-Vai pelada ué. -Mateus havia encontrado o estopim da paciência, e com a resposta que deu, apenas esperou as consequências sem medo.
A sobrancelha da menina quase voou para fora de sua face, junto de seu suspiro. Tentou se acalmar, mas ao sentir a mão formigando, apenas deixou ela seguir seu caminho até o braço do outro. Forte e certeiro foi o tapa, fazendo o maior resmungar e se afastar da outra com pequenos passos rápidos.
-Desculpa okay?! -Exclamando, ele voltou para o banheiro terminando de arrumar os próprios cabelos. -Mas vai logo, por favor!
-Pensei que você não quisesse nem ir! -Com o grito para o banheiro, a outra viu que estava estressada, finalmente. -Me deixa em paz.
-Levando em consideração que eu posso dar uns beijos hoje, melhorei minha visão da situação. -O jovem rapaz apareceu na porta do banheiro e apontou para a menina na cama, com uma escova em uma das mãos e um creme dental na outra.
-Minhas roupas são sem estilo por si próprias. -Respirando fundo, a garota apenas desistiu de qualquer roupa sua, e jogou tudo de volta no armário.
-Você menstruou não foi? -A voz abafada do outro saiu da porta do banheiro e influenciou um girar de olhos na menor.
Saiu porta a fora de seu quarto, escutando uma reclamação do amigo, e caminhou até o quarto de seu pai. Com um bico pontuando seu rosto, ela escolheu uma das camisas sociais do outro. Correu para seu quarto, se bateu com Mateus e o empurrou para o lado, seguindo para o banheiro.
Mateus estava quase chamando um carro para ir embora sozinho, quando a menina saiu do banheiro minutos depois. O cabelo estava mais liso do que sempre foi, avermelhado, e moldava o rosto livre de sardas da outra. Os olhos eram um dos maiores charmes dela, e cobertos de uma sombra preta, esfumados e marcantes, faziam o verde brilhar.
-Isso garota! Gostosa, mas atrasada. Vamos né amada. -O mais alto deu um impulso para ficar de pé e saiu pela porta do quarto, arrastando a outra pela mão.
-Ai calma! Minha bolsa e as bebidas. -Enquanto a outra corria o colar balançava no decote.
-Se eu soubesse que você iria demorar justamente hoje, teria feito meu esquenta sozinho. -O outro estava olhando para os lados procurando algo, apressado e frustado. -Cadê as chaves dessa casa, pelo amor de Deus?
-Segura! -Lais arremessou de longe as chaves, enquanto fazia os últimos retoques em sua roupa à frente de um espelho perto da porta.
-Vamos farrear! -O outro exclamou feliz, mas quando abriu a porta sua voz travou na garganta. -Assombração?
-Vai se foder. -O garoto todo vestido de preto expressou raiva na voz, mas continuou parado impedindo o outro de passar para o lado de fora. -Lais está?
-Zack? -A ruiva chegou ao lado do amigo e com uma expressão igualmente confusa, encarou o outro. -O que você tá fazendo aqui?
O moreno demorou um momento para responder e Lais pensou se ele estava planejando fazer uma invasão. O mais velho dos três apenas tentou absorver a visão de uma ruiva, que esbanjava uma fenda generosa, aonde os colares longos quase desviavam a atenção da silhueta dos seios, quase.
-Me pediram para te levar. -Respondeu com todo seu controle, enquanto tirava um cacho de seu cabelo da frente dos olhos.
-Para onde? -Mateus tentou acompanhar o outro.
-Para a festa, é claro. -Zack saiu da frente dos dois, e caminhou para fora da varanda da casa.
-Que festa? -Lisa não evitou rir por cima da pergunta.
Uma sobrancelha ruiva se ergueu quando observou o jipe à frente da sua casa. Ela acompanhou os passos do outro que passou direto para o carro e pensou nas possibilidades de isso acontecer em sua vida.
-A da Marie. Vamos logo. -O outro estava impaciente, mas isso não apressou os outros dois.
Eles estavam desconfiados, pois Zack não era o sinônimo de "confiante". Talvez fossem parar em algum lugar desconhecido, ou acabassem perdidos em uma ilha que fosse perdida.
-Quem te mandou Zack? -O rapaz abrindo a porta do carro, se sentiu incomodado com a forma como a outra pronunciou seu nome.
-Não precisam se preocupar, vou leva-los com o maior cuidado que posso. -Com muita teatralidade, o outro abriu a porta traseira do jipe, e direcionou com a mão para que eles entrassem.
-Olha se você nos deixar em um beco qualquer, eu lhe arranco os ossos, antes que possa fugir. -Mateus saiu apressado para dentro do carro, ansioso para ir até a festa mais comentada do ano.
Lais ficou estática no meio do gramado de sua casa, olhando com o cenho franzido para o moreno a sua frente. Ela queria entender o que estava acontecendo, mas não chegou a conclusões maiores do que: suborno.
-Você não disse que a festa era para pessoas ricas e fúteis. -A desconfiança alheia, fez o mais velho suspirar e coçar a nuca irritado. Era perceptível que a ruiva não deixava nada passar.
-É sim. -Com dois passos ele sentou no banco do motorista e girou a chave na ignição. O carro ligou e fez a garota se mover.
Lais ficou feliz de estar indo para a festa, mas a situação ainda lhe soava estranha. Quando se sentou ao lado do amigo, ele a puxou para um abraço de lado e sorriu.
-Então por que você está indo pra lá? E ainda mais nos levando. -A menina não conseguiu deixar de lado suas dúvidas, o que queimou ainda mais na irritação do outro.
-Eu fui pago, beleza? -Zack expressou saindo com o automóvel pela estrada.
-Oh estou surpresa. -Ela soou sarcástica, e isso fez o outro soprar um riso. Lais pensou que poderia jogar na loteria naquele dia.
-Bem, não significa que vou ficar. -Com esse último comentário a menina desistiu de questionar. Por enquanto.
-Vamos para uma festa! -O grito de Mateus fez um alarde dentro do carro, os outros dois saltaram de leve.
-Sim. -O riso de Lais contagiou o amigo, fazendo a atmosfera no ambiente amenizar.
***
-Elas são fofas sabe. -A voz da menina saltou por cima da música alta, e alcançou os outros da roda. Uns pararam para escutar, outros se focaram em suas próprias conversas paralelas.
-Que? -Um dos rapazes, Caio talvez, perguntou com o cenho franzido.
-Nada. Bem, vocês sabem se a Marie namora alguém? -O sorriso que outra garota presente lhe direcionou, fez Lais ficar confusa dessa vez. -O que?
-Você está interessada por acaso? -A garota, cujo nome Lais não lembrava, soprou em uma voz que mais parecia de uma criança. Uma criança em um corpo de um adulto, interessante.
-Como? -A ruiva se inclinou para mais perto, tentando saber se estava dentro da conversa ainda.
-Você se interessou pela Marie? -A voz da outra saltou para os ouvidos de Lais, mas ela ainda não conseguiu alcançar a razão das palavras.
-Não. Você está? -Com um sorriso a outra desistiu da conversa, abanou a mão em uma dispensa e se levantou para ir embora. -Okay. -Riu e voltou a conversar com Mateus.
-Amiga! Vamos jogar o jogo da garrafa! -A expressão alegre do outro fez ela sorrir também.
-Ah sim, por favor! -Ela respondeu e empurrou o ombro do outro, empolgada e ansiosa. -Deixa eu só ir ao banheiro galera, me esperem.
-Não demora gata. -Um garoto de olhos azuis soprou quando a ruiva passou por ele. Ela sorriu em resposta e saiu, ganhando cada passo como uma modelo.
Passar pela grande casa, no meio de tantas pessoas foi quase uma maratona, mas ela sucedeu quando chegou ao banheiro. Por sorte, como em um dia de sorte, onde a sorte lhe sorria, ele estava livre, e ela se perguntou novamente as possibilidades. Quando estava saindo escutou alguém chamar seu nome. Olhou alerta para o corredor cheio de pessoas, estreitou os olhos na luz colorida tentando ver quem fora. Mas a pessoa surgiu do seu outro lado, lhe assustando, fazendo-a saltar nos próprios pés.
-Sai dessa Zack. -O suspiro cansado da garota, pegou o maior em cheio.
O mais alto estava em pé a sua frente, em sua mão uma garrafa de cerveja, em seus lábios um cigarro. Mais um. Ele tentou pensar em um modo de não olhar para baixo, e analisar a fenda da roupa da outra. Esforço bruto, era um bom truque. Mas não conseguia canalizar seu esforço para evitar sentir novamente o perfume alheio. Era refrescante, e o fazia respirar fundo, em busca de mais.
-Você não disse que iria embora? -Com um sorriso sarcástico a garota trocou o peso dos pés.
-Mantenha o contexto de minhas palavras, que tudo dará certo. -O sorriso do outro parecia relaxado agora, diferente de mais cedo.
-Okay. Está perdido? Quer ajuda para encontrar o banheiro? -A outra falava sarcástica, enquanto teatralmente olhou para seu lado, onde estava a porta de onde havia acabado de sair. Ela sorriu e apontou para ela. -Oh, aqui está. Até.
-Lais, vem aqui comigo. -O outro não deixou ela escapar e a puxou pela mão na direção oposta da qual ela pretendia seguir.
-Ei! Espera aí! -Ela tentou acompanhar o ritmo, para não cair ao esbarrar nas pessoas.
O outro não esperou, apenas continuou pela grande casa até estarem de frente para uma porta de vidro. Eles entraram em uma enorme área externa onde havia uma piscina coberta e imitações de puffs, só que de madeira. Haviam várias luzes espalhadas pelo local, mas ainda estava mais escuro do que dentro da casa. Com um momento de percepção a menina ficou alerta e puxou seu pulso da mão alheia, fazendo o outro lhe olhar com confusão.
-Você me trouxe para o cantinho do acasalamento? -Ao falar as palavras a outra se sentiu idiota, mas continuou o encarando indignada.
Foi inevitável o outro olhar ao redor, em busca do sentido das palavras alheia. Quase rindo, ele se perguntou o que a fizera pensar nisso, e então ele sentiu o sangue sumir de seu rosto. Ela tinha percebido a verdade sobre ele?
-Como assim? -Ele soprou por cima da música, rezando que seu rosto não aparentasse o que estava pensando.
-Você me trouxe aqui para ficar comigo. -A acusação fez o outro paralisar.
Ele olhou o rosto alheio, -não conseguiu evitar, pois não havia esforço bruto para isso- observou os lábios rosados da outra. Com muita força a outra lhe deu um empurrão, que o fez desviar sua atenção de volta para o universo da conversa e não dos lábios dela.
-Por mais que você seja uma tentação, eu não tinha isso em mente. -Ele se sentiu um mentiroso, pois sempre tinha isso em mente. Mas não era, exatamente, o foco do momento para ele.
-Então o que você quer? Porque duvido que tenha sido para um carteado. -Por alguma razão ela estava curiosa e esperou o outro parar de inspecionar seu rosto e responder.
-Você não me deixou chegar onde eu queria, então vai ter que guardar sua pergunta um pouco mais. -Ele saiu a frente, mas a menina ficou, impassiva, observando o outro ir para um canto, onde do ângulo que ela estava, não conseguia ver o que ele via.
Com um último olhar para trás, ele mirou a garota, estacionada no lugar e com uma expressão de inimizade lhe gritando. Ele entortou os lábios para conter um riso e caminhou para fora da visão alheia. Respirou fundo e tirou sua jaqueta, sentindo cada vez mais o calor que nem mesmo sua cerveja gelada parecia amenizar. Se jogou no sofá, relaxando por um segundo e ansiou que a outra lhe seguisse, mas se preparando para que ela não viesse.
As estrelas pareciam mais brilhantes, era como se o céu houvesse iniciado sua própria festa e ao encara-las, Lais pensou se seria realmente uma estúpida ideia do outro. Com mais do que confusão ela andou decidida, pronta para qualquer confronto.
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