Joy sentiu o cheiro forte de álcool, junto de cigarros e algo doce o suficiente para deixá-la enjoada. Procurou pelo garoto que a meteu no meio daquele furacão e ele já estava a uns dez passos de distância dentro da enorme casa.
-Joy! -A menina saltou nos pés, como se tivesse tomado um choque. Um rapaz desconhecido ao seu lado, riu. -O que você está fazendo aqui? -A pessoa que lhe chamou surgiu por cima de seu ombro.
-Ah. Oi Lais. -Gritou de volta para a ruiva e recebeu feliz o abraço amigável. O sorriso no rosto da colega deixou Joy mais confortável na multidão.
-Você chegou agora? Estamos fazendo um concurso de bebidas, se quiser participar. -Os gritos eram finos e concorria com a música para saber quem chegaria antes aos ouvidos de Joy.
Quando ela escutou isso, pensou se seria realmente melhor ir embora. Puxou dentro de si um mínimo de vontade para se embebedar... Não tinha, era uma vontade inexistente. Por isso ela olhou com uma face torta para a amiga e respondeu em seu ouvido.
-Eu passo. -Com um sorriso, ela trocou o peso nos pés.
-Você quem sabe, mas venha comigo. -A outra exclamou em seu ouvido e logo em seguida arrastou Joy pelo local.
-Hey! -Um garoto alto e de cabelos encaracolados, a chamou. Lábios finos e sorriso impecável a recebeu em seus braços.
-Mateus! E aí?- Com mais alívio ainda, abraçou o colega.
-Eu tô ótimo. E tu?-Joy balançou a cabeça e respondeu que estava bem. E então Mateus a olhou de cima a baixo.- Pelo que parece, não tem look perfeito para arrasar, né amada?! -A fala do outro fez a garota rir, e olhar a roupa que colocará para dormir, mas que por um acaso do destino, estava agora desfilando no meio de uma festa.
-O que importa é o conforto, não é mesmo? -Mateus riu e fez um sinal de "positivo" com a mão.
-Quer um pouco? -O grito fez a menor olhar para a mão do colega, que ele ergueu, e franziu o cenho.
O líquido balançava, reluzindo nas luzes coloridas dentro do copo transparente, porém azul. Podia ser qualquer coisa. Mateus viu a expressão de desgosto da outra e se aproximou com um sorriso brincalhão ao ouvido da outra.
-Pessoalmente falando, isso é horrível mesmo. Mas depois de uns goles fica muito mais gostoso. -Ao dizer isso, ele observou a garota fazer uma expressão de deboche. E então ela recusou com um balançar de cabeça e mãos.
A sua pergunta principal estava quase saindo pelos lábios, quando sentiu um braço se dobrar em seu próprio e a puxar para trás. Ela ficou levemente desnorteada no meio de tanta gente, e quando se virou, viu que era Marie. A garota, agora loira, a olhou com espanto e ansiedade, parecia que estava de frente com Deus em seu julgamento final. A garota preta não evitou o sorriso, com a engraçada expressão alheia.
-Hey! Louis disse que você estava aqui. Vai ficar? -A loira com cabelos curtos e lisos sorriu, por fim, soltando a colega.
Amigável. Até. Demais. Joy sempre se perguntou se era normal esse tratamento que Marie tinha com todos. Deu de ombros e respondeu a pergunta feita pela outra, dizendo que não sabia.
-Eu estava me perguntando, quem era a doida que me falaram na porta. Tô vendo que você planejou outra festa. -Joy sorriu abertamente por ter se dado conta da situação.
-Ah sim... Mas nós não vamos demorar muito, eu prometo. É uma festa de comemoração de férias, então espero que entenda. -Parecia que a outra tinha se preparada para se justificar à morena.
A mais alta apenas enrugou a testa, sem entender de quais férias ela estava falando. Olhou ao redor e percebeu que alguns eram seus colegas do colégio, os mesmo que junto a Joy e Marie, ainda tinham três semanas para as férias. Ao se virar para a outra, observou como ela estava ansiosa, rodando os pulsos em uma movimento nervoso, e quando Joy se inclinou para perguntar se ela estava bem, ela deu um sobressalto para trás.
Dois sugundos passaram em que Marie, com olhos arregalados, se sentia encurralada vislumbrando a face da outra, que parecia confusa. Ela voltou-se para os outros colegas que estavam sentados em um dos sofás da grande sala, conversando com outras pessoas, e puxou levemente a manga da camisa do rapaz de cabelos moleados.
-Licença rapidinho. -Disse para Mateus e Lais que estavam entusiasmados conversando com outras pessoas que Joy nunca vira antes.
Eles fizeram sinais com as mãos, aceitando o roubo da presença da colega mais velha. Marie agiu com movimentos rápidos, e puxou a outra pelo pulso, arrastando-a para o andar de cima.
-Estamos indo para onde? -Joy exclamou por cima das próprias exclamações da festa.
-Um lugar que não precisamos gritar! -Marie se virou em dois segundos para a outra, e manteve o passo pela casa.
Joy se deixou ser levada, pois era sua oportunidade de pedir o que queria. A escada era um espiral, mas no lugar dos corrimões e de alguns degraus, tinham pessoas, por isso ficou complicado não tropeçar em ninguém. A mais velha observou finalmente como a menina loira estava toda arrumada, e sorriu para com a constatação de que quebrou o código de vestimenta, que nunca tivera o acesso. Ela se perguntou durante todo o caminho, o que a outra queria consigo.
Estavam andando quase rápido pelo corredor quando a loira parou em frente a uma porta de cor cinza e Joy a viu irromper para dentro. Tinha um grupo de pessoas no quarto, em uma conversa animada, portanto mal prestaram atenção em quem entrava. Marie se virou para a morena e com olhos levemente arregalados, sorriu. Joy apertou os lábios, forçando um sorriso e esperou, curiosa.
-Desculpas pelo barulho. Eu não pude fazer na minha casa a festa, tive que pegar emprestada a de Juan. -A forma como a menina falava a fez parecer fútil e infantil. -Alguém ficou preocupado na sua casa? -Então era isso, pensou a mais velha.
-Só estava um pouquinho alto. Ninguém além de mim pareceu reparar. -Não tinha ninguém além dela dentro de sua casa. -Mas se puder...
-Então está bom. Desculpas, vou pedir para maneirar. -Marie rodou mais duas vezes o pulso e então apertou as palmas das próprias mãos juntas.
-Ah, okay... Mas esse lance de férias...
-Eu estou adiantando, pois irei viajar antes do fim das aulas. -Com pressa, a loira interrompeu a outra. Muito. Preparada. Joy não pôde controlar sua desconfiança. -Mas você vai ficar?- Joy processou a pergunta como um desafio. Traduziu como "Você poderia ir embora agora?"
-Quando eu for convidada quem sabe, Marie. -A voz foi sarcástica e pontiaguda, obtendo o controle da face da outra que se retorceu em uma careta e depois um sorriso rápido.
Joy ficou esperando a outra parar de encara-la como se esperasse as respostas para o mundo. E então finalmente a loira foi em direção a porta do quarto, parecendo se esforçar para um sorriso amigável, ao deixar a morena para trás. Antes de ir, se virou e perguntou:
-O policial viajou? -O rosto de falso interesse, não comprou para a mais velha.
-Pois é. -O interesse nunca existente em Joy pela amizade da outra, diminuiu consideravelmente.
-Fica ai e curte. Você é minha convidada.
Com dois segundos, Joy se viu estática dentro de um quarto desconhecido com pessoas desconhecidas e em pouca roupa. Balançou a cabeça analisando a situação e deu de ombros, não estava lá tão preocupada.
Saiu do quarto e se deu de cara com uma menina esverdeada e tomou um pequeno susto. O cabelo dela era vermelho sangue e tinha um vestido completamente preto a cobrindo. Ela estava conversando com um garoto, que estava de costas para Joy, mas ela percebeu que era o menino que a meteu dentro da festa. Estava indo em direção a eles, quando a ruiva percebeu sua presença e olhou para além do garoto a sua frente.
-Ta vendo, não fui a unica que entendeu errado. -Apontado um dedo, a Ariel Frankenstein, o que fez o garoto olhar para trás.
-Iai. -Joy falou chegando perto dos desconhecidos-conhecidos.
-Você também ficou sabendo que era uma festa à fantasia? -A voz da menina, que nunca vira antes daquele momento, ultrapassou o som que marcava as batidas no solo abaixo deles.
-Ah... Eu não sabia da festa, até que ela me acordou com um susto. -Disse e o sorriso amarelo paralisou a ruiva.
-Eu nunca disse que era uma festa a fantasia. -O garoto levantou uma sobrancelha para a outra. E com ambos olhando para a ruiva com pesar e divertimento, ela fechou mais a cara.
-Ah não. -Com um lamento, a estranha saiu pelo corredor abrindo e fechando diversas portas, até enfim encontrar o que parecia ser um banheiro. Ela ia limpar a tinta que fizera com tanto esforço grudar em sua pele.
-Parece que ela foi se limpar. -Joy constatou em voz alta.
Ela agora estava genuinamente se sentindo uma observadora de um novo mundo. Olhou para o garoto ao seu lado, com uma expressão menos martirizada do que quando entrara na casa. E o rapaz de cabelos claros sorriu levemente para isso.
-Você quer ir beber algo? -Ele ofereceu saindo de perto dela, caminhando de costas enquanto ia em direção as escadas. Uma bela cena de filme, pensou a morena.
Joy leu a sugestão no rosto alheio e evitou uma careta, pois por mais que ela quisesse começar um flerte, ainda se mantinha insegura se iria acabar bem. Sorriu depois de dois segundos pensando, e olhou para o teto, como se analisasse a pergunta.
-Não. -Disse enfim, e sorriu. Inocente como uma criança ao dizer que o bebê da tia era tão feinho como um joelho.
-Não? -O garoto parou onde estava, e Joy viu a máscara dele caindo por um segundo. Abriu mais o sorriso e balançou a cabeça em sinal positivo.
-Eu não bebo. -Fez um bico e levantou os ombros, junto dos antebraços, com as palmas voltadas para cima.
-Ah, okay.
Joy viu o outro desistindo, e percebeu que ela seguiu um caminho que sempre seguia: o afastamento. Afastar os outros, com as próprias preferências. Pensou que podia se esforçar um pouco, já que ele era um garoto, que por mais incrível que pareceu à ela, já havia lhe feito dois convites em uma mesma noite.
Ao avaliar a expressão alheia, de alguém que pensava em uma forma de fugir e nunca mais olha-la na face; o rosto dele pareceu bastante familiar por um segundo, e ela então ficou séria.
-Eu te conheço. -Uma afirmação saída sem querer, no lugar da interrogação.
-Talvez. -O outro a encarou e pensou se era verdade. Joy analisou as circunstâncias, tentando imaginar se era do colégio, de alguma loja de esquina, ou se simplesmente a expressão dele era familiar.
-Eu não quero beber, de verdade. Eu nem iria ficar, mas eu acho que sem querer, forcei a dona da festa me convidar para ficar, então... Me considero uma penetra terrorista. -Com uma careta se aproximou da parte livre no início da escada lotada de pessoas. Estava a dois passos do mais alto, e ele a encarou enquanto analisava o que ela havia dito.
-Eu te convidei também, então você é uma convidada especial. -O sorriso no rosto da outra, fez ele não comentar a profundidade de sua fala.
-Uau, encontrei a princesa e o príncipe, então? É um prazer vossa excelência. E mil. Perdões. Pela minha vestimenta. -Com um leve curvamento para a frente, a garota riu de suas próprias ações, sendo seguida pelo outro.
-Mas você está perfeita, não se preocupe. -O sorriso do loiro se referia a forma como o corpo parecia muito mais sensual naquela blusa grande, que tornava impossível saber da existência do short por baixo, a não ser que ela fosse se curvar, ou levantasse a blusa. Mas o garoto ficou mais contente assim, pois dava mais visão às belas pernas escuras da garota.
-Hum... Meus olhos são saborosos para observar também. -A face do outro se iluminou com humor, mas ele se privou de comentar mais do que uma desculpa. -Bem... Acho que posso ter achado uma solução...
O garoto esperou e então a outra se aproximou com um sorriso, e ergueu a mão até a altura do peito dele. Pareceu que ela estava pedindo algo, e ele ficou confuso, o que reagiu em suas sobrancelhas e canto dos lábios.
-Você me empresta seu casaco, por favor? Estou com um pouco de frio, e moro longe. -A face se moldou para um olhar pidão.
Ele olhou firme para os olhos escuros, evitando descer os próprios, mais uma vez, pelo corpo da outra. As curvas que saltavam e o fazia sentir vontade de esticar a mão e toca-la, o dizia que cobri-la era um erro. Ela cutucou de leve o peito do outro, em cima do casaco. Ele sentiu naquele instante, naquele sorriso, naquela expressão desafiadora, que a outra não estava muito interessada em bebidas ou dança.
-Mas você não sabe? A festa é a fantasia. -Sorriu e segurou o dedo alheio, tirando de sua roupa.
-Vai tomar no cu. -Exclamou a Ariel ao sair do banheiro e ouvir a frase do loiro.
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