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As Incertezas da Fortuna

Capítulo 5 [Parte 2]

Capítulo 5 [Parte 2]

Mar 25, 2021

[Continuação da Parte 1]


Sábados não eram dias seguros para as fugas de Mylène por conta da imprevisibilidade do movimento nas ruas, mas ela decidiu que sairia mesmo assim.

Há duas horas tentava descansar e tirar da mente a imagem da mãe desfalecida na cama. Tentava se consolar, repetindo para si que dali a um mês isso acabaria, mas a ansiedade só aumentava. Precisava sair um pouco da casa dos Dupain; necessitava de um tempo no seu Refúgio.

Às onze da noite, todos já estavam recolhidos em seus aposentos. Mylène, por outro lado, estava apenas começando a agir. Lentamente, ela se moveu pela casa até a saída da cozinha e, como esperado, uma de suas fiéis empregadas a deixara destrancada. Era a sua vantagem: ninguém desconfiaria que uma senhorita de família abastada costumava fugir de madrugada para estudar o que amava e, por isso, ninguém se preocupava em checar as portas, deixando a segurança da casa apenas com a vigilância noturna.

Mylène andou pelos fundos da casa com a mesma destreza e, atrás de um canto esquecido do estábulo, ficou aguardando alguns minutos até a troca da guarda.

Entretanto, e para a sua surpresa, a troca não aconteceu. Em vez disso, ela viu o portão dos fundos da casa sendo aberto e uma carruagem saindo. Na certa era seu pai indo para algum clube de cavalheiros, mas ela não precisava se preocupar pois isso facilitaria ainda mais em sua escapada. Mylène continuou até uma “passagem secreta” da cerca viva e saiu para a rua. Trajando um vestido de Rosane e com uma capa por cima dos cabelos, ninguém desconfiaria que aquela silhueta era a sua.

Com rapidez, Mylène se movia pelos becos. Sua adrenalina estava no pico não só por ter saído de casa sem intercorrências, mas também porque as ruas estavam mais desertas que o normal, provavelmente por consequência da explosão na Maison d'Argent.

Seus músculos só relaxaram e sua mente ficou menos alerta após caminhar por quase dez minutos até, finalmente, parar, em frente ao Refúgio.

A alma se enchia de paz ao pensar que passaria as próximas horas sem atuações, apenas rodeada dos livros que amava. Ela estudaria, colocaria um pouco de conhecimento em prática, tentando formular novas tinturas, e voltaria para a casa Dupain perto do amanhecer, quando acontecesse a próxima troca de guarda. Seria uma madrugada tranquila, seguida de quatro horas de sono profundo em sua cama.

Pelo menos era o que achava até começar a descer as escadas e notar um vulto sentado de capuz, escorado perto da porta do Refúgio.

O coração de Mylène se acelerou. A sombra não se movia, mas isso não a deixava menos assustadora. No pé da escada, ela pegou uma barra de ferro que sempre deixavam ali em caso de invasores. Ao se aproximar, sentiu um cheiro de carne queimada e sangue. Apesar da pouca iluminação de um poste mais adiante, era possível enxergar um homem desacordado.

Imediatamente largou a barra de ferro no chão, destrancou a porta do estabelecimento e acendeu uma lamparina simples, deixando-a do lado de dentro para não chamar atenção. Retornando para fora, ela tentou mover o homem para dentro sem sucesso: apesar de não ser musculoso como Gaspard, ele ainda era alto e pesado demais para Mylène. 

— Pense, pense, pense! — ela falou para si. — Calma. Será que está morto? — pegando a mão do homem, ela sentiu o seu pulso. — Ok, vivíssimo. Preciso acordá-lo…

Seu primeiro passo foi balançá-lo levemente, mas não houve qualquer reação da parte dele. Depois, tentou com um pouco mais de força. Nada mudou.

Enquanto considerava novas formas de acordar o estranho, Mylène se aproximou para avaliar melhor a situação dele, e suas narinas foram invadidas por um cheiro ainda mais forte de carne queimada. Não havia sinais de queimadura aparente em seu campo de visão, contudo, ao movê-lo um pouco para frente, a capa que ele usava de moveu, mostrando que grande parte do ombro esquerdo era de tecido chamuscado.

Ele precisava acordar logo para que ela pudesse tratá-lo. Porém, como poderia fazer isso?

Chacoalhou-o mais algumas vezes e tentou emitir o máximo de som que o horário permitia, porém o rapaz continuava desacordado. Percebeu que tinha apenas um jeito, precisaria usar o método da dor.

Um tapa no rosto, igual ao que aplicara em Gaspard mais cedo, seria o mais prático, mas o barulho poderia chamar a atenção da vizinhança em meio ao silêncio. Jogar um pouco de álcool na queimadura a ressecaria, então dispensou a ideia. Se estimulasse a dor tocando no ferimento, a pessoa acordaria gritando e chamaria a atenção da rua inteira.

As opções eram escassas, assim como o tempo de ação.

Mesmo sendo contraindicado tocar em queimaduras, Mylène não enxergava uma solução melhor. Precisaria apenas evitar o grito que inevitavelmente viria.

Voltando a entrar no Refúgio, ela deu uma olhada rápida pelas prateleiras. Estava tudo um tanto desordenado, indicando que provavelmente Heloise estivera ali por último; ela não tinha muita paciência para arrumações. Não tinha problema, o que realmente importava era que pelo menos havia um bom estoque de toalhas limpas. Ela pegou duas de rosto e começou a enrolar uma delas.

Em frente ao homem, Mylène decidiu que enfiaria uma toalha na boca dele. Não conteria o grito, mas abafaria o som. Por fim, ela se levantou, colocando a outra toalha em cima da queimadura e apertando o local com tudo.

O despertar foi tão imediato quanto o grito que seguiu.

Naquele momento, ela também se lembrou que poderia ter feito uma solução de vinagre e álcool e colocado sob as narinas dele, da mesma forma que sabia que faziam com a sua mãe todas as noites.

Bom, agora era tarde.

— Calma, calma!— ela sussurrou, já se movimentando para apoiá-lo pelo lado direito. — Eu posso te ajudar, mas preciso que você me ajude a levá-lo para dentro.

O homem pareceu entender a situação. Com a respiração bem acelerada, ele começou a tentar se levantar e quase perdeu o equilíbrio, mas Mylène o amparou. Devagar, os dois conseguiram passar lateralmente pela porta do recinto e ele se sentou na maca mais próxima da entrada.

A primeira parte havia sido vencida. A segunda estava por vir.

Mylène trancou a porta do Refúgio, apagando a lamparina simples e acendendo a mágica, uma raridade adquirida pela mestra que as recrutara num leilão secreto de artefatos mágicos. A luz iluminou completamente cada canto do local.

— Desculpe. Pode gritar agora se quiser.

Mylène se debatia internamente se deveria entrar em mais detalhes sobre o motivo dele poder gritar à vontade e concluiu que no estado em que estava, aquele homem não seria uma ameaça. Acrescentou:

— Essa lamparina tem um encantamento que faz com que ninguém nos ouça ou perceba que há luz aqui dentro.

Num gesto automático, ela olhou pela janela para ter certeza de que ninguém havia os escutado. Mylène não confiava inteiramente que a magia não acabaria a qualquer momento — nunca se sabia com objetos mágicos. E, se a magia havia acabado uma vez e só deixado vestígios, poderia decidir sumir por completo até dos poucos artefatos que ainda a carregavam.

— Obrigado, mas acho que já estou bem servido — ele falou com a respiração entrecortada.

— Certo… — Mylène finalmente se virou para encarar o homem. — Poderia me dizer o que houve com você?

— Conhecendo a minha fama, talvez a essa altura toda a capital já saiba.

Mylène estava prestes a perguntar o que ele queria dizer com aquilo. Mas não conseguia formular a pergunta, pois ele baixara o capuz, e agora, à sua frente estava um homem que ainda conseguia sorrir para ela de maneira charmosa, apesar da visível expressão de dor.

O que a deixou um tanto desconcertada.

— Certo, eu claramente estou desinformada porque não tenho a mínima ideia do que aconteceu com você.

— Não ouviu falar da explosão da Maison d'Argent? — ele perguntou incrédulo.

— Ah, sim. Claro, já é sabido que foi obra do De la…

Mylène não conseguiu continuar com a frase porque na mesma hora tudo se ligou. Maison D’Argent, a explosão com queimadura, o cartaz de procurado que vira mais cedo, quando estava na carruagem com Gaspard… Bom, as feições eram bem diferentes da pessoa na maca; o homem do cartaz tinha rosto longo, um nariz aquilino e sobrancelhas bem grossas. Realmente não tinha nada a ver com aquelas belas linhas faciais e o olhar caloroso. Porém, precisava admitir que o retrato falado havia acertado nas ondas do cabelo.

— Você é o De la Source? — ela perguntou finalmente.

Apesar da dor, o homem conseguiu soltar uma gargalhada rápida. Depois, virou-se para a Dupain e a encarou fervorosamente com seus olhos castanho-claros e a boca formando mais um sorriso.

— Por favor, senhorita. Sem formalidades. Você pode me chamar apenas de Henri.

Continua...

--

CRÉDITOS
Autora: Marina Oliveira
Edição e Preparação: Bárbara Morais e Val Alves
Revisão: Mareska Cruz
Diagramação: Val Alves
Ilustração: Fernanda Nia

Nota Extraordinária: Esta é uma obra de ficção e Mylène ainda está aprendendo as artes medicinais, não imitem o que ela fez em casa.

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"Mylène Dupain e Gaspard Orléans estão noivos!"

E em meio à nobreza de Chambeaux, os dois tiveram muita sorte de se encontrar. Afinal, eles não apenas se dão bem como também parecem satisfeitos com as vantagens que o casamento trará para ambos.

Porém "parecer" não é "estar"...

E isso fica mais evidente depois de um festival de primavera em que o destino desperta sonhos há tempos renegados e desenterra o passado. Mylène e Gaspard, à sua maneira, acabam embarcando em jornadas individuais, na esperança de logo se encontrarem novamente. Mas será que quando isso acontecer eles ainda ficarão satisfeitos com a vida que levavam antes?

Autora: Marina Orli
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