— Vai se juntar aos meus pais para a festa? — Caio pergunta se sentando na beirada da minha cama.
— Na verdade, Cá, tenho outros planos pra essa noite. — digo enquanto decido qual das camisetas que eu trouxe me serviriam melhor essa noite. Acabo me decidindo por uma camiseta azul de botões, mangas curtas e a deixo aberta na região sobre a clavícula. — E você, vai se juntar a eles?
— Acha mesmo que eu perderia uma noite de comidas e danças nativas? Você me conhece, El. — ele diz e se põe de pé. Ajeita os óculos de um jeito despreocupado. — Mas, como também te conheço, sei que passar uma noite com Hugo deve ser o que você mais desejou desde que o conheceu. — ele me olha de uma maneira zombeteira e ergo as sobrancelhas, depois dou de ombros.
— Não é esse tipo de noite. Vamos apenas conversar um pouco e depois retorno para cá. — minha voz sai perfeitamente neutra e controlada, porque é verdade. Não é como se eu esperasse que Hugo fizesse algo comigo. Não que eu não queira senti-lo, sentir aquela boca, aquele corpo. Mas não será essa noite, sei disso.
Caio assente e se aproxima, tomando minhas mãos nas suas. Ele está usando um macacão verde-água e uma bonha azul, coroando os cabelos que caem em cascatas.
— Você sabe que merece amar e ser amado, certo? — sinto a suavidade de seus dedos e de suas palavras. Fico sem respostas e apenas o encaro surpreso. Ele continua. — Sei que não deu certo algumas vezes, mas dará agora. Posso sentir isso, você pode também. Hugo é respeitoso, carinhoso e amável e sei que ele cuidará bem de você. Não aceito menos que isso. E, El, estou contente por ter ele na sua vida. Não tenha medo de ser vulnerável dessa vez. Mesmo que pareça que todas as suas partes se desintegram apenas para uma pessoa, sei que Hugo vai sempre o manter inteiro.
Nossas mãos desentrelaçam e ele olha profundamente para mim, ainda não consigo encontrar palavras e sinto meus olhos marejando. Me aproximo e o envolvo em um abraço apertado. Quero fazer com que ele sinta todas as palavras que não pude dizer. Ele dá batidinhas gentis contra minha costa e interrompe o contato.
— Tem algo que eu gostaria de dar a você. — ele diz enquanto vai na sua direção do quarto e remexe na mala que trouxe. Depois de um tempo, volta com um colar na mão. A luz reflete na pedra laranja e a faz brilhar, envolta por um cordão preto resistente. É lindo. — Comprei quando comprei o da Luna, mas não tive oportunidade de entregar.
Pego o colar e o reviro em minhas mãos, absorvendo a beleza da pedra e me sentindo contente por ter ganhado algo tão significativo. Passo um tempo apenas observando calado e Caio acaba pigarreando.
— Você gostou? — ele assume uma expressão insegura. Como se eu pudesse menos que amar um presente como esse.
— Eu amei, Cá. Obrigado, de verdade. Significa muito pra mim. — digo contemplativamente.
— Estou contente então. — ele ajeita o macacão e olha pra mim de uma maneira brincalhona antes de piscar. — Vou me encontrar com os outros agora, antes que Luna venha atrás de mim. — ele diz e se vira para porta.
— Tarde demais, mocinho. Aqui estamos. — Luna atravessa o portal e Amanda está em seu encalce. Ambas usando vestidos curtos e que realçam bem as curvas de cada uma. Amanda optou por um amarelo, que chama atenção para sua pele como o anoitecer e seus cabelos em cachos selvagens e perfeitos. Luna está de vermelho e seus cabelos estão trançados, nada menos que magnifica. Ela oferece um olhar debochado para Caio. — Quando for ser meloso, por favor, faça isso dentro do horário permitido. Não podemos esperar por você a noite toda. Tinha apenas uma namorada pra apresentar aos nossos pais, não pude cobrir sua ausência por muito tempo, maninho. Então venha conosco e arraste essa sua bunda para fora desse chalé.
Caio revira os olhos e Amanda sorri. Os três entrelaçam os braços e começam a sair do chalé, mas Caio vira a cabeça e diz.
— Espero que sua noite seja tão boa quanto a nossa.
— Irmãozinho, claramente será melhor. — Luna diz sem se virar. Em instantes, eles somem na noite e decido que é hora de caminhar até o meu ponto de encontro com Hugo.
Ando pela noite iluminada até chegar aos bancos de pedra e estátuas de guerreiros indígenas com seus arcos e flechas voltados para a lua. Foi onde marcamos de nos encontrar. Deixo o vento soprar no meu rosto, tranquilamente e fecho os olhos. Quando os abro, Hugo está na minha frente. Usando uma camiseta roxo justa e calça marrom. Ele está lindo, como sempre. Sorri pra mim e não posso evitar sorrir de volta.
— Afim de um passeio pelas colinas? — seus olhos têm uma suavidade incrível e suas bochechas cheias me fazem querer apertá-las.
— Pensei que nunca fosse sugerir, meu caro. — me levanto, seguro os ombros dele, me aproximo de seu corpo, alcançando seu ouvido e digo, não tão baixo assim: — Mas não sei se vai adiantar me levar para ver como esse lugar é lindo durante a noite. Porque, Go, eu não acho que poderei olhar para qualquer coisa que não seja você. — me afasto, mas mantenho a cabeça erguida e um sorriso de lado. Hugo abre ainda mais seu sorriso.
— Obrigado. — ele diz. Seus olhos me devoram enquanto ele balança suavemente a cabeça para ter o máximo de ângulos meus possíveis.
— Você está lindo, achei que precisava dizer isso. Não precisa me agradecer. — Ele chega perto, passa seu braço ao redor da parte inferior da minha coluna, quase tocando minha bunda, e me puxa para si.
— Se continuar a dizer coisas assim, Uri, eu quem não vou querer subir essas colinas. — estamos ambos consciente do quanto estamos próximos. Envolvo Hugo nos meus braços também e sinto seu corpo pressionando ainda mais contra o meu enquanto nossos olhares parecem dois imãs, nunca se desgrudando.
Interrompo nossa proximidade e ando um pouco para colocar alguma distância entre nós antes de assumir uma expressão maliciosa e fixá-la em Hugo.
— E, senão nas colinas, onde você subiria, Go? — mantenho minha expressão imparcial e Hugo vem caminhando na minha direção, seus olhos brilhando em aviso. Continuo a andar, me obrigando a lembrar como dar um passo depois do outro. Posso jurar que o calor que sinto é fruto de Hugo me seguindo e não desviando a atenção de mim nem por um maldito segundo. Mentiria se dissesse que não estou amando isso.
Quando enfim chegamos na colina mais próxima, Hugo me alcança e segura minhas mãos fortemente, como um aviso. Não me deixe para trás novamente, não me provoque se sabe onde isso vai levar, é o que diz. Mas sua expressão continua sorridente. Me apoio cada vez mais nele e, depois de um tempo sentindo o calor percorrendo nossas mãos, estamos no topo. Nos sentamos e encaramos a noite e a festa abaixo. Tudo brilha com milhares de cores contra o céu escuro e é lindo. As estrelas, as lanternas, as pessoas e... Tudo. Estar aqui com Hugo torna tudo bonito.
— Acho que acabei subindo as colinas no fim. — ele sorri e passa seu braço ao redor do meu pescoço, me aproximando ao seu corpo. Sinto ele firme e quente contra mim e posso jurar que meu sangue fluí mais rápido. Ele apoia o rosto no meu e nossas respirações saem como uma só.
— A noite está apenas começando, Go. — ele solta uma gargalhada e me aperta mais ainda, de uma maneira gentil. De uma maneira desejosa. Viro e o encaro.
— Posso deitar nas suas pernas? — minha voz sai muito mais segura do que realmente me sinto.
— Você nem precisa perguntar coisas assim, vá em frente, Uri. — ele estende as pernas e eu me deito. Seus dedos começam um carinho suave pelo meu cabelo e me acomodo ainda mais, como um cão recebendo afago.
Ficamos assim por horas, encarando o mundo que brilha ao nosso redor e nos sentindo vivos. O vento ameno passa por nós e Hugo me puxa ainda mais perto, querendo me manter aquecido. Suas carícias agora percorrem meu rosto e estamos nos encarando indecisos sobre os próximos passos. Antes que eu possa decidir o que fazer, Hugo se pronuncia.
— Pode vir até meu quarto? Tem algo que eu quero que você veja. — ele quase implora e eu não recusaria mesmo se ele tivesse feito o pedido de uma forma selvagem. Porque é assim que me sinto sob o luar, sobre a colina e com os dedos de Hugo me acariciando. Nunca quis ser tão selvagem.
Descemos a colina, levando muito menos tempo do que levamos para subir e ele segura meus ombros, me deixando bem ao lado dele, durante todo o percurso. Quando estamos na porta do chalé em que ele está dormindo, nenhum de nós se detém. Apenas atravessamos o portal, sem hesitação.
Hugo juntou as duas camas, já que está ocupando o quarto sozinho, um violão espera, solitariamente, sobre os lençóis.
— Fiz uma música para você. — Hugo diz após se sentar na grande cama, formada por duas menores, e sinaliza para que eu me junte a ele. — Quero que a escute. — ele diz e me acomodo perto dele.
Seus dedos começam a dedilhar o violão, com a experiência de quem já o fez incontáveis vezes, e sua voz, senhor, que voz, se junta ao som. Ele canta sobre o dia em que nos conhecemos e sua voz faz o sol brotar do meu interior, ardendo, queimando e brilhando. Passa pelo dia em que o escolhi numa multidão de mãos erguidas, canta sobre tocar uma cicatriz e sobre amar alguém que o faz ser o garoto que sempre sorri. Lágrimas inundam meus olhos e, quando ele termina, me atiro nos seus braços. Apenas ficamos ali e deixamos o tempo continuar, ele me abraça contra seu peito e suspira.
— Espero que não tenha sido tão ruim a ponto de você se lamentar. — ele diz rindo e eu dou um tapa suave no seu peito.
— Idiota. — encontro seu olhar, ainda abraçados. — Isso foi lindo. — digo por fim.
Deito a cabeça no seu peito e deixo tudo o que vivemos até agora me alcançar, mal percebo a sonolência e meus olhos se fechando. Hugo e sua serenidade me fazem simplesmente derreter contra sua pele firme. Ele passa as mãos pelos meus cabelos novamente e depois meus olhos simplesmente se fecham. Sei que terei bons sonhos.
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