. Não sei o que vocês veem nesses papeis e bocados de metal sujos ao ponto de roubar uma pobre mulher. Mas vocês lá sabem.
Tentei aguentar o meu riso, mas pelos vistos foi uma tentativa inútil.
- Agora ris-te. Costumam a dizer antes rir do que chorar. Ao menos a minha desgraça alegra uma pobre alma.
Essa mulher… não faço a mínima ideia como ela apareceu, á pouco esta ponte aparentava não ter ninguém, e falava como não fosse humana.
Bem… ao menos deixei de ouvir a Voz.
Observo-a.
Será que eu estou a imaginar isso tudo?!
Vejo uma espécie de um anjo.
Um anjo sem asas,
Nunca acreditei que os anjos tivessem asas.
Mas este... este está perdido e pelos vistos maluco da cabeça.
O que eu estava à espera? Só um anjo louco para me aturar.
Observo subtilmente sem dar muito nas vistas.
Cabelos de cor de prata e dourado e uns intensos olhos azuis, como lá dentro tivesse um oceano inteiro num belo dia de sol.
Olhos esses, fitavam me solenemente, a espera que eu dissesse algo.
Mas eu não conseguia dizer nada.
Ela retornou aos seus diálogos ridículos.
- Não oiças mais o Rio. Ele diz mentiras e oferece falsas promessas.
- Eu sei…. Respondi.
Como eu sei. E estive à beira de cair nele. Que estúpida que eu sou!
Irónico como era eu a dizer isso aos outros. Os humanos têm um estranho costume de pensar que tudo acontece aos outros. Mas chega uma hora que o bom e o mau chega a nossa porta.
Ela sorriu e olhou a lua com uma calma que gostava de ter. Olhou me, rapidamente, fintando-me intensamente com aqueles dois oceanos brilhantes que fazia me ficar intimidada e estranhamente segura.
Eu continuava em silencio, não sabia o que dizer. Só sabia observa-la.
Eu e o mesmo vício de observar as pessoas.
Sorria enigmaticamente.
Foi ela que cortou mais uma vez o nosso silêncio.
- Nunca oiças promessas de quem promete muito, mas no fim é só águas passadas.
Nunca essa frase vez tanto sentido na minha vida, mas não percebi em que contexto ela falava.
- Vamos, ainda tenho que pensar aonde vou dormir hoje. Vamos afastar-nos dessas águas falsas e más.
Ela deu-me a mão para certificar que eu não mudasse de ideias.
Devia ser alguém recém-chegado a esta cidade, que pelos vistos está a ter uma noite péssima como a minha.
Mas mesmo assim, de onde ela veio?...
Reparei que as suas roupas eram…. Um bocado deslocadas na era que vivemos, como se ela tivesse viajado no tempo uns anos atrás.
- Obrigada, a… – Mas logo fui interrompida pelo misterioso ser.
- Costuma-se a dizer que todos tem uma estrela, mas a tu…. Tu… tens a lua a vigiar-te noite e dia…. como um stalker. Hahaha.
É impossível não rir.
- Estavas a vigiar-me então. Quer dizer se não fosses tu... – mais uma vez fui interrompida.
- Sim, eu segui-te o tempo todo. Quer dizer…. Queria perguntar alguém aonde encontrar um guarda ou um polícia como vocês chamam. Mas esta cidade está entregue aos bichos.
Deserta, suja e perigos em cada esquina… incrível como esse planeta chegou…
Ah uns tempos atrás isto era um paraíso no qual eu envejara viver…
-há uns tempos?! – essa mulher deve estar bêbada só pode.
- Mas depois vi-te a falar sozinha… pensei que devias estar a falar com algum espírito.
Sei lá, podia ser que este espírito pudesse ajudar me.
- Estava a falar comigo própria. – Não sentia cheiro de álcool.
Começei a ficar com receio que ela fosse alguém louco a espera de uma oportunidade para me roubar ou fazer-me mal, é com cada perverso que encontramos pela rua que não admirava nada.
Ela está a mentir, e noto pela sua linguagem corporal, mas ela salvou-me logo talvez ela não seja tão má como a minha mente pinta.
Fui interrompida dos meus pensamentos por aquele ser outra vez.
- Não! estavas a falar com aquele maldito Rio. Senão não fosse eu, estavas a ir nas conversas dele.
- É verdade…. Obrigada… por teres acordado para realidade…. Salvaste da minha própria tempestade… ouve, esta cidade é perigosa demais para andares sozinha. Fica na minha casa. – respondi mas a minha mente analítica atacou-me ferozmente.
O que estou eu a fazer?!Típico meu!!!! A confiar em desconhecidos!!! E a convidar uma mera estranha para minha casa. Agora já é tarde para voltar atrás. Ai Quennie…. Não mudas essa mania de ajudar os outros sem pensar.
Aqueles olhos brilharam que pareciam que tinham luz dentro deles.
-Aviso-te que a minha casa é pequena, é um apartamento bagunçado, mas confortante, é sempre melhor do que dormires debaixo de uma ponte.
- A casa de um anjo é sempre grande para quem ama. Respondeu de rompante ela.
E começamos a andar. Tento tirar minha mão da sua, mas ela agarra ainda com mais força e olha para mim com uns olhos, que até assustava um Dragão.
- Só fico descansada quando chegares segura a casa!!- disse ela
- Tenho 28 anos, não sou nenhuma criança. - Respondi.
- Os humanos são sempre crianças até morrer! Quase gritou, tive que olhar para atrás e certificar não estávamos a ser observadas. Isso já estava a tornar-se numa conversa de malucos.
Vai ser bonito.
Enquanto andávamos lembrei-me que nem perguntei o seu nome.
- Que rude da minha parte, nem apresentei me haha. Chamo Quennie. E o teu?
- O meu nome é Lua. Sorriu gentilmente.
- Lua?.... – Quando pensei que agora iriamos ter conversas mais direitas, mas não….
- Sim querida, Lua como esta lua que vês a tua frente.
- Mas quem é que dá o nome Lua a uma pessoa? - devia estar a brincar.
- Não sei, pergunta a quem me criou, ao Universo.
A minha incredulidade notava na minha cara, porque ela passou resto do percurso a gozar com a minha cara.
Tenho uma tendência de lidar com pessoas estranhas, esta passou todos os limites.
As nuvens carregadas de chuva começam a cobrir a lua como esta tivesse cumprido o seu dever.
No dia seguinte quando acordei, ela já não estava em casa. Será que tudo foi um sonho, que aquela mulher chamada Lua era fruto do desvaneio da minha imaginação.
Mas não era um sonho, no fim do dia, estava ela a bater à porta. Senti um estranho alívio.
- Como correu a tua apresentação ao teu trabalho. Esqueci de perguntar em que trabalhas… quer dizer, não gosto de perguntar às pessoas o que elas fazem da vida… - mas devia, imagina se ela fosse alguma assassina.
- Não faz mal querida, sou escritora, escrevo o triste fado de todos desse planeta, com o meu poder, tento iluminar um pouquinho os seus caminhos. É uma missão complexa, a minha luz muitas vezes não chega aos corações de quem quero.
E agora tornou-se numa missão quase impossível. Preciso de alguém que dê vida às minhas histórias, alguém com magia no coração. Sou boa com palavras, mas péssima em desenha-las.
Não posso ser boa em tudo.
O meu coração disparou…
Havia algum tempo que queria dar escrever histórias, mesmo que não fossem as minhas histórias.
Histórias que ajudam a sarar as feridas do coração e da alma.
Mas ninguém pelos vistos precisa de ouvir histórias nesse mundo, histórias de inspiração, histórias de curar o coração, histórias de vida, hoje em dia, as pessoas só querem saber das desgraças alheias e do seu próprio umbigo.
Dei por mim a rir que nem parva.
Eu sou a pessoa que ela procura, mas não tenho magia no coração.
- Não vai ser preciso procurares… porque posso fazer isso. Dá uma olhada nessa caixa que tens ao teu lado e vês se é isso que andas à procura, só não tenho magia, mas quanto a isso, desenrasca-se.
Ela olhou-me, sorriu como se já estivesse à espera disso.
Desconfio que ela andou a ver as minhas coisas.
O que esperava eu metendo uma estranha em minha casa.
- Eu sabia…., eu sabia apostar um milénio contigo foi a melhor coisa, todos os humanos tem magia no coração, mas ninguém sabe.
- Um milénio? Haha.- lá vamos nós nas conversas sem nexo.
- haha esquece é uma maneira de falar…. Significa… seguires a tua intuição. Haha…- respondeu.
Tenho a certeza absoluta que ela andou a ver as minhas coisas, porque ela nem deu atenção aos meus trabalhos! Obvio que ela andou a vasculhar tudo.
- Está decido! Vais entrar na minha jornada, vou te ensinar como iluminar o teu caminho e dos outros, em troca, desenhas para mim. Justo?
- Ok…. Parece justo. Que venha as histórias. O meu lápis está ao ter serviço.
Devia pensar duas vezes no que vou meter-me, mas minha intuição dizia que não podia perder essa oportunidade.
E foi assim que aquela estranha entrou na minha vida.
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