Começou a correr pela pista vazia, os pés lhe dando velocidade a cada passada. Seu cabelo liso voava com os movimentos, as madeixas estavam longas o suficiente para lhe tampar um pouco a visão, por isso Caio levou uma mão até os fios escuros e os jogou para trás.
-Ele pode tentar não seduzir ninguém uma vez na vida dele? -A voz de Mateus açoitou em afetação e fez a menina ao lado rir.
-Acho que é meio impossível. Ele nasceu assim. -Laís balançou a cabeça e voltou a ler seu livro.
-Esse garoto é impossível. Como pode alguém gostar de correr? -O mais velho falou, a sobrancelha erguida, os lábios se torcendo.
Ele observou Caio correndo na pista da quadra, com seus músculos delineando as roupas, o suor brilhando na pele e fazendo o garoto sentado na arquibancada ficar com a respiração disforme. A mais baixa que estava tentando retomar de onde parou no livro, - que estava achando tão difícil de compreender- praguejou brincalhona e o olhou novamente.
-Caralho, cala a boca. -Disse lhe empurrando de leve. Aguentou o amigo lhe empurrar de volta, jogando seu peso em cima da outra. -Eu quero ler.
-Pode ler, não tô com seus olhos. -O rapaz falou, e então voltou a ficar em silêncio. As íris escuras continuavam fixas no outro, correndo, alongando-se por entre as faixas na quadra.
Estava tão perdido voando nas linhas corporais do outro, que apenas se tocou que ele tinha virado para si e estava o olhando de volta, quando se desfocou do pescoço esguio e passeou os olhos pela face alheia. Caio o observava de longe, olhos estreitos, mãos em uma toalha secando a nuca. Ele se virou na direção da arquibancada e começou a correr novamente.
-Ele tá vindo aqui?- Mateus sussurrou, sua voz presa, punida pela sua descrença.
-Hum?- Os olhos de Laís se estreitaram mais uma vez com a interrupção. -Deve tá. -Ela demorou quase dez segundos para perceber o que o outro tinha dito, era o livro de física ou ele. Quando ela entendeu sua cabeça chicoteou pra cima.
-Ele... Está numa linha reta para cá, não é? -Os lábios de Mateus estavam colados quando as palavras saíram, abafadas. -Fodeu.
O peitoral se sobressaia na camisa e as e os shorts se apertavam nas coxas, os músculo desenhados. Laís olhou o garoto de cima a baixo e entortou a boca involuntariamente, se perguntando como esse poderia ser o crush de seu amigo. Que por sinal estava com a coluna ereta, -diferente do desleixo de momentos atrás- o peito estufado. As mãos dele estavam apertando de leve as coxas, enquanto ele não parava de pensar como seria bom ter aquele garoto na sua, possuí-lo seria uma realização, saciaria sua libido. Beija-lo, subir no seu colo, enfiar a boca no seu-
-Olá gente. -Caio chegou perto das primeiras fileiras da arquibancada e olhou para o casal de amigos à cima. -Vocês vão a festa da Marie hoje à noite? -O sorriso brilhante no rosto dele, passou a perfeita imagem de um modelo do "Creme dental Colgate Total 12".
Mateus ficou por um momento observando o sorriso tão bonito do outro, o seu próprio aberto. Mas então seus lábios vacilaram por um instante, ele processou a pergunta e voltou a olhar nos olhos escuros do outro. Seus pensamentos estavam voando em disparada. Marie? Ah sim...
-Nós vamos claro... Opa, não fomos convidados. -Mateus soprou involuntariamente.
Ele levou um choque após falar, tinha saído rude? As sobrancelhas dançaram no rosto angelical do outro, o que fez Mateus se desarmar novamente. Caio manteve a expressão leve, inclinou a cabeça para o lado, como se lembrando-se que não tinha
-Okay... Estou convidando então. Eu quero a presença de vocês lá. -Um sorriso quase dançou no rosto do outro. -Levem bebidas. Até a noite. -Com um aceno o rapaz foi embora, deixando os outros dois com cara de bobos para trás.
-Okay... Estranho... -Laís riu.
Era costume não serem convidados para as festas que ocorriam durante o ano. Eles já sabiam que não iriam a essa também, mas por algum motivo todos estavam indo. Marie era uma garota popular, mas que sempre gostou de incluir todos em seu campo de amizade. Entretanto a situação era diferente, nova. Eles nunca tinham se imaginado dentro desse campo de caridade amigável.
-Parece que fomos convidados. Bem, eu não posso comprar bebidas, então você compra. -Laís olhou de relance para o amigo e de volta para o livro.
-Você quer ir nessa festa?! -O agudo da voz de Mateus perfurou a cera do ouvido da outra e fez ela saltar um pouco no lugar.
-Fala baixo porra, quer me deixar surda? Eu uso fones no máximo pra isso já. -Ela riu e se levantou do banco.
-Eu não vou nessa festa. -O amigo a seguiu pelo meio dos bancos.
-Por que não? A gente nunca é chamado, essa é a primeira vez. Deve ser uma festa e tanto. -Ela jogou duas mexas do cabelo para trás quando caíram em seu rosto suado. Analisou como estava ficando calor novamente em Aracaju, quando seu amigo a puxou pelo braço.
-Nós não vamos ser bem vindos lá. Só vai ter gente...
-Rica e fútil. -Quando estavam quase saindo do gramado, um garoto lhes dirigiu a fala.
Ele usava uma calça furada e desbotada, uns pedaços de tecido pareciam cair depois de sofrerem debaixo de uma tesoura cega. O garoto usava uma blusa branca e que mostrava boa parte de suas costelas. E o cabelo cacheado cobria sua testa e parecia incomodar seus olhos, quando ele designou-os para Laís.
-O que quer dizer que... Você estará lá, Zack? -Laís não conseguiu evitar. O sorriso do outro veio em uma brisa e saiu por outra. -Tem razão Mateus, péssima ideia.
Mateus olhava enojado para o outro, pensando como alguém tão bonito poderia se vestir tão mal e viver com um cigarro na cara. Quando escutou a provocação da amiga, seu peito se encheu de esperança e então olhou para ela.
-De verdade? Não quer ir mais? -Ele perguntou com um sorriso e quase abraçou a amiga.
-Eu não irei. -A voz grave do outro chegou novamente a Mateus e ele quase o mandou ir a merda e não estragar nada. -Essas festas só tem garotas que pensam em como serem populares por assuntos fúteis em comum. -Ao dizer isso o outro puxou seu cigarro, -escondido pelos braços anteriormente cruzados- e tragou uma vez.
-E isso por que você deve ter as melhores pontuações sócio preservativas. -Laís debochou com um riso e se voltou para a cara de perdido de Mateus. -Ótimo então... Isso tudo quer dizer que ainda quero ir, Teu. E por sinal precisamos saber onde vai ser. -Laís sorriu para os dois garotos e saiu do campo.
-Vocês não poderiam simplesmente se pegarem e me deixar viver? -Mateus saiu atrás da amiga deixando o outro para trás.
Com um suspiro e um último trago Zack se desfez do seu terceiro cigarro daquela manhã.
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