Hugo se acomodou em um chalé próximo aos nossos. Sua chegada me deixa ainda mais animado. O céu noturno se espalha por toda a paisagem e a temperatura começa a cair, mas ainda é um bom tempo para se estar usando apenas camiseta. Que é o que estou usando hoje. Iremos a Festa da colheita. É uma das principais atrações das Colinas Cinzas, o lugar onde estamos.
Todos que vieram comigo já foram. Vai ser uma celebração nos arredores do lago, que fica a quatro minutos de distância dos nossos chalés. Hugo e eu decidimos ir juntos e ainda estou esperando por ele, encarando as malas de Caio no chão. O teto baixo e as paredes rústicas causam uma sensação sufocante. O tempo parece congelar. Nada importa até que Hugo apareça pela maldita porta.
— Uri! Vamos? — depois de, Deus sabe lá quanto tempo, Hugo aparece me gritando. Suspiro aliviado e vou abrir a porta, dando boas vindas a Hugo e a noite, que já me parece espetacular.
— Vamos. — respondo. O cabelo dele cresceu um pouco e pequenas mechas cobrem a parte superior de sua testa. Ele está usando calça jeans rasgada e uma blusa azul de manga comprida. E, apesar da roupa simples, Hugo não é nada menos que encantador.
— Você está lindo. Meu Deus, você está TÃO fodidamente lindo. Estou feliz que não possa ler minha mente. — ele diz, morde o lábio inferior e ergue as sobrancelhas. A maneira como ele faz isso deixa meu corpo imediatamente mais quente. O frio, que já não era um problema, não significa nada agora.
Não é mais tão difícil conversar e entrar nos flertes de Hugo.
— Eu adoraria saber exatamente o que você está pensando agora, Go. Porém, não acho que seja tão diferente do que EU estou pensando. E, acredite, não é nada de bom. — pisco para ele e começo a sorrir. — A propósito, você também está lindo. — lindo para caralho, penso.
Ele se aproxima de mim e chega seu rosto incrivelmente perto do meu. Posso escutar sua respiração, que, ao contrário da minha, está totalmente controlada.
— Se o que está pensando não é nada de bom, o que fizer também não precisa ser, Uri. Estive fora por duas semanas, que pareceram uma eternidade, e, com certeza, não preciso que você seja um bom garoto. Ao menos não essa noite. — Hugo segura meus braços enquanto meu corpo enrijece, todas as malditas partes.
Ergo ainda mais a cabeça, em desafio, e o encaro nos olhos, com mais intensidade do que já olhei para alguém em toda a minha vida. Obrigo minha respiração a se estabilizar e tento soar nada menos que confiante quando digo.
— Go, nunca, em nenhum momento da minha vida, eu fui um bom menino. — pego os braços dele e os afasto, me sinto incrivelmente vulnerável sem a sensação do toque dele. E me sinto incrivelmente vulnerável toda vez que ele me toca. Ofereço minha mão para ele, que a segura sem hesitar. Ele está sorrindo selvagemente antes de se virar para encarar o caminho e começarmos a caminhar.
Arcos feito de folhas de bananeiras e tochas enfeitam todo o caminho. Além de luminárias dispostas pelo chão. Conforme andamos debaixo de arco por arco, nosso aperto fica ainda mais firme. Sinto Hugo apenas pela palma de suas mãos. Meu coração acelera e começo a brincar, percorrendo a mão de Hugo com meus dedos. Ele olha pra mim e sorri. Depois aperta minha mão de modo que não consigo mais mexer os dedos e então suaviza. É a vez dele acariciar. Não presto atenção em mais nada no resto do caminho.
Quando chegamos a festa, centenas de mesas redondas, circundadas por luminárias, e repletas de comida e decorações entram em nossa vista. Nativos apresentam seus números no palco e todos parecem se divertir ao ver o malabarismo com tochas e, depois, um belo número de música instrumental. O lago brilha e reflete grande parte das luzes. Não demora muito para localizarmos Luna e o resto do pessoal. Ela pisca para mim, mesmo de longe. Percebo que ainda estou segurando a mão de Hugo, mas não vou soltá-la.
— Oh, que garoto lindo. — diz Tia Anna quando nos sentamos na mesa junto com todos. Hugo fica envergonhado, o que não é um acontecimento muito frequente e eu sorrio mais ainda.
— Obrigado, senhorita. — ele diz.
— Ah, e tão educado também. — ela sorri e segura as mãos de Hugo, que não seguram mais as minhas entre as suas. — Estou feliz por ter se juntado a nós.
— É muito bom ter companhia pra participar da Festa da colheita, estou agradecido por me deixarem passar a noite com vocês. — ele dá um daqueles sorrisos encantadores e eu nem sei mais qual é a porra do meu nome.
— Sim, claro. — tia Anna diz atrapalhada e com um sorriso frouxo. — Mas estava me referindo a nossa família.
Hugo, que estava bebendo um pouco de garapa, engasga.
— Eu... Uri... nós... não... — ele tosse a cada palavra pronunciada, dou tapas de leves em sua costa e logo ele se recupera. — Nós não estamos... — ele começa a dizer, mas tia Anna o corta.
— Ah, por favor, não sejam modestos. Modéstia não combina nada com os jovens de hoje em dia. — ela começa a rir e consigo ver muito de Luna, que está revirando os olhos agora, por trás dos gestos de tia Anna.
— Mamãe, acho que você deveria cuidar da própria vida agora. — Luna diz e viro o rosto para o palco.
— Lu, não fale assim com sua mãe. — tio Marcelo diz. Mesmo estando de costas pra mim, sei que Luna está revirando os olhos novamente.
— A dança de agradecimento já vai começar. Estou indo. — Caio diz, e dirige um sorriso brincalhão para Hugo antes de ir para a pista de dança, feita de grama verde adornada por folhas multicoloridas, e se juntar a outras dezenove pessoas para a dança típica. Que envolve bastantes pulos e balanços de quadris. Eles fazem uma grande fila, segurando um nos outros e os índios começam a tocar seus instrumentos, fazendo um barulho super animado. Caio sorri durante toda a dança. Após um tempo o grupo se desfaz e outro deve tomar seu lugar. Caio retorna, Luna e seus pais se dirigem a pista. Faltam duas pessoas para completar.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, a mão de Hugo se fecha ao redor do meu punho. Ele não diz nada enquanto permanece em pé, assomando sobre mim. Eu assinto e logo estamos correndo atrapalhados em direção a fila. Quando nos encaixamos, as mãos de Hugo na minha cintura e a música ficando mais alta, me sinto incrível. Sinto como se nunca mais fosse sentir dor novamente. Sinto como se estivesse apaixonado. E estou. Viro para trás e sorrio, enquanto me remexo. Hugo sorri também e explora meu corpo com seus dedos. Nos entregamos a alegria da dança sob as estrelas e, por um único minuto, não preciso de mais nada.
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