Ela queria dizer para ele começar a decidir qual personalidade usar, mas via que Zack estava muito mais confuso consigo mesmo do que ela já esteve com ele.
-Só jogo se valer dois mil dólares para quem ganhar. -Soprou em meio a um riso, o que fez o outro se divertir.
-Eu não recebi o dinheiro do suborno ainda. -Ele lhe olhou de esguelha ao pronunciar. Sorriu contente ao ver a expressão de choque que a outra fingiu.
-Uau, eu valho tudo isso? -Zack quase se deixou levar para responder, mas por sorte sua mente lhe barrou antes.
-Isso foi pelo tamanho do Mateus. -Sorriu para disfarçar suas hesitações.
Por um momento a ruiva o olhou de forma grave, não aceitando a piada com seu amigo. Ela levantou lentamente um dedo, que poderia ser uma ameaça à vida, à família, ou ao órgão genital dele. O garoto esperou, sentindo uma estranha sensação em si, ele queria rir.
-Não. Não fale do meu amigo, eu arranco suas bolas. -A última opção fora a escolhida, o que fez Zack prender o sorriso nos dentes.
-Certo, desculpa. -Lais contentou-se com a forma como ele elevou os braços, defensivo.
-Tá venha aqui. -O chamado dela foi acompanhado de duas batidas no local vazio no sofá, da onde ele fugira a minutos atrás.
Ele tragou longamente o cigarro, preenchendo o peito não só com a droga, mas também com coragem. E então apagou o cigarro em um jarro de barro perto do sofá, lançou um olhar rápido para a menina, vendo-a sorrir quando ele se sentara no braço do sofá, distante o máximo que pôde.
-Se sente mais perto. -Ele demorou um momento, mas escorregou para o acento. Mas a menina lhe rodeou o braço com uma mão, o fazendo se aproximar. -Venha aqui, eu tenho cara de chihuahua?
Os olhos do outro estavam mais abertos que o normal, o que fez a menina sorri-lhe. Ele estava mais do que consciente dela esse tempo todo, mas sentir seu toque era um ápice que o pegou de surpresa.
-Não? Um pouco? -Ele se forçou na brincadeira, buscando clarear sua mente.
-Vai a merda, eu disse que era uma trégua. -O dedo lhe apontando fora um aviso, então Zack mordeu os lábios tentando mantê-los fechados e o menos sorridentes o possível. -Enfim, não fuja como se eu fosse lhe morder.
-Hum. Você me ameaçou a poucos segundos. -O garoto conseguiu fugir da imagem literal que as palavras dela sugeria, e então riu.
-Tá, hoje estaremos iniciando um momento de paz entre nós dois. E isso não está sendo influenciado pela bebida, eu acho. Mas enfim, te dou três dias. -As palavras disparadas saiam por entre gestos rápidos, cabelos ruivos ondulando ao vento e por fim um toque quente no ombro do outro.
Era impessoal, era uma forma de entrar em um primeiro contato amigável, após levantar a bandeira branca na gerra. O jovem de olhos perturbados e mandíbula tensa, quis entender, quis mesmo, o porquê de estar tendo uma pequena tontura com o toque. Se sentiu doente por desviar a real intenção, por isso se afastou de leve, tentando costurar um sorriso no rosto.
-Iai? Três dias? -Lais absorveu os movimentos do rapaz e tentou imaginar a possibilidade de realmente dar certo.
-Só isso? -Zack sentiu a voz rasgar na garganta e tentou recompor-la. -É fim de semana, só vamos nos ver na segunda agora.
-Pena. Pegar ou largar.
Eles se encaram por um segundo, tentando levantar uma amizade que fora destruída antes de titubear sobre ver a luz do Sol. Ambos percebiam a provável insanidade, as capazes insuficiências e as certas desavenças, dentro daquela relação. Mas eles já haviam tido muito mais da loucura dentro de suas vidas para descartar uma possível trégua entre eles, ele queria, ela queria.
-Eu topo.
Lais suspirou quando o outro desviou seus olhos, e se levantou em um pulo. Ela não quis extrapolar mais do momento, que já parecia frágil, então era hora de ir.
-Bom. Agora vou voltar para meu jogo. -Disse se arrumando na roupa amarrotada.
-Jogo? -Os olhos dele dispararam em sua direção mais uma vez.
-Da garrafa. -Zack lhe encarou confuso, se sentindo perdido, fora retirado da bolha de segundos atrás com força.
-Vai revelar todos seus segredos? Eu deveria ir ver.
-Não é verdade ou desafio. É dá uma giradinha, mira no cara certo e pronto! -Lais fez uma arminha com as mãos e disparou em Zack. -Só vem cara, me beija. Simples.
Zack paralisou no lugar se sentindo impulsionado a levantar e fazer o que ela disse, mesmo que não fosse para ele. Após um sorriso e um aceno ela começou a se afastar, uma rápida e forte agonia fez Zack se erguer do sofá e lhe chamar ao mesmo tempo. Ele sentiu, até antes de se lembrar o porquê, que não podia deixa-la ir. Ele a levou ao jardim por um motivo, que por fatores maiores ficou de lado.
-Espera por favor, eu queria...
Era banal agora, muito destoante da conexão deles, da eletricidade que corria em seus braços, tronco e fazia seu corpo se inclinar. A garota observou de perto o rosto alheio, como os olhos pretos tinham a mesma tonalidade dos cachos. Algumas molas de cabelo caiam na frente dos olhos dele, ela pensou em o ajudar tirando-os com uma mão, talvez fossem macios.
Ele suspirou e se sentiu zonzo, confuso, suas ações não pareciam mais suas. Ele se sentiu inclinar mais para a frente e sua voz sair por entre o eco de sua garganta, e então abriu mais os olhos em descrença, choque. Olhou para o chão, procurando entender através do verde da grama, se havia de fato dito aquilo. O silêncio da outra lhe afirmava que algo chocante saíra por seus lábios. Se firmou em uma breve prece, para que tivesse dito algo muito distante do que pensara ter dito. O que ele dissera?
-Eu te amo.
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