A menina se acomodou no acento da arquibancada e começou a olhar o jogo. Suas mãos carregavam uma latinha de refrigerante e quando ela colocou o canudo no meio dos lábios, ficou com a expressão carregada. Suspirou e olhou ao redor, a luz do Sol quase lhe impedido de ver com clareza as figuras distantes. Muitos meninos gritavam ali perto, emocionados com o jogo, talvez os únicos. Algumas meninas ao seu redor cochichavam sobre a beleza de alguns dos alunos que estavam jogando, elas exclamavam algo alto todas as vezes que um deles lhe olhavam, ou faziam alguma jogada campeã.
-Ah, que saco. -Sussurrou a garota, procurou dentro de sua mochila vermelha o fone e o celular, os puxou. Deixando a latinha no chão, começou a desembaraçar os fios do fone. -Eu enrolei direitinho, por que ficou assim? -Reclamou com ninguém em especial e finalmente pôde colocar o objeto no ouvido.
Ligou uma música eletrônica, deixou no máximo e procurou algum livro na sua lista de PDFs para ler, um romance lhe brilhou aos olhos. Ela nunca experimentou o sentimento de estar apaixonada, muito menos de ter um romance próprio, mas quase conseguia imaginar alguém a beijando, os lábios lhe deixando quente e mole, as mãos lhe puxando para perto lhe levando ao delírio. Ficaria tão tonta que o mundo ao redor sumiria, beijaria até seu fôlego se esvair e suas mãos se perderem por entre os cabelos do amante.
Olhou para cima e averiguou se ninguém estava a observando, não estavam. Respirou fundo e tentou se concentrar, de verdade, no livro. Riu amargurada, com o pensamento da irrealidade daquelas narrativas, eram mundos tão distantes, orbitas que não se encaixavam ao redor de Joy. Ela estava tão concentrada, que não percebeu um garoto lhe analisando em um canto um pouco distante dali.
***
Com um profundo suspiro ela se aproximou da porta, depois se afastou mais uma vez. Esfregou os próprios braços desnudos, se aproximando da irritação consigo, era uma situação nova e ela estava pensando diversos motivos ao mesmo tempo. Quando mais uma vez ia se aproximar da campainha, uma mão masculina passou pela lateral do seu corpo, alcançando a maçaneta sem encostar na garota. Com o susto Joy olhou para o sujeito, e se deparou com olhos extremamente claros a encarando.
-Vai entrar? -Perguntou ele em um tom grave. -Eu não sabia que você era amiga da Marie. -Ele estava perto o suficiente, para Joy sentir o perfume dele.
-Eu não sou. -Ela soprou as palavras atordoada, e se afastou da porta e dele também.
O mais alto levantou uma sobrancelha e abriu um pouco mais a porta, dando um vislumbre de dentro do local. Ambos recebendo o calor dos corpos que ferviam enlouquecidos com a música e as bebidas.
-E então... Vai entrar?- Perguntou novamente, os olhos a observando de cima a baixo, a deixando inquieta nos pés.
Ela se perguntou se não parecia adequada para uma festa. Talvez um pijama não fosse de certo algo muito adequado, a não ser que fosse uma festa do pijama. Ele estava vestido em uma calça justa, uma camisa comprida e um tênis nos pés. Joy observou também o cabelo brilhante, talvez por conta de um banho recém tomado em uma noite quente de primavera.
-Desculpa eu já estou indo. –Falou a garota e foi andando pela calçada.
-Hey! -Ela parou com o som a suas costas. -Você não veio para a festa? -Ela viu quando estava perto da rua, que o garoto tinha corrido até chegar ao seu lado.
-Eu queria... -Ela tinha certos planos, mas agora eles mudavam. Talvez estivessem mudando desde o momento que ela decidiu pisar fora de sua casa, a raiva sendo abrandada ao se aproximar da casa do outro lado da rua.
-Você estuda na Leigh Mark, não é?
-Sim... -Joy olhou pontos exatos do rosto do garoto, quando ele se aproximou mais, a luz do poste lhes dando uma ascensão. Seu brinco, seu cabelo, seus olhos claros e suas bochechas pintadas. E ao encara-lo se sentiu estranhamente aquecida, mas pensou ser vergonha. Vergonha por estar o analisando, ou talvez por ela não saber quem ele era, sendo que ele tinha uma noção sobre ela.
-A Marie já citou você uma vez ou outra. -Ele gesticulou com a mão, aumentando as dúvidas da menina. Incerta se já conversará com a Marie o suficiente para que ela a citasse para alguém, ela trocou o peso nos pés.
-Ah, eu não sei se...
A música pulsante a fazia pensar em ir embora, mas quando foi gentilmente se despedir, o garoto foi saindo de perto dela. Ele caminhou três passos e olhou para trás, seu olhar era de fina impaciência, falsa.
-Venha, a doida gosta de turistas. -Ele falou e se perfurou no meio dos corpos, deixando-a para trás.
Ela analisou a situação, pisando em suas sandálias finas, seu shorts sendo cobertos pela camisa longa, e seus cabelos despenteados caindo em seus ombros. E então entrou na sala, olhando tudo com uma meticulosa cautela, mas o corpo pleno em ansiedade, pulsante, assim como a música.
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