-Hey! -Mateus lhe chamou quando percebeu que a amiga não estava mais entre eles.
-Ela chega aqui pra ir embora? -Lais sentiu a insatisfação na própria voz ao perder de vista a menina que caminhou ao longe por entre as barracas e bares.
-O que houve? -Marie que não tirou por um segundo os olhos de Joy desde de sua chegada, questionou ao amigo após o abraçar.
A ideia de ter que desviar de duas pessoas em um mesmo lugar, enquanto tentava se relacionar com outras lhe fez quase chorar ali mesmo. Por mais que quisesse apenas ficar sozinha em algum canto, ainda se preocupava como iria parecer para os outros. Seus amigos entendiam, sabiam que ela era assim, por mais que não falasse com eles a algum tempo.
-Não deveria ter vindo. -Ela respirou fundo, caminhando para longe de todos.
***
-E então você mora em qual dessas? -Os olhos do garoto demoraram um pouco mais em sua face e ele sorriu de leve.
Joy observou alheia das intenções dele, mas se segurando para não ir embora a qualquer segundo. Apontou para uma casa do outro lado da rua, em uma esquina pouco distante. Ela conseguia escutar perfeitamente os sons da festa de sua casa, era quase como se o The Weekend estivesse cantando na sua cabeça em um feat com a Pablo Vittar.
-Naquela casa ali.
O rapaz de cabelos claros olhou de relance para a casa, um olhar rápido demais para Joy, quase como se ele não se importasse. O sorriso no rosto dele fora de surpresa e a outra apenas coçou a nuca sem entender o que ele tinha achado.
-Hum. Legal. -Uma resposta simples e rápida.
Joy se esforçava pra manter a conversa desde o primeiro segundo, mas o rapaz parecia bem tranquilo com os silêncios. Os mesmos que faziam a garota inquieta, a fazendo coçar a nuca, estralar os dedos e descamar o copo de plástico agora vazio, como uma casaca de banana. Estava sentido a exaustão chegando.
-Meu pai deu duro para compra-la. E adivinha só, sou a mais feliz inquilina. -Se sentiu falar, quase como se estivesse procurando qualquer "a" para não deixar o clima perdurar.
-Ele te deu a casa? -Agora ele pode se surpreender com mais sinceridade.
-É isso aí. -A mentira rodeando as palavras dela veio em sarcasmo. O loiro captou uma fração daquilo.
-Nem fodendo. -A descrença na voz dele fez a menina se sentir ofendida, quase precisando retirar o que disse, pois se sentiu uma boba.
-Pois, pode chorar de inveja, eu tenho uma casa com dezessete anos.
Não soube o porquê da necessidade de estar sendo petulante com aquele estranho, mas ficou satisfeita quando o viu virar os olhos em um certo desprezo. Jurou que podia o perturbar um pouco mais, mas não pensou nada que pudesse dizer naquele segundo.
-Tá, que seu papai deu. -O rapaz se virou para o outro lado para tragar mais uma vez em seu narguilé.
-Okay, eu senti. -Joy azedou sua voz.
-O que? -Ele perguntou com as sobrancelhas unidas, se distanciando não só com alguns passos, mas também em seu tom.
-Sua inveja ardendo. -A menina apoiou o queixo em sua mão e se recusou a olhar o outro.
Se tinha uma coisa que ela estava desgostado mais do que o barulho que lhe acordara em uma noite estressante, ou da aglomeração de pessoas, era aquele momento. Podia simplesmente sair pela porta e deixar o outro para trás, pois mesmo que ele dissesse saber quem ela era, duvidava que fossem voltar a se encontrarem.
-Você não quer mesmo provar? -Os cantos dos lábios avermelhados do garoto estavam levantados.
Joy olhou para ele e então espelhou sua expressão, não soube o porquê, não soube discernir se fora real. Negou pela quarta vez uma tragada e voltou para a imagem linda que a sacada dava para o bairro e sentiu que estava perdida em sensações. Estava dentro de um sonho, concluiu, era a unica possibilidade plausível. Com um "Vai entrar?", estava no mar, onde disse que nunca iria mergulhar, e por mais estranho que fosse- constatou com confusão- talvez nem tudo aquilo era dispensável de primeira. Talvez de segunda.
De esguelha observou o garoto fumando, e reversando com a bebida que ele dissera ser uma simples cerveja. Talvez fosse, talvez não. Mesmo que ela provasse, não saberia dizer o que era, de qualquer forma. Ele mexia a perna esquerda em um movimento repetitivo, talvez estivesse ansioso, talvez estivesse tentando acompanhar o ritmo da música dentro da casa. Joy estava pensando e repensando, sobre de onde havia reconhecido o garoto. "Michael, mas me chame de Mike", dissera ele, com uma imperturbável face firme. Com os cabelos loiros baixos, em um corte que fazia a atenção voar para a nuca alheia, e então como se houvesse um imã, subir pelo pescoço alvo e encontrar o brinco prateado. Ele é ridiculamente bonito, pensou.
Estava em uma festa, mas a unica coisa que conseguira até então fora se estressar. Se sentiu uma completa louca, pois parecia tão fácil para todas as outras pessoas, mas para ela estava ficando a cada segundo mais sufocante. Não tinha ingerido nada naquela festa, sua paranoia estava lhe rondando de forma caótica, mas o aroma no ar estava lhe deixando cada vez mais tonta. Uma coragem que ela sabia não possuir estava lhe rondando, e quando estava se afastando da sacada, ficou confusa com as imagens que se revelavam através de seus olhos, pareciam se mover mais do que deveriam.
-Você também... -Começou incerta do que queria falar e como aquilo soaria para o outro. -Fica com outras pessoas?
O rapaz tentou não rir da pergunta inocente e inesperada, procurando não parecer debochado para a outra. Tirou a caneta dos lábios, descartou o copo de cerveja em cima de uma mesa próxima e quando se aproximou novamente da mais baixa, a poucos centímetros, sorriu levemente para a face delicada e redonda da garota. Ela se virou para ele, tentando manter o contato visual, quando sentiu o cheiro de menta e perfume lhe invadir, fazendo seu nariz se contorcer de leve.
-Hum, sim. -Sua voz saiu firme, mesmo com o toque de dúvida. Joy observou a forma como os olhos dele refletiam a cor azul, e sentiu certa coragem saindo deles, e lhe inundar.
-Você ficaria comigo? -Ela se sentiu falar, como se sua língua, agora dormente, estivesse com vida própria.
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